Brasil e Chile disputam hoje uma vaga para a próxima fase da Copa do Mundo. Apesar de o futebol brasileiro ser historicamente superior ao jogado no pequeno país do Pacífico Sul, os chilenos aprenderam bastante e prometem jogar de igual para igual contra a Seleção brasileira, numa partida cuja a expectativa é de ser bastante disputada. No campo da economia, no entanto, o quadro se reverte. É o Brasil que tem muito a aprender. Há quase duas décadas o Chile mantém crescimento sólido de sua economia – na casa dos 5% ao ano –, com inflação e juros baixos, alta taxa de investimento e muita responsabilidade na condução dos gastos do governo. Fundamentos que são respeitados tanto por governos de direita como de esquerda.
“O Chile é uma das economias mais sólidas da América Latina”, resume o economista Jorge Jatobá, da consultoria Ceplan. Jatobá destaca que o país fez ajustes macroeconômicos importantes já na década de 70, 20 anos antes que o Brasil, apesar de ser uma economia bem menos diversificada que a brasileira. “É uma economia desindustrializada, fundamentalmente exporta cobre, minério de ferro e produtos como flores, frutas e vinhos. Importa tudo que consome, mas possui uma política macroeconômica muito sólida, com um sistema anticíclico consolidado. Na fase da bonança fazem poupança fiscal, que usam nos períodos de desaceleração. Não precisa ser industrializado para ser próspero.”
A principal diferença para o Brasil é a sua economia aberta e competitiva, integrada ao mercado internacional, não abrindo para debates ideológicos neste aspecto. É membro da OCDE e tem diversos acordos comerciais com as principais economias mundiais, a exemplo dos EUA, Europa e China, além de fechar uma parceria de comércio com países como Peru, Colômbia e México, que têm posturas comerciais mais abertas. Por isso mesmo, o Chile não quer muita conversa com o Brasil, fechado no Mercosul ao lado de Argentina e Venezuela, países com restrições ao mercado internacional e protecionistas. “Brasil e Argentina são países protecionistas, que se industrializaram através de barreiras tarifárias para proteger a indústria local. Esse modelo se esgotou e a nossa indústria vem perdendo importância”, comentou.
Para o professor da USP e presidente do Instituto Fractal, Celso Grisi, a maior abertura comercial traria mais inovação para a economia brasileira. “Não precisa ser radical e privatizar tudo. Mas o governo poderia focar seus investimentos na área social, na educação e saúde e deixar o dinheiro privado para investir nas empresas e na infraestrutura. Além disso, se quiser dar direcionamento, regulamenta o setor, fiscaliza”, considera Grisi, crítico do tamanho gigantesco da Petrobras como estatal. “A Petrobras é um elefante na economia. Corrupção é coisa antiga, mas agora se perdeu a vergonha de vez.”
Com relação ao tamanho das economias, o que faria do Chile um país mais fácil de se colocar nos eixos e ter taxas maiores, Grisi salienta que nem tudo se resume a isso. “Temos de levar em consideração o tamanho da economia, mas o Chile cresce mais porque investe mais. Tem uma taxa de 25% de seu PIB em investimentos, nós estamos em 18%. De acordo com modelos econométricos, caso investíssemos 21% do PIB teríamos um crescimento de 3%. Chile tem 5% e investe 25%.”
Na sua opinião o Brasil está deixando de crescer porque não tem dinheiro suficiente. “Então faz como Chile, que traz investimentos externos. Vai desnacionalizar a economia? Cria regulação.”