“Suape era o sonho de muita gente, mas tinha uma rotatividade enorme. Durante uma demissão em massa, acabei perdendo meu emprego em uma multinacional.” A declaração da Relações Públicas Mônica Alcântara, 41 anos, está longe de ser um discurso isolado em meio à crise econômica. De acordo com o Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged), apenas em 2015, o Brasil somou 1,54 milhão de vagas fechadas no setor privado. Neste ano, com a recessão apertando ainda mais, a perda de postos de trabalho deve continuar.
As oportunidades em concursos públicos, por outro lado, não param de crescer. Quando, no início do ano passado, a Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac) anunciou sua previsão para o provimento de cargos no funcionalismo público em 2015, foram mapeadas 215 mil oportunidades nas esferas federal, estadual e municipal. Este ano, o quantitativo de vagas ainda não foi divulgado, mas a expectativa é de que o fôlego se mantenha. Por isso, não é de se espantar que diversos profissionais estejam migrando da esfera privada para a pública em busca de salários mais altos, carreiras estáveis e, principalmente, de um barco seguro para atravessar um período turbulento.
Para o diretor pedagógico do Núcleo de Concursos Especial (Nuce) Cícero Roseno, quem está considerando realizar uma transição para o emprego público deve ter ciência de que o cargo público é um plano para toda a vida. “Antes mesmo de falar sobre vocação para um cargo público, precisamos falar sobre vocação para estudos. Preparar-se para concursos é experimentar um estudo tão intenso que requer tempo e comprometimento máximos”, revela. Para se ter ideia, do início da preparação até ver o nome nas listas, estudantes costumam levar cerca de três anos. Em concursos muito concorridos, mais um ano é acrescido na conta.
Planejar-se financeiramente é outra preocupação fundamental dos novos candidatos a concurseiros. Fazer as contas e saber por quanto tempo será possível se manter ou contar com apoio financeiro ajuda a montar um plano de estudos e escolher um certame que caiba dentro da realidade. “Para quem foi demitido, o momento é de somar os ganhos com FGTS e seguro-desemprego. Muitos tomam essas decisões sem considerar suas realidades, não são aprovados e voltam para a esfera privada ganhando um salário inferior”, afirma Cícero.
Quando foi desligada do emprego, Mônica teve esse cuidado. “Eu e meu esposo sentamos para conversar e começamos a ver que supérfluos poderíamos cortar. Minha rescisão durou um ano, e depois ele começou a me ajudar integralmente com os gastos”, conta a estudante.
Do outro lado, quem não foi demitido deve pensar bem antes de pedir as contas para estudar. “A alternativa mais sábia é conciliar trabalho e estudo. Quando o candidato se sentir mais maduro em relação ao conteúdo programático do concurso, pode pedir demissão e começar a se dedicar de forma integral”, aconselha o diretor pedagógico do Nuce. “Muitas vezes, a pessoa ainda está tateando as possibilidades e nem sabe qual é seu concurso dos sonhos, então aquele tempo médio que consideramos para a aprovação, de três anos, pode ser ainda maior”, completa.
Informe-se - E por falar em concurso dos sonhos, para descobrir qual a área mais compatível com o perfil de cada pessoa, o profissional deve se munir de várias informações. conversando com pessoas que fizeram esse mesmo caminho do privado para o público, pesquisando informações sobre o cargo de interesse, sobre o dia a dia do trabalho, entre outras questões.
Também é aconselhável apostar em seleções intermediárias. Se o candidato busca um cargo de analista judiciário, por exemplo, pode tentar ser aprovado primeiramente para uma vaga de técnico, pois a chance de ser aprovado em tempo mais curto é maior. Também é uma forma de o funcionário público ficar mais confiante para as próximas provas e já garantir uma renda fixa para continuar patrocinando sua preparação rumo ao objetivo final.