Esta semana, o preço do litro da gasolina nos postos ultrapassou os R$ 4,30 no Grande Recife. O combustível é o mais vendido em Pernambuco: 1,4 bilhão de litros por ano, segundo dados de 2016 da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Os constantes aumentos no preço da gasolina não afetam apenas o orçamento de quem utiliza o carro como meio de transporte diário. Os reajustes tem impacto direto em diversos setores do comércio e da prestação de serviços.
Quem trabalha com transporte escolar, autoescola e transporte de passageiros, por exemplo, sente diretamente o impacto de cada reajuste na hora de abastecer o veículo. Repassar o aumento de custo para os clientes é a saída mais comum, embora nem sempre seja a melhor, pois pode afastar a clientela. Criar formas de diminuir a dependência da gasolina é outro caminho para quem tem no carro a principal ferramenta de trabalho.
É o caso das autoescolas. Os chamados centros de formação de condutores (CFC) estão passando pela sua pior crise, afirma Ygor Gomes Valença, presidente do Sindicato dos Proprietários de CFC em Pernambuco. “Nos últimos três anos o número de interessados em tirar a primeira habilitação caiu 65%”, diz Ygor. Em 2014 foram tiradas cerca de 100 mil habilitações e, no ano passado, pouco mais de 35 mil, segundo números do Detran-PE. E o aumento no preço das aulas tem a ver com a redução do número de alunos. Quando a autoescola fecha o valor de um pacote de aulas, o aluno leva cerca de três meses até finalizar todo o processo – desde as aulas teóricas, passando pelas aulas práticas até o exame final. “Eu tenho alunos que acertaram o valor das aulas quando a gasolina era R$ 3,40 o litro. Hoje ela custa R$ 4,40”, diz Ygor, salientando que não há como reajustar preços durante o período de aprendizado do aluno.
Ygor afirma ainda que um veículo de autoescola gasta até quatro litros de combustível por hora/aula e que um aluno faz cerca de 20 horas de aulas práticas. Para o aluno, cada hora/aula custa entre R$ 35 e R$ 50, dependendo do carro que ele utiliza – com ou sem ar-condicionado. O custo total para tirar a primeira habilitação na categoria B, a mais procurada, fica entre R$ 1.350 e R$ 1.550. Ygor Valença diz que não há como o empresário do setor reduzir o custo com combustível. “Usar o gás natural, que é um combustível mais barato, não é viável, porque o carro a gás se comporta de forma diferente do carro movido a gasolina e pode comprometer o aprendizado do aluno”, diz Ygor.
Para quem trabalha com transporte escolar, fechar as contas também é difícil. A categoria tem por prática estipular um preço pelos seus serviços no início do ano e não aplicar nenhum reajuste até o fim do período de aulas, no mês de dezembro. O valor que os pais do aluno irão pagar leva em conta o roteiro que deve ser feito pelo motorista, custos com manutenção do veículo, taxas de vistoria obrigatória (são duas por ano) e combustível. Saber quanto o combustível vai variar ao longo do ano é a parte mais difícil. “A verdade é que começamos o ano ganhando e terminamos perdendo”, diz Augusto Noblat, presidente do Sindicato do Transporte Escolar em Pernambuco.
Condutor há 11 anos, Augusto conta que a categoria estipula um preço fixo pelo serviço para todo o ano e faz o parcelamento em até 12 vezes. São cerca de 1.800 condutores escolares em Pernambuco. Boa parte utiliza carros movidos a diesel porque o preço deste combustível é mais barato (hoje, em média, R$ 3,29/litro), embora o preço de aquisição do veículo a diesel seja cerca de 30% mais alto do que outro movido a gasolina. Outra saída é converter o carro utilizado para o transporte escolar para usar GNV (gás natural veicular). A conversão fica em torno de R$ 5 mil. O GNV é hoje o combustível mais barato nas bombas dos postos, cerca de R$ 2,35 o litro. Mas a estratégia do combustível mais barato apenas ameniza a situação. “Minha condução é movida a GNV. Comecei o ano passado pagando R$ 1,69 pelo metro cúbico e hoje o gás custa R$ 2,35. Mas o preço do meu serviço para o cliente não mudou”, diz Augusto.
Renata Montenegro também vai passar a usar gás natural no táxi que dirige há seis anos no Recife. Ela espera ganhar um pouco mais assim. “Hoje só rodo no álcool (etanol). Gasto cerca de R$ 70 por dia; se fosse na gasolina, seria mais de R$ 100”, diz Renata, que ainda paga uma renda diária de R$ 70 ao dono do táxi, pois o veículo não é dela. Renata conta que o etanol não “rende” tanto quanto a gasolina ou GNV, por isso a economia, às vezes, não compensa. Como estratégia para economizar, ela passou a rodar com o táxi durante a tarde e a noite. “Pego menos engarrafamentos”, ensina.