Com o avanço tecnológico, a "desbancarização" dos investimentos no Brasil tem se tornado um desafio cada vez mais pujante às corretoras independentes. Em busca de novos investidores com perfis variados, o desenvolvimento de plataformas virtuais das corretoras que não estão ligadas aos grandes bancos têm lançado luz sobre a disputa por uma fatia do mercado financeiro brasileiro que ainda tem muito a crescer e demanda cuidado por parte dos investidores.
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Vendendo a facilidade para investimentos que vão da renda fixa até a compra de ações ou debêntures de companhias, o mercado de corretoras independentes tem basicamente como desafio fazer com que o brasileiro esqueça a poupança como principal destino de suas economias. Até o fim do ano passado, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 88% dos investimentos brasileiros estavam na poupança, ao passo que apenas 5% estavam em títulos privados e 4% em fundos de investimento.
Para mudar isso, a manutenção em baixa da taxa básica de juros (atualmente em 5%) e o cenário de inflação controlada (2,60% até outubro) têm sido os ganchos ideais para proliferar as chamadas de TV e anúncios dessas corretoras com a promessa de melhores rendimentos capitaneados sobretudo por opções na renda variável.
“Se a gente for olhar para o brasileiro hoje, a grande concentração está na poupança e nos bancos, mas ter conta-corrente e investimento são coisas totalmente diferentes. Há uma facilidade na visão do brasileiro pelo fato do dinheiro dele já estar num banco, mas manter tudo lá não é benéfico. As corretoras independentes estão nascendo para oferecer aos brasileiros uma forma melhor de investir”, diz o analista chefe da Toro Investimentos, Rafael Panonko.
Influenciado por esse movimento, o analista de TI Hugo Magalhães, 23, decidiu começar a investir há três anos. “Iniciei essa jornada pelo caminho que entendo ser o mais coerente a ser seguido, pela renda fixa. Abri conta na corretora independente Easynvest e fiz a compra do meu primeiro produto, o Tesouro Direto vinculado à taxa Selic. No momento, a mesma estava em um patamar de 13% ao ano, o que eu considerava uma boa rentabilidade, com liquidez diária e um alto nível de segurança”, conta ele.
Com o passar do tempo, paralelo à evolução do conhecimento, os tipos de produtos adquiridos também foram variando. Em 2018, o jovem passou a investir em renda variável, alocando recursos em fundos de investimento imobiliário, ações e ETF.
“Nunca tive investimentos em plataformas de grandes bancos, devido as altas taxas cobradas e por ofertar produtos mais convenientes para a instituição. Mas busco novas plataformas que, além da facilidade gigante me deem garantias. Hoje uso a do banco digital Inter e consigo realizar todas as minhas operações pelo meu smartphone, desde comprar ações de uma determinada empresa a resgatar títulos de renda fixa como CDB's. Acredito que a maior vantagem competitiva desses novos players independentes digitais são as taxas, ou melhor, a isenção delas”, afirma Magalhães, que chega a aplicar 60% da sua renda em investimentos.
Em meio a tanta facilidade, garantir a segurança da aplicação é algo primordial nesse universo de disputa das corretoras. Só na bolsa já são mais de 1 milhão de pessoas físicas com CPFs cadastrados, e buscar o registro das corretoras junto a órgãos como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Anbima é de fato o caminho mais assertivo para quem quer começar a investir e com segurança. No último mês de agosto, a CVM multou em R$ 600 mil agentes ligados à corretora mineira Corval, que foi acusada de fraudes no período de 2013 a 2016, o que reforça a necessidade de atenção na hora da escolha de uma corretora por parte dos investidores.
“Primeiro é preciso separar o que é instituição financeira e o que não é. Hoje, no universo da internet, muita gente não é instituição financeira, aplica golpe de pirâmide, etc. No fundo, essas instituições irregulares não têm autorização ou são reguladas por alguém. Se fomos olhar instituições Financeira, precisa-se ter o registro do Banco Central, ser fiscalizada pela CVM e, no ambiente da bolsa de valores, ter o certificado PQO de padrão de qualidade. Tudo isso mostra ao investidor um ambiente seguro”, assegura o analista da Toro.
Além disso, é importante também que o investidor, em alguns casos, se certifique da custódia dos títulos em mecanismos como a CLBC ou a CETIP, que funcionam como um validador a mais das operações. “Quando se compra um ação ou um Certificado de Depósito Bancário (CDB) você não está diretamente ligado a um risco da corretora. Ela é só uma instituição de ligação, porque não é possível bater na porta da bolsa e comprar uma ação. Você precisa de uma instituição intermediária e, tendo as garantias, se acontecer alguma coisa, é possível simplesmente transferir a custódia do investimento para outra instituição”, reforça Panonko.
No caso dos investimentos em renda fixa, há ainda o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que paga até R$250 mil por CPF e instituição financeira, até o limite de R$1 milhão em quatro anos em operações com CDB, LCI, LCA, LHs, LCs, Letras Imobiliárias, Recibos de Depósito Bancários e poupança.