Os investidores da moeda virtual bitcoin tiveram nesta quarta-feira (17) mais um dia para esquecer - o que vem se repetindo com frequência desde o início do ano. Depois de acumular valorização de 1.400% em 2017, a criptomoeda mais famosa do mercado já perdeu quase metade de seu valor em 30 dias.
Nesta quarta, pela primeira vez desde novembro, a cotação chegou a ficar abaixo de US$ 10 mil, na parte da manhã. Ao longo do dia, o ativo se recuperou um pouco e, por volta das 18h era cotado a US$ 10.618 no site Coindesk, que vem sendo utilizado como referência pelo mercado. O valor marca uma queda de 45% em relação ao nível recorde observado em dezembro.
Na terça-feira (16), o bitcoin já havia acumulado perdas em meio às tentativas de vários governos de apertar o controle sobre as negociações de criptomoedas. Autoridades da Coreia do Sul e da China estão exigindo o fechamento de várias operações de emissão de moedas virtuais.
Diferentemente do que vinha acontecendo desde então, quando algumas criptomoedas pareciam blindadas da má fase da bitcoin, a queda desta quarta se espalhou rapidamente pelas demais moedas. O ether chegou a cair 33%, o XRP recuou 47% e a litecoin, 35% - existem mais de mil moedas virtuais diferentes hoje no mercado. Já o contrato futuro de bitcoin para janeiro, negociado na CME, encerrou o dia em baixa de 1,92%, a US$ 10.945,00.
Para alguns observadores do mercado, a queda dos últimos dias é parte de um movimento de ajuste do preço do ativo. Economistas consultados pela consultoria MarketWatch avaliam que a moeda pode cair ainda mais 20%, para cerca de US$ 8 mil.
Para o especialista em moedas virtuais da XP Investimentos, Fernando Ulrich, é praticamente impossível dizer o que pode acontecer com o ativo, já que ele tem vida própria, sem praticamente nenhuma relação direta com os acontecimentos da economia mundial, mas a redução atual no preço, de certa forma, já era esperada. "Desde o ano passado, no começo de dezembro, a gente não recomendava a compra da bitcoin, afirmando que o risco era enorme. Depois, a moeda começou a renovar máximas de hora em hora e o risco foi ficando maior, virando um cassino, quase uma montanha russa", conta ele.
Ulrich, contudo, descarta que a atual queda represente o estouro de uma bolha. Para ele, a esticada na cotação de fim do ano foi também motivada pela euforia de novos investidores, que viram possibilidades de ganhos de curto prazo. Agora, ele espera que a demanda se acomode um pouco, podendo até abrir uma janela de oportunidades na área. "Pode ser que se expurgue um pouco dos eufóricos e que, assim, fique interessante comprar bitcoin, mas só para quem pensa no ativo como investimento de longo prazo, que no caso do bitcoin é no mínimo um ano", afirma.
Assim como acontece em momentos de baixa de aplicações tradicionais, o especialista da XP não recomenda a quem entrou no mercado de moedas virtuais depois de dezembro se desfazer agora da atual carteira, sob o risco de amargar prejuízos. Para ele, quem investiu no ativo no período de alta, deve ter sangue frio e esperar para ver. "Agora a cotação está se estabilizando em US$ 10 mil. Vamos aguardar", diz.
O difícil, no entanto, é convencer quem depositou economias em criptomoedas a aguardar por dias melhores. O pernambucano Khfren Aguiar, de Caruaru, está desde segunda-feira empenhado em vender tudo o que acumulou em bitcoin desde 2016. Ele conta que já se desfez de 15 bitcoins, cerca de US$ 160 mil. "A ideia é liquidar tudo. Comprei lá atrás, quando estava menos de R$ 3 mil e, em minha cabeça, quando estava quase em R$ 20 mil, eu defini que se batesse em R$ 10 mil seria o limite. Pronto, bateu R$ 10 mil e já me dou por satisfeito", diz ele.
Há quem diga que conseguiu ganhar com o movimento de baixa. Rocelo Lopez, da CoinPy, que ganha vida com a emissão de bitcoins no Paraguai, conta que vendeu um lote de criptomoedas a US$ 11 mil e recomprou hoje, abaixo de US$ 10 mil. "Tem espaço para ganhar com arbitragem", diz.
Para o economista Luiz Calado, do Mercado Bitcoin, com 800 clientes cadastrados, é normal que os investidores fiquem inseguros. "É mais difícil perder do que ganhar dinheiro. Dói muito", diz ele. A corretora fazia uma média de 1 mil transações por dia no ano passado e, desde o começo de janeiro, ampliou o volume para 4 mil. "As pessoas querem vender. Mas encontram quem quer comprar." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.