O Brasil decidiu se antecipar ao Brexit e abrir uma frente de diálogo com o Reino Unido. Oficialmente, os britânicos estão incluídos no acerto finalizado entre Mercosul e União Europeia na semana passada em Bruxelas. Mas, diante das discussões para a saída do Reino Unido do bloco, o Brasil começou a costurar as bases do que pode ser um futuro novo acordo.
No início do mês, empresários britânicos vieram ao Brasil para conversar com o chanceler Ernesto Araújo, no Itamaraty, e com representantes do Instituto Brasil 200, que recebeu aval do governo para coordenar um grupo de estudos sobre o assunto de maneira informal. Há previsão de um novo encontro entre eles em Londres, ainda sem data definida.
Para o presidente do Brasil 200, Gabriel Kanner, a conclusão do acordo Mercosul-UE foi uma 'ótima notícia' porque os termos do acordo com o Reino Unido serão 'semelhantes'. 'Sem dúvida eles (Reino Unido) estão pressionados para fechar o acordo conosco.'
Com a iminente saída do bloco, adiada para 31 de outubro, o Reino Unido perderá os benefícios do tratado com o Mercosul e de outros acordos que o bloco europeu firmou nos últimos anos, como com o Japão.
Um dos integrantes da iniciativa, o economista Isaías Coelho afirma que o trabalho do grupo ainda é preliminar. O intuito é fazer um 'mapeamento de intenções e boa vontade' para 'verificar se há convergência e se o terreno é fértil'.
Qualquer negociação para um acordo de livre-comércio, porém, só avançará com a entrada de Argentina, Paraguai e Uruguai nas discussões. Por causa do acordo com o Mercosul, o Brasil só está autorizado a negociar acordos que envolvam tarifas em conjunto com os outros parceiros do bloco.
Hoje, o Mercosul toca quatro negociações de forma avançada: com o Canadá, com os países europeus do EFTA (formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), com Cingapura e com a Coreia do Sul.
A expectativa do governo brasileiro é que seja possível concluir no segundo semestre ao menos duas dessas tratativas, afirmou ontem o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo.
Segundo ele, a conclusão do acordo com os europeus, aumentou o interesse ainda do Japão para firmar um tratado com o bloco sul-americano.
Já com a China, Araújo esclareceu que não há intenção de se avançar, por ora, num acordo comercial amplo.
'Cada país do Mercosul tem uma estratégia. Estamos tentando ações pontuais para abrir novos mercados interessantes ao Brasil, sobretudo na parte agrícola, de atração de tecnologia e investimentos', disse.