Atualizada às 23h18
Passavam poucos minutos das 19h desta quinta-feira (19) quando o carro que transportava o corpo do artista plástico Francisco Brennand parou diante da Capela Imaculada Conceição, projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha em parceria com Eduardo Colonelli.
No centro da nave, como peça de destaque em meio a um ambiente de encantadora simplicidade, criada pelo ceramista, prevalece a figura igualmente despojada da santa à qual o templo é dedicado. Mendes da Rocha e Colonelli projetaram a construção sacra, intervindo minimamente na estrutura original, onde antes havia um casarão em ruínas datado do século 19. O antigo edifício já tinha servido como escola e cinema, de sua estrutura original restando apenas paredes e alguns arcos.
Francisco Brennand – um consumidor voraz de todas as formas de arte e um defensor convicto da educação como forma de mudar o rumo de vidas –, em sua derradeira jornada até a Oficina que começou a construir em 1971, foi conduzido sob forte emoção. Seu caixão foi depositado aos pés da Conceição, aberto, para que os amigos, admiradores e familiares pudessem prestar a última homenagem.
Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand nasceu em 11 de junho de 1927, no Recife. Contemporâneo do homem que obrigou o século 20 a articular o termo cubismo, Francisco Brennand aprendeu a modelar a argila com o artista Abelardo da Hora, então funcionário da fábrica cerâmica de seu pai. Incentivado por Cícero Dias, ao viajar para a Europa em 1949 para estudar com nomes como André Lhote e Fernand Léger, conheceu as obras de Miró e Picasso. O susto-revelação: o pintor da Guernica era também ceramista. “Ali, vi que a cerâmica poderia ter a mesma grandeza da pintura a óleo, meu interesse até então. Ou até mais”, diz ele, dono de obras de dimensões totemicamente públicas como a Coluna de Cristal e outras peças mimetizadas no corpo físico do Recife.