O governo federal apela, faz reuniões e cobra o setor privado para investir mais para turbinar o crescimento econômico. Mas os resultados da economia teriam sido melhores se as empresas estatais federais tivessem investido mais até agora.
O maior exemplo desse desempenho abaixo das expectativas é o grupo Eletrobras. Segundo relatório do Ministério do Planejamento, as 19 empresas do grupo desembolsaram de janeiro a outubro apenas 43% da meta de R$ 10,24 bilhões para este ano. Em 2012, a Eletrobras fechou o ano com 69% de execução - ou R$ 5,9 bilhões de R$ 8,5 bilhões.
A Eletrobras justifica o baixo desempenho dos investimentos pela diferença de critérios utilizados. Em seu balanço, inclui projetos desenvolvidos com parceiros e não apenas os corporativos (nos quais é majoritária), considerados pelo governo. Por esse parâmetro mais abrangente, os gastos chegaram a 52% do previsto para este ano. Ainda assim, distante do programado.
A estatal está tendo um ano difícil. No terceiro trimestre, teve prejuízo líquido de R$ 915 milhões, ante um lucro de R$ 1 bilhão no mesmo período do ano passado. O faturamento caiu 9,2%, para R$ 6 bilhões.
Essas mudanças provocaram forte queda na geração de caixa (Ebitda). De janeiro a setembro, a geração de caixa caiu 70% ante o mesmo período do ano passado. Segundo a empresa informou na época da divulgação dos resultados, a queda refletiu as novas tarifas de geração e transmissão dos ativos cujas concessões foram renovadas pelo governo no programa de redução da conta de luz.
OUTRAS ESTATAIS - As estatais estão investindo até agora menos do que nos anos anteriores. Desde 2006, aplicaram, em média, 82,3% da meta de investimentos de janeiro a outubro. Este ano, neste período, investiram 75% da meta de R$ 111 bilhões - foram R$ 83 bilhões.
Mantido o atual ritmo de investimentos, R$ 10 bilhões das estatais devem permanecer em caixa sem aplicação, justamente em um momento de necessidade de reforço nesses desembolsos. No ano passado, a “sobra” ficou em R$ 7,7 bilhões. Em 2011, foram R$ 21 4 bilhões. Para 2014, o governo reduziu a previsão de investimento das estatais para R$ 105,6 bilhões.
O peso dos investimentos das estatais na economia cresceu nos últimos anos. A pedido do jornal O Estado de S. Paulo, o Ministério do Planejamento calculou que os desembolsos dessas empresas, de janeiro a setembro, cresceram de 4,1% para 11,2% do total da taxa de investimento entre 2000 e 2013. Na comparação anual - de janeiro a dezembro -, a fatia subiu de 5% para 12,3% no período de 2000 a 2012.
O ministério diz que os gastos dependem da “dinâmica de cada projeto”, incluindo fatores como licenças ambientais e licitações, e “imprevistos” como chuvas, ajustes em projetos e prestadores de serviço.
Especialistas, no entanto, veem interferência da piora fiscal nos resultados. “Melhor seria se não usasse isso para fazer superávit primário, já que atrasa e encarece os projetos”, diz a economista Cristina de Borja Reis, professora da Universidade Federal do ABC (UFABC) em temas de investimentos públicos.
PORTOS - Outras estatais também contribuíram para o desempenho negativo até aqui. As sete companhias Docas, sob a nova direção da Secretaria de Portos, investiram até outubro só 22% do previsto para o ano. A secretaria informou que não comentaria o desempenho.
O Banco do Brasil, cuja execução até outubro ficou em 30,4% do previsto, informou que contabiliza 68% dos recursos para melhoria das agências, tecnologia da informação e sistemas de comunicação e segurança. “Faltam só R$ 531 milhões, que estão em processo de licitação”, diz o diretor de Controladoria do BB, Gustavo Souza. Em 2012, o BB fechou com 69% do previsto, ou R$ 2 08 bilhões.
Especialista em finanças públicas, o economista José Roberto Afonso faz um paralelo com o período pós-crise. Em 2009, lembra, foi fundamental a captação de crédito - e excepcional, porque recuou a seguir e, em todos anos, ficou claro o descasamento entre endividamento e esforço de investimento. Em 2010, o evento excepcional foi a capitalização da Petrobrás.