O doutor em economia Jorge Jatobá defendeu, em entrevista à Rádio Jornal nesta quarta-feira (05), a reforma da Previdência, sobretudo em Pernambuco. Segundo Jatobá, o governador Paulo Câmara "sabe que para governar, para ter educação, saúde, segurança etc, precisa desafogar o orçamento público, que está sendo canibalizado pelos gastos com a Previdência".
Ainda segundo Jatobá, Pernambuco tem déficit de Previdência de R$ 2,8 bilhões, contra uma capacidade de investimento de R$ 300 milhões. "Você gasta com previdência nove vezes mais que a sua capacidade de investimento", pontuou.
A grande questão sobre estados e municípios é que, para muitos analistas políticos, os governantes mudam o discurso quando voltam aos seus Estados. Quando vão a Brasília, defendem a reforma; quando retornam, se dizem contrários para agradar as suas bases eleitorais.
"Muitos deles dizem 'eu sou a favor da Previdência, mas não dessa que está aí. Mas isso não impede que o núcleo duro da reforma seja apoiado e aprovado, porque é importante para o país, estados e municípios. Nosso governador reconhece isso. Ele é um homem inteligente, foi secretário da Fazenda, conhece os números do Estado. Pode não estourar na mão dele, mas vai estourar no próximo. E quem se prejudica é a população", explicou Jatobá.
Além disso, a discussão paira sobre quais unidades da federação entrariam na reforma da Previdência proposta pelo Governo Federal com regra automática. O Planalto estuda que elas sejam somente para estados mais endividados. Seriam eles Acre, Alagoas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Ou seja, estados do Nordeste, praticamente todos com governadores da ala de oposição a Bolsonaro e que falam contra a reforma, ficariam de fora.
O economista enfatizou que a reforma "envolve poderosos, grandes corporações. Muitos dos deputados em Brasília têm suas bases eleitorais nessas corporações. Procuradores, juízes, delegados, auditores, um conjunto de carreiras de estados que vão perder.
As lideranças querem que os governadores tenham envolvimento direto nas alterações e aprovem uma lei local para chancelar a adoção das mesmas exigências que valerão para servidores da União. Para facilitar, porém, existe a ideia de exigir apenas a aprovação de uma lei ordinária para essa validação, sem precisar de um quórum ainda maior para alterar as Constituições estaduais
A movimentação cresceu porque parlamentares aliados a governadores de oposição se posicionam contra a reforma apesar da má situação financeira desses Estados. O temor de deputados que são favoráveis é que eles virem "alvo fácil" desses governadores que nos bastidores pedem pela aprovação da reforma, mas em público falam contra a medida.
A situação é delicada sobretudo para parlamentares do Nordeste que defendem a reforma. A região concentra boa parte da bancada de oposição na Câmara, governadores de partidos contrários ao governo e ainda os maiores índices de desaprovação ao governo Jair Bolsonaro. Uma combinação política considerada explosiva na visão dos deputados.