Boa para as crianças, para os pais e para os empreendedores do Recife, as chamadas casas de brincar estão dando novo sentido às tradicionais atividades infantis e têm movimentado os negócios voltados ao universo kids. De pronto, a ideia parece muito simples: permitir que as crianças se divirtam da maneira que se sentem bem, fazendo atividades elaboradas ou simplesmente colocando o pé na areia e tomando um banho de mangueira. Porém, por trás dessa “naturalidade”, revela-se a proposta de resgatar nos pequenos o desbravamento dos ambientes, liberação da criatividade e estímulos à sociabilidade, além da interação com os pais, que são convidados a se divertir com as crianças nesses locais que demandam dos proprietários investimentos na ordem dos R$ 300 mil.
Pedagoga e fundadora da Casa das Asas, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife, Camila Domingues, 42, há três anos iniciou o projeto piloto da casa, que hoje já recebe até 150 crianças por mês. “Fizemos um primeiro experimento, ainda sem uma sede, e vi o quanto o produto estava sendo aceito. As famílias procuravam algo que tivesse experimentações. Fizemos uma pesquisa e acabamos percebendo uma grande carência do “brincar com propósito”, conta Camila.
Dentro do espaço, uma casa com seus cômodos pensados para a diversão, estão áreas com os “brinquedos não estruturados” - máscaras, óculos, tecidos, espanador e caixas de papelão usados pelas crianças para montarem seus próprios brinquedos; jardim para o “brincar simples”, em contato com a natureza, e Atelier de arte. “É um negócio com força gigante, inclusive gente de fora vem fazer as atividades oferecidas aqui. Hoje é um negócio que alcança muita gente”, comemora Camila, que há 26 anos vem desenvolvendo atividades como pedagoga. Muito diferente dos berçários, o espaço não é para simplesmente deixar as crianças.
“O nível de carência dessas crianças é tão grande que às vezes elas não sabem nem como criar as próprias brincadeiras. Daí vem um espaço para votar a fazer eles se perceberem como crianças e fazer os pais também terem noção da importância de estarem conectados com os filhos nesses momentos. Quantos adultos quiserem vir para gente é melhor, e eles não pagam para estarem com os filhos nas atividades”, reforça Camila. Os valores para aproveitar a casa vão dos R$ 35 (por hora) a R$ 75 por período (das 13h às 17h30), além da possibilidade de pacotes mensais.
Foi justamente buscando um espaço para manter forte o vínculo com o desenvolvimento dos dois filhos que a psicóloga Julia Coutinho, 42, passou a frequentar a casa “Eu conheci ainda o projeto piloto, participei de uma oficina e virei freguesa. Na época, meu filho mais novo tinha entre 8 e 9 meses, e para mim foi uma experiência muito positiva. Coincidiu de ser o período que tinha encerrado a licença-maternidade e eu estava voltando a trabalhar. Hoje meu filho está com quatro anos e continua a frequentar o espaço, volta para casa leve e com a imaginação aflorada. Eu moro em apartamento, e um espaço desse muda a experiência da gente também. É uma coisa de ficar sem olhar para o relógio, largar qualquer eletroeletrônico e realmente viver uma experiência de conexão e criatividade”, assegura a mãe.
A procura por esse ambientes tem crescido tanto que a sócia-fundadora do Novo Quintal (casa de brincar localizada no Pina, Zona Sul), Maria Fernanda Gaudencio, deu início a um projeto itinerante do serviços da casa e pensa em colocar no mercado um modelo de franquias.
“Além do conceito de brincar livre, que a criança tem autonomia para decidir do que ela brincar, automaticamente, brincando, a gente consegue trabalhar a parte educacional. Meu público é aquele que prioriza as atividades de desenvolvimento, mas tem aqueles que também só querem quebrar a rotina. A gente recebe hoje pais que trabalham muito e não têm tempo para se dedicar e gostariam de fazer isso em casa, mas temos também pais presentes que buscam quebrar a rotina. Outro ponto que a gente não esperava é que muitos médicos, como pediatras, nutricionistas e psicólogos recomendam o Novo Quintal aos seus pacientes, seja por dificuldade de aprendizado, problemas físicos ou psicológicos para sociabilizar”, explica Maria Fernanda.
Hoje, só de colaboradores fixos o Novo Quintal contabiliza 15 profissionais entre pedagogos, arte-educadores, recreadores, nutricionistas e músicos profissionais.“A gente vem crescendo bastante. Inclusive já estamos tendo um reconhecimento nacional muito interessante e em pouco mais de dois anos de empresa estamos ampliando as atividades. Até eventos corporativos de marcas infantis estamos fazendo”, complementa Maria Fernanda, que recebe até 200 crianças por semana ao custo de R$ 39 a R$ 900.