A evolução recente dos indicadores de confiança não se traduziu ainda em estímulo à demanda de crédito por parte do consumidor e dos empresários. A Boa Vista SCPC informou nesta quinta-feira (21) que a procura do consumidor por crédito apontou queda de 8,9% no primeiro semestre do ano, contra o mesmo período do ano anterior. No acumulado de 12 meses terminado em junho a queda atinge 5,1% e na avaliação interanual, que compara junho deste ano com idêntico mês em 2015, a retração foi de 8,2%. Já na avaliação mensal contra maio, o indicador apontou queda de 3% na série de dados com ajuste sazonal.
Do lado empresarial, o Indicador de Demanda por Crédito das Micro e Pequenas Empresas apurado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) atingiu o menor patamar da série, retrocedendo 6,85 pontos desde o início da pesquisa em maio de 2015 (16,36 pontos) para 9,51 pontos no último mês de junho. Na comparação com maio deste ano, quando o indicador estava em 13,44 pontos, também houve queda.
De acordo com a Boa Vista SCPC, "apesar de alguma melhoria de expectativas para a economia, o cenário predominante ainda é de muita incerteza para o consumidor. Fatores como altas taxas de juros, rendimentos reais negativos e desemprego elevado são algumas das variáveis condicionantes deste resultado". "Desta forma, a expectativa é de que a demanda por crédito continue em patamares negativos, revertendo o cenário somente a partir de 2017", preveem os técnicos da Boa Vista SCPC.
Para o presidente da CNDL, Honório Pinheiro, alguns indicadores macroeconômicos já dão mostras de que a pior fase da crise pode ter ficado para trás, mas a plena recuperação das condições econômicas e sociais ainda será lenta e gradual. "Depois de mais de um ano de muitas incertezas, o Brasil levará tempo para restaurar a confiança perdida e retomar a trajetória do crescimento", explica Pinheiro.
De acordo com o levantamento feito pela CNDL apenas 5,38% dos micro e pequenos empresários possuem a intenção de contrair crédito para seus negócios no horizonte de 90 dias. A maior parte dos entrevistados, 89%, declarou não ter essa intenção. Quando indagados sobre a negativa, 45,6% disseram que conseguem manter suas empresas com recursos próprios, sendo desnecessário buscar outras fontes. As altas taxas de juros também são fator de impedimento, mencionadas por 12,5% dos que não pretendem tomar crédito.
O micro e pequeno empresariado brasileiro também tem se mostrado pouco interessado em realizar investimentos em seus negócios. O indicador de propensão a investir registrou somente 21,37 pontos em junho. No mesmo mês do ano passado ele estava em 25,98 pontos e em maio deste ano, em 25,22 pontos na escala que varia de zero a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, mais o empresário tende a realizar investimentos.
Em termos percentuais, 75% dos micro e pequenos empresários não pretendem investir nos próximos três meses, sendo a principal razão a desconfiança diante da crise (47,7%). Outros 33,3% dizem não ver necessidade de investir e 11,8% afirmam ter feito investimentos recentes e estão aguardando o retorno. "A recessão e o aumento do custo do capital tornam os empresários mais cautelosos diante da possibilidade de expandir seus negócios e de assumir dívidas para fazer frente a investimentos", explica a economista da SPC Brasil, Marcela Kawauti.