Os movimentos do Banco Popular da China nesta terça (5), aplicando US$ 20 bilhões para conter o tombo na Bolsa de Xangai, e as instabilidades quanto ao mercado financeiro daquele país parecem estar longe de alarmar os economistas. Embora investidores e empresários precisem ficar em alerta, os especialistas afirmam que esse movimento, ainda que sobressaltado, visa à estabilidade e continuará distanciando a China do ritmo frenético de anos atrás. Para o Brasil, resta encontrar uma nova maneira de se relacionar com seu segundo maior parceiro comercial.
Para o pesquisador do John L. Thornton China Center, David Dollar, os dados da economia são neutros e houve um exagero.“O setor de serviços subiu; está indo bem e é o maior motor de crescimento hoje. O setor industrial está desapontando, sabemos disso há algum tempo. Então é um pouco estranha essa reação toda, porque não se trata exatamente de uma notícia ruim”, comenta.
Os especialistas lembram que desde a última crise econômica mundial, cujo ápice foi em 2008, o governo chinês revelou que a estratégia a partir de então seria buscar a estabilidade. Até porque, com as dificuldades de venda para Estados Unidos e Europa, a China começou a acumular excessos de produção, uma vez que sua capacidade instalada já era elevada. “Eles tomaram uma decisão de não depender do crescimento de exportações. O impulso seria o mercado interno”, lembra o economista Olímpio Galvão, professor da Faculdade Boa Viagem.
Na opinião do professor do Departamento de Ciência Política e coordenador do Instituto de Estudos da Ásia da UFPE, Marcos Costa Lima, os sinais dessa tendência ficaram ainda mais evidentes no fim de 2014. “O que os chineses estão sinalizando é que a economia deles está voltando à normalidade”, pontua.
Tanto Lima quanto Galvão lembram que as relações com a China continuarão tendo grande peso para o Brasil. Porém, algo que precisa mudar urgentemente é o fato de que, enquanto as vendas da China têm valor agregado, as brasileiras se resumem a commodities. “Além disso, a China passa a concorrer com o Brasil nas exportações para outros países da América Latina”, diz Lima. “As oportunidades que o crescimento da China ofereceu não vão voltar”, destaca Galvão. Para ele, seria necessário que a indústria brasileira tivesse um perfil mais inovador e menos dependente do Estado para uma reação à altura desse desafio.