Se hovesse, no começo da noite do último sábado (26), uma espécie de censo do tipo, praticamente toda a classe artística do Recife poderia ser entrevistada durante as horas finais da Virada Cultural pelo Teatro do Parque, o prédio que completou 102 anos de fundação no último dia 24 de agosto e, numa comédia seguida de equívocos, segue em reformas sempre adiadas nos últimos sete anos. Representantes de todas as linguagens realizaram performances e participaram do ato de protesto pela reabertura urgente do teatro.
“Esse teatro é responsável não apenas pela minha formação cultural, como pela de várias pessoas de várias épocas. Acredito que será muito difícil recuperá-lo e é muito triste tê-lo ainda fechado. Aqui, não apenas tive momentos importantes como ator, como assisti a filmes e shows muito importantes para a minha formação”, dizia, no meio da multidão que lotava metade da Rua do Hospício, o ator Germano Hauit, 80 anos.
O teatro faz parte não apenas da memória artística, mas afetiva da cidade. “Quando eu era do DCE da Federal, cheguei a trazer Elis Regina para um show aqui. Meu filme, Amarelo Manga, foi visto por 12 mil pessoas aqui. Lembro que Cidade de Deus teve tanto público que a polícia precisou organizar as filas”, disse o diretor Cláudio Assis, sobre o tempo que o teatro, símbolo nacional de democratização do acesso à cultura, fazia sessões de cinema ao preço simbólico de R$ 1 até ser fechado. “Esse teatro nessa situação não é apenas um símbolo do descaso que o Recife vive em relação às instituições culturais, mas do descaso com a memória e a vida social da cidade como um todo”, pontuava a atriz a bailarina Sílvia Góes. “Era um dos poucos espaços onde trabalhadores e estudantes podiam ter acesso a bons espetáculos”, completava a também atriz Márcia Cruz.
Logo no começo da manhã, às 10 horas, o movimento teve início com a leitura de um manifesto pelo ator Cláudio Ferrario e apresentações de circo e dança. Mesmo com a chuva, cerca de 50 pessoas já acompanhavam o início do ato e o número só crescia com o passar do dia. À noite, centenas de pessoas lotavam a rua.
Sem acesso ao cine-teatro fechado há 7 anos, os artistas ocupam diferentes pontos da via. Alguns se apresentam no Parque Henrique Celibi, um pequeno palco montado em frente aos portões fechados do Teatro do Parque. Outras, no Parque Poético Clarice Lispector. Algumas ações acontecem na rua e nas calçadas, o projeto Som na Rural também fará parte da ação. A variedade de linguagens e escolha dos locais são bastante simbólicas.
O ator Cláudio Ferrario, que leu o manifesto elaborado pelos artistas, afirmou desejar que este dia dedicado ao Teatro do Parque fosse um "marco zero" para as manifestações por outros espaços culturais da cidade - não apenas para que eles fiquem abertos à população, mas que recebam a manutenção adequada. “A prefeitura precisa entender a importância desse espaço para além dele mesmo. O teatro do Parque não é importante apenas para a vida cultural, mas um espaço importantíssimo de cidadania e convivência”, disse ele, já à noite, quando leu pela segunda vez o manifesto.
Uma das primeiras atrações a se apresentar no Palco Parque Henrique Celibi foi a Pantomina Cia. de Dança. "O Teatro do Parque fez parte da minha vida de bailarina. É muito triste para mim ver a qualidade que ele tinha e como ele está hoje. Por isso fiz questão de estar presente nesse movimento pela reabertura", afirmou a professora de dança Taynanda Carvalho.
"Meus alunos, por serem mais novos, só conheceram o Teatro do Parque quando ele estava entrando na pior fase e se prontificaram a vir também. Foi muito gratificante para mim ver o interesse deles. O Teatro do Parque faz parte da vida da cidade e a gente está querendo resgatar isso", completou.
O restaurador Sizenando Antônio Pereira foi ao local acompanhar a Virada Cultural. "Está sendo muito legal, principalmente a reivindicação, que é muito importante. Tem muitas coisas para serem restauradas na nossa cidade, muito patrimônio para ser cuidado. Parece que a turma não está muito preocupada em dar vida a esses patrimônios históricos", avaliou ele. Nos intervalos das apresentações, a organização lembrava que era preciso deixar a rua limpa, indicando o local onde estavam dispostos o coletor de lixo e os banheiros químicos.
Vida no Bairro
Enquanto a Virada Cultural começava, algumas pessoas já apareciam nas janelas da vizinhança ou paravam em frente às lojas e bares da rua para acompanhar a movimentação. Comerciante da área, Andreza Costa, que também assistia a apresentações no Teatro do Parque, falou sobre como o espaço cultural era importante para a região. "Antigamente isso aqui ficava cheio, depois que o teatro fechou a rua não é mais a mesma. A alegria daqui era o Teatro do Parque", afirmou.
"O comércio caiu também. Aqui tinha barzinho funcionando de domingo a domingo, agora não. Vai ficando deserto, meu pai (que tem uma banca de lanches e bebidas) mesmo agora fecha mais cedo. Com o teatro não, era outra coisa", completou Andreza. Nenhum único representante de Prefeitura do Recife compareceu ao ato. Com a última reforma interrompida depois de a empresa contratada não cumprir os serviços acordados, a atual gestão da Prefeitura do Recife anunciou um novo edital e, ao custo aproximado de R$ 12 milhões, promete entregar o teatro em 2018. Segundo Diego Viana, presidente da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, uma nova empresa deve ser contratada até dezembro. A prefeitura não tem permitido o acesso da impresa às instalações internas para verificar a condição geral do Teatro do Parque.
Programação Virada Cultural do Teatro do Parque
Parque Henrique Celibi( Palco Principal) e Parque SOM NA RURAL
10:00 Leitura do Manifesto em prol da reabertura do Teatro do Parque com cerimônia de lavagem da calçada e cantos de prosperidade com Otiba.
10:15 (Circo) Malabares com a Família Malanarquistas - Marciano Pretinho das Antenas Longas.
10:25 (Circo) Intervenção de Palhaçaria (Companhia Brincantes de Circo). Boris Trindade
10:35 – (Dança) Pantomima, Danillo Dannti, Jay Figueredo, Lily Vidal e Kelson Tavares.
11h05 (Circo) Dois em Cena
11h15(Música) Artiligados
11h45 Leitura do Manifesto (2)
12h (Dança) Terezinha com Rebeca Gondim
12h20 (Música) Luísa Pérola do Samba e Trio Buteko, Ruy Ribeiro e Lucinha Guerra.
12h50 (Teatro) Politicamente Vos Digo , Abarca-me
13h20(Musica) Alexandre Seixas, Mayra Clara.
13h40 (Dança) Step Evolution, Funknáticos e Grupo Acaso
14:10 (Teatro) Toten (Nem Tente)
14:30 (Dança) Academia Fátima Freitas
14:40 (Música) Pau de Dar em Doido, Os Carlton.
15:10 (Música) Os Caetanos
15: 30 (Circo) Violetas da Aurora
15:50 (Música) Catharina de Jah e MC Ririca
16:10 (Teatro) Três Tristes Gregas- Metraton Produções
16: 30 (Dança) Maria Paula Costa Regô e Alê Carvalho com convidados
16: 40 (Música) Marília Parente e Juvenil Silva
17:00 (Teatro) Cênicas – Cia de Repertório
17:10 ( Dança) Sheylla Cavalcanti e Jaqson Gomes
17:20 ( Dança) Helder Vasconcelos e Studio Viégas
17:30 (Música) JCarlos
17:40 (Música) Quilombro
18: 00 (Música) Café Tinto
18:20 (Música)Dinho Negaba
18:40 (Teatro) Ópera do Sol – Galharufas Produções
19:00 (Dança) Cia de Dança Ferreiras e Amanda Lima
19:10 (Teatro) Santo Genet e as Flores da Argélia – Cênico Calabouço
19: 30 (Música) Cássio Sette
19: 40 (Música) Banda Boa Hora, Raphael Souto
20:10 (Dança) Flávia Pinheiro e Carolina Bianchi; Dielson Pessoa.
20:20 SARAU DA BOA VISTA
21:00 Leitura do Manifesto (3)
21:10 (Teatro) Adriano Cabral, Ana Ferro, Senhora de Engenho, Entre a Cruz e a Torá e Risoflora
21:40 (Música) Mônica Feijó e Clayton Barros
22:00 (Música) Griô
22:20 (Música) STR
22: 40 (Música) Ivo e Banda
23:00 (Música) Hélder Vasconcelos
23:20 (Música) Clayton Barros , Canibal e DJ Dolores com intervenção de Água Dura
OBSERVAÇÃO: As atrações musicais em bandas acontecerão no Parque Som na Rural.
PARQUE POÉTICO CLARICE LISPECTOR
Programação
10:20 Abertura
10:35 Miró da Muribeca
10:50 Monólogo de Frei Caneca com Buarque de Aquino
10:05 Alisson Fernando (inscrição para microfone)
11:30 Microfone Aberto
12:00 Poesis
12:30 Michelli Amorim
12:40 Henrique Andrade
12:50 Oséas Borba Neto
13:00 TrupeArteNaMochila
13:10 Beto Mix (inscrição para o microfone)
13:20 Microfone Aberto
14:00 Valmir Jordão
14:10 Tonfil
14:30 Lenemar Santos
14:40 Leitura do Manifesto
14:50 Auzeh Freitas
15:00 Fred Caju
15:20 Tempo para os poetas do Sarau da Boa Vista
15:40 Rodrigo Santos (inscrição para o microfone)
15:50 Microfone Aberto
16:10 Rômulo Moraes (Sociedade dos Poetas Bebados)
16:20 Carlos Mesquita (Cia. de artes integradas Literatrupe)
16:30 Sidney Nicéas
16:40 (inscrição para o microfone)
16:50 Microfone Aberto
17:10 Aldy Marcelo
17:20 Aninha Barbosa
17:30 Controverso Urbano
Leituras do Manifesto feita por inúmeros artistas , incluindo José Pimentel , Bruno Garcia , Irandir Santos e muito mais!
E mais…
Atividades Paralelas para colorir a Rua do Hospício durante as atrações:
MANHÃ
A partir das 10H Contação de História com Thaís Botelho e Beth Cruz
PERFORMANCES
Performance fixa – Cuidado: Humanos (Simone Santos e El Maria)
Urubu no Parque - , com Leonardo Leitão - Baseado em Franz Kafka
La Caterina ronda o Parque - do Viva La Vida- Atriz Milan Cavalcanti (Ela aparecerá no Começo da Rua do Hospício e seguirá )
TARDE
- Pernas de Pau da Escola Pernambucana de Circo
- Cia. de acrobacia aerea Penduricalho (os tecidos serão pendurados nas árvores em frente as Casas Bahia
- Malabares com Delmar Camilo
ARTESANATO
GRUMAI (Grupo de Mulheres Artesãs Independentes)