Dólar sobe mais de 1% e Bolsa cai após Cunha romper com governo

Apesar de conter várias posições esperadas pelo mercado, a contundência das declarações provocou aumento de vendas na BM&FBovespa e de compras de dólares
Da Folhapress
Publicado em 17/07/2015 às 20:03
Apesar de conter várias posições esperadas pelo mercado, a contundência das declarações provocou aumento de vendas na BM&FBovespa e de compras de dólares Foto: Foto: Hugo Arce/ Fotos Públicas


Investidores reagiram negativamente nesta sexta-feira (17) à fala do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sobre o seu rompimento com o governo. Apesar de conter várias posições esperadas pelo mercado, a contundência das declarações provocou aumento de vendas na BM&FBovespa e de compras de dólares.

A tensão política interna ofuscou o quadro mais favorável no exterior, após o Parlamento alemão ter aprovado por 439 votos a 119 o novo plano de resgate da economia grega, no valor de 82 bilhões de euros a 86 bilhões de euros em três anos. Na China, o banco central daquele país injetará US$ 48 bilhões no maior banco de fomento chinês, afirmaram fontes com conhecimento do assunto à Reuters.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 1,72% sobre o real, cotado em R$ 3,187 na venda. Na semana, a moeda americana ficou praticamente estável, com ligeiro recuo de 0,04%. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,13% no dia e 1,04% na semana, para R$ 3,194.

Cunha afirmou que a partir de agora será oposição, mas enfatizou que não atuará contra o governo como presidente da Câmara. O Planalto informou que espera "imparcialidade" do presidente da Casa. "Estou oficialmente rompido com o governo a partir de hoje [sexta]. [...] Teremos a seriedade que o cargo ocupa. Porém, o presidente da Câmara é oposição ao governo", disse.

"A reação negativa do mercado ao rompimento de Cunha com o governo reflete o fato de que esta decisão reforça a cautela com um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff [PT], embora a chance de isso ocorrer ainda seja muito baixa, portanto não é precificada nos ativos", disse Wagner Caetano, diretor da escola de investimentos Top Traders.

Segundo Caetano, o episódio também prejudica o andamento do ajuste fiscal no país. "Essa lentidão para colocar em prática medidas de ajuste fiscal pode corroborar o corte já esperado no 'rating' [nota de risco] do Brasil pela Moody's ou até motivar o corte por outras agências também", afirmou.

O rompimento de Cunha agrava o quadro político nacional, após a notícia na véspera de que o Ministério Público abriu investigação sobre suposto tráfico de influência internacional do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para favorecer a construtora Odebrecht.

Também pesou negativamente sobre o câmbio a leitura de que o Banco Central está mais próximo do fim do ciclo de aperto monetário. Essa visão teve mais dois reforços nesta sexta-feira (17): o índice de atividade econômica do BC teve desempenho mais fraco que o esperado e houve redução de 111.199 vagas de trabalho em todo país em junho -resultado mais baixo para o mês desde 1992.

Juros altos tendem a atrair mais recursos de estrangeiros ao Brasil, em busca de retornos mais expressivos, uma vez que as taxas nos países desenvolvidos continuam em patamares mínimos. Com uma oferta maior de dólares no país, a cotação do dólar tende a ceder, por isso o fim do ciclo de aperto monetário gera cautela entre os investidores.

Nesta sexta-feira (17), o BC deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em agosto -operação que equivale a uma venda futura de dólares para estender o prazo de contratos. A oferta de 6 mil papéis foi totalmente vendida por US$ 294,4 milhões. Nos primeiros leilões deste mês, haviam sido ofertados até 7,1 mil swaps.

Mantendo a oferta de até 6 mil contratos por dia até o penúltimo dia útil do mês, o BC rolará o equivalente a US$ 6,396 bilhões ao todo, ou cerca de 60% do lote total. Se continuasse com as ofertas anteriores, a rolagem seria de 70%, como a do mês anterior.

AÇÕES

No mercado acionário, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, teve desvalorização de 1,37% nesta sexta-feira, para 52.341 pontos. Na semana, houve queda de 0,47%. O volume financeiro foi de R$ 4,768 bilhões.

"A Petrobras é a principal prejudicada pela deterioração do cenário político brasileiro, uma vez que a estatal está diretamente ligada ao governo", disse Linican Monteiro, executivo da equipe de análises da Um Investimentos.

"O mercado está receoso. O governo está tentando fazer um ajuste na economia, reduzir a dívida pública, mas os últimos acontecimentos aumentam a percepção de que ele não será capaz de colocar o país de volta aos trilhos", completou Monteiro.

As ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, caíram 4,36%, para R$ 11,40 cada uma. A estatal informou na véspera ter pago R$ 1,6 bilhão referente a uma multa aplicada pela Receita Federal, sendo R$ 1,2 bilhão à vista e R$ 400 milhões com prejuízos fiscais.

O desembolso será reconhecido nas demonstrações financeiras do segundo trimestre de 2015, com impacto negativo de R$ 1,4 bilhão, líquido de impostos, de acordo com a companhia.

Também pressionou o Ibovespa para baixo a ação preferencial da mineradora Vale, que teve perda de 1,55%, para R$ 14,60. Os papéis da companhia têm sofrido com a instabilidade nos preços do minério de ferro no mercado internacional.

No setor bancário, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, tiveram desvalorizações os papéis do Itaú Unibanco (-0,61%), os preferenciais do Bradesco (-0,62%), o Banco do Brasil (-2,38%) e o Santander (-0,58%). Na véspera, o BB cedeu 3,3% após a notícia de que o Fundo Soberano vendeu ações da instituição financeira em junho como parte da política de consolidação fiscal.

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