Chuvas e alagamentos trazem uma enxurrada de prejuízos para comerciantes do Recife

Lojistas amargam perdas de produtos danificados pelos alagamentos. Aos estragos, somam-se as vendas fracas em dias de chuva intensa
Da editoria de economia
Publicado em 03/07/2015 às 7:37
Lojistas amargam perdas de produtos danificados pelos alagamentos. Aos estragos, somam-se as vendas fracas em dias de chuva intensa Foto: Diego Nigro/JC Imagem


Assim que a água baixa, é tempo de limpar a casa e calcular o prejuízo. Isso vale tanto para quem teve sua residência invadida pela água das chuvas fortes que atingiram o Recife nos últimos dias quanto para os comerciantes que possuem lojas em locais que costumam sofrer com as enchentes todo inverno. Certos pontos da cidade, como as avenidas Recife (Ipsep), Mascarenhas de Morais (Imbiribeira) e Dois Rios (Ibura) sofrem de forma crônica a cada ano.

Há 10 anos na Av. Recife, a loja Gustavo Automóveis acumula prejuízos todo inverno. No último fim de semana, a água invadiu os carros que estavam no pátio, bem como o escritório, que fica nos fundos. “Documentos, computador, sistema elétrico dos carros, de injeção, estofado... Tudo foi perdido. Um prejuízo de mais de R$ 15 mil”, contabiliza o gerente, Marcelo Cassimiro, irmão do dono da loja. Como todos os veículos ficaram submersos, a concessionária de usados também não pode vender. “Antes de disponibilizar para os clientes, temos que consertar todos os carros e trocar tudo que a água estragou”, conta.

No ano passado, dois alagamentos que atingiram a loja. Em 2015, o desta semana foi o primeiro. “A loja já possui uma elevação em relação à rua de 50 cm. Mas ainda assim a água invadiu outros 30 cm. A única medida que podemos tomar para evitar mais prejuízos é mudar de lugar, já que, se fizermos um muro para proteger da enchente, os carros não entram”, avalia Cassimiro. No Ibura, João Maria do Nascimento – que possui ponto comercial há 12 anos na Av. Dois Rios – transformou o balcão da sua gráfica em proteção para a chuva. “Mandei fazer de tijolo, depois de ter mais de R$ 2,5 mil em perdas de equipamentos”, lembra.

O prejuízo para os comerciantes da área é tanto material quanto no número de vendas, uma vez que quando chega o inverno, a clientela diminui. “Quando a água vem, quem está dentro da loja não consegue mais sair e quem está fora não pode entrar. A gente acaba ilhado e o movimento zera”, diz Nascimento, que além da proteção dentro da loja, teve que gastar dinheiro reformando a calçada. “A água acabou abrindo um buraco na frente da loja. O fiscal da prefeitura veio e mandou que reformássemos. Tive que investir para solucionar um problema que não foi causado por mim”, completa.

Entretanto, mesmo no caos das enchentes, há oportunidade. As intervenções feitas na gráfica do Ibura foram obra do pedreiro Gilberto Arruda da Silva, que só este ano fez mais de dez muretas de proteção para comerciantes da área. “Muitos, no verão, derrubam o muro, para facilitar o acesso dos clientes. Mas quando chove começa tudo outra vez”, conta, enquanto termina mais uma mureta, desta vez na porta de uma igreja evangélica. “Qualquer chuva a água invade mesmo. No domingo passado, levei vários ‘irmãos’ nas costas, até a parte mais alta”, lembra. 

Outros ainda conseguem equilibrar os prejuízos e o lucro. A Júlia Colchões funciona há seis anos na Av. Recife e o seu dono, o empresário Haroldo Almeida, já sabe como lidar com as cheias. “Vendo colchões e móveis, que são mercadorias muito sensíveis à água. Por isso, coloco pallets e tijolos de pelo menos 30 cm já no mês de maio, para que o mostruário e o estoque fiquem mais altos”, conta. Mesmo com essas medidas, a chuva trouxe estragos este ano. “Perdi por volta de R$ 10 mil em produtos, principalmente móveis. Mas no fim das contas acabo tendo lucro, já que a população que mora no entorno também sofre com os alagamentos e acaba vindo na loja comprar os móveis todos outra vez”, completa Almeida.


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