Os impactos do derramamento de óleo no litoral do Nordeste ainda não afetaram o varejo de pescados e nem a rotina dos bares e restaurantes do Grande Recife. Pelo menos por enquanto, por parte dos comerciantes, não há nenhum impedimento para a comercialização desses produtos.
"Até o momento não há nenhuma orientação da Vigilância Sanitária ou Ministério da Saúde proibindo o consumo de peixes e crustáceos nos bares ou restaurantes em Recife, exceto as orientações normais de padrão de qualidade quanto a atenção na aparência e qualidade do produto”, afirmou André Luiz de Araújo, presidente da Abrasel-PE (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).
A reportagem do Jornal do Commercio entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde, Vigilância Sanitária do Recife e Procon-PE que informaram, através de suas assessorias de imprensa, que não há qualquer comunicado noticiando possíveis contaminações de pescados nas áreas atingidas pelo óleo.
A Associação Pernambucana de Supermercados (Apes) divulgou nota onde diz que o setor supermercadista está atento e solidário ao desastre ambiental e suas consequências. A Apes informou que o pescado que está atualmente sendo comercializado atende aos critérios dos órgãos fiscalizadores, e que muito embora ainda não tenha sido divulgada nenhuma informação sobre possíveis danos à indústria da pesca, os produtos em não conformidade sequer chegarão aos pontos de venda. por conta da inspeção e liberação realizada na própria indústria. A Apes assegurou ainda que, até o momento, não há motivos para redução do consumo de pescados, e o setor supermercadista informa que atenderá a quaisquer orientações que forem dadas pelos órgãos competentes sobre o tema.
"Primeiramente, todo pescado que é comercializado nos supermercados requer SIF (Serviço de Fiscalização Federal), que é realizado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) ainda na indústria, antes da chegada ao ponto de venda. Em segundo lugar, os supermercados só podem comprar produtos com o SIF. Por fim, vale ressaltar que a maioria dos pescados que estão nas lojas não tem origem do mar nordestino. E, a Apes informa, ainda, que está atenta a todas e quaisquer orientações oriundas do MAPA sobre o tema, o que reitera nossa posição de tranquilidade sobre a continuidade no comércio dos pescados nos estabelecimentos", diz a nota da Apes.
A professora pesquisadora do departamento de pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Raquel Coimbra, diz que o derramamento de óleo terá impacto na pesca sim, mas ainda não há como dimensionar suas consequências. Ela pontua que é preciso esperar as análises que estão sendo feitas por parte de órgãos capacitados para se ter uma visão real da contaminação das áreas afetadas pelo óleo. “O fato de não vermos peixes mortos boiando em grande quantidade é um bom sinal, mas isso não quer dizer que eles não foram afetados e nem serão. Mas, ao mesmo tempo, não podemos condenar todo o o pescado de nosso litoral e deixar na miséria 30 mil famílias que vivem da pesca e da coleta de mariscos no litoral pernambucano”, diz Raquel Coimbra.
A pesquisadora chama a atenção para que a população que compra peixes nos mercados locais tenha o mesmo cuidado que sempre tiveram com a compra de peixes frescos. “Facilmente o consumidor pode fazer uma vistoria, que é muito simples. A coisa que a gente mais olha são as brânquias. Ou guelras. Elas não podem ter cheiro ruim e tem que ter a aparência saudável e a viscosidade certa. As brânquias denunciam qualquer alteração na saúde do peixe”. Ela acha que é muito cedo para condenar todo o pescado vendido no mercado local. "Ostras, mariscos, caranguejos, guaiamuns, aratus, siris que vivem nos estuários não devem ser consumidos porque uma parte considerável dos estuários recebeu óleo. Quanto aos peixes, não sabemos nesse momento. Não podemos condenar todo o pescado, porque isso inclui os de cativeiro, os de agua doce, e os que estão bem distantes das manchas de óleo"., afirma Raquel Coimbra.