Água-grande. A definição literal dos índios tupi-guaranis não poderia ser mais apropriada para batizar a imensidão do Rio Iguaçu e o espetáculo formado pelas suas cataratas. Um ruído assombroso anuncia a proximidade das mais de 270 quedas d’água antes mesmo que o visitante tenha acesso à trilha de 1,2 km dentro da mata. E o que se descortina a partir dali só aguça ainda mais os sentidos.
Na primeira brechinha entre as árvores, as interjeições se calam, incapazes de expressar a visão sublime daquela enorme nuvem de vapor que se forma com o impacto dos saltos no fundo do cânion. O mais impressionante deles divide Brasil e Argentina: a Garganta do Diabo. Com 80 m de profundidade, 150 m de largura e vazão de 1.500 m3 por segundo, é de uma potência avassaladora, que pode ser apreciada tanto de baixo para cima, no nosso lado, quanto no sentido contrário, na porção dos hermanos. Vá preparado para se molhar, com a certeza de que vale a pena.
Patrimônio da Humanidade desde 1984 e eleita uma das Sete Maravilhas Naturais do Mundo em 2011, as Cataratas do Iguaçu são daqueles lugares a que todo brasileiro deveria ir uma vez na vida. De dar orgulho. Ufanismos à parte, não há nada igual no planeta. Niagara Falls, no Canadá, para ficar num exemplo famoso, perde de longe em cenário e volume de água.
A gestão do turismo no Parque Nacional do Iguaçu também parece não deixar a dever. As passarelas estão bem cuidadas e permitem uma caminhada tranquila, inclusive para idosos e pessoas com limitações físicas. Em 2018, mais de 1,8 milhão de visitantes passaram por ali. Com a rota direta Recife-Foz, operada pela Gol de forma sazonal na alta temporada de verão, o número de pernambucanos cresce significativamente: 38% nos quatro primeiros meses deste ano, segundo a Secretaria de Turismo local.
Com tanta gente, os mirantes costumam ser concorridos. Mas fique tranquilo. Sempre dá pra arranjar um espacinho só seu, emoldurado pelos arco-íris que colorem as Cataratas do Iguaçu.
Se você é do tipo que não se contenta em contemplar, mas quer praticamente fazer parte da paisagem, há atividades de sobra no Parque Nacional do Iguaçu para se jogar nas quedas d’água. Quase literalmente, caso a opção seja pelo Macuco Safari. A partida em velocidade do barquinho bimotor para vencer a força da correnteza dispara na mesma medida a adrenalina, que só aumenta com as piruetas no rio quase em 90 graus e atinge o ápice quando você se depara com as cachoeiras. Tempo para fotos, recupera o fôlego e... senta, que lá vem banho. Nem adianta tentar se proteger com a capinha plástica. A ideia é mesmo sair ensopada. Um mergulho renovador e catártico bem no meio das Cataratas. Clímax da imersão no parque que tem início numa trilha de três quilômetros floresta adentro em carreta aberta acoplada a um veículo elétrico (o meio ambiente agradece); e segue por uma passarela de 600 metros ao lado de pássaros, borboletas, guaxinins e à diversidade toda da Mata Atlântica.
Do sonho de uma veterinária alemã e um piloto do Zimbábue nasceu em Foz do Iguaçu um dos maiores centros de preservação de pássaros da América Latina. Aberto em 1994 pelo casal Anna-Sophie Helene e Dennis Croukamp, o Parque das Aves já é a segunda atração mais visitada da cidade, depois das Cataratas. Não é para menos. Em 16 hectares de área, o espaço abriga mais de 1.400 aves, de cerca de 150 espécies, quase metade delas resgatadas do tráfico de animais ou em risco de extinção. “Outra parte é resultado do trabalho de reprodução de espécies nativas que desenvolvemos aqui. Várias são reintroduzidas na mata”, conta Carmel Croukamp, atual administradora, que herdou dos pais e da vida na Namíbia, onde nasceu, o amor pela natureza.
Todos os detalhes do parque são pensados para promover essa integração. Logo na entrada, os visitantes são recepcionados por periquitos, pavões e papagaios. A cada passo na trilha de pouco mais de 1 km, são surpreendidos por elegantes flamingos, mutuns, faisões e até harpias, uma das maiores aves de rapina do mundo.
Na maioria dos viveiros, é permitida a entrada dos visitantes, que, não importa a idade, viram criança ao interagir com tucanos, araras e borboletas das mais diversas tonalidades. Cobras sucuri, jiboias e jacarés de papo-amarelo dividem a atenção com as aves, que em breve também ganharão a companhia de preguiças. Uma expansão dos viveiros está prevista para outubro, com passarelas suspensas que prometem uma experiência ainda mais imersiva.
Até 2015, o obelisco erguido em 1903 para demarcar os limites entre Brasil, Argentina e Paraguai era o único atrativo do Marco das Três Fronteiras. Um intenso trabalho de revitalização fez do lugar, reconhecido como patrimônio histórico e cultural de Foz, um dos pontos mais concorridos para assistir ao pôr do sol no encontro entre os rios Paraná e Iguaçu. Ali, o visitante também “viaja no tempo” através da Vila Cenográfica que reproduz a arquitetura das Missões Jesuíticas. Nos séculos 16 e 17, índios guaranis catequizados e padres jesuítas conviviam naquele espaço. Outro capítulo desse enredo é contado no Memorial Cabeza de Vaca, construído em referência ao capitão espanhol que teria sido o primeiro homem branco a chegar às Cataratas do Iguaçu, em 1542. Enquanto a tarde cai, a história se completa com atrações culturais que unem teatro e dança. Hora de sentar para contemplar a vista, de preferência na companhia de uma Jaguarete, a cerveja artesanal produzida na cidade. Parte das vendas da bebida é revertida para conservação da Jaguatirica, a onça pintada ameaçada de extinção. Motivo extra para apreciar a deliciosa cerva.
A obra colossal desviou a rota do Rio Paraná para encher durante 14 dias um reservatório de 170 km de extensão e 1.350 km2 de área. É tanta água que cada habitante da Terra (somos 7,5 bilhões) precisaria retirar uma cota de 4 mil litros para conseguir esvaziar o lago da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional.
Compartilhada entre Brasil e Paraguai, a maior geradora de energia renovável do mundo, com potência instalada de 14 mil MW, cobre cerca de 17% da demanda nacional e 76% do país vizinho.
Desde a sua inauguração, em 1984, as curiosidades em torno do projeto sempre atraíram o interesse dos visitantes de Foz do Iguaçu. Mas foi somente há 12 anos que a gestão do empreendimento decidiu profissionalizar o turismo e fazer dele uma fonte sustentável de receita, que além de viabilizar a própria atividade, ainda financia o Parque Tecnológico de Itaipu. Para admiradores da engenharia moderna (já são mais de um milhão por ano) é um passeio e tanto.
A experiência começa com a exibição de um vídeo no centro de visitantes, percorre em ônibus panorâmicos os principias pontos da usina, com direito a paradas para selfies cinematográficas, e explora os meandros internos da obra até chegar à sala de comando, à galeria dos geradores e ao eixo de uma turbina em pleno funcionamento.
Quem tiver tempo e quiser mais emoção, ainda pode ver Itaipu iluminada à noite ou fazer um passeio de catamarã pelo lago ao pôr do sol, enquanto admira o produto da engenhosidade humana.
Nem só de mata atlântica e quedas d’água vive Foz do Iguaçu, o terceiro destino turístico mais visitado por estrangeiros a lazer no País, depois de Rio de Janeiro e Florianópolis. Fora do Parque Nacional, o visitante pode enfrentar até temperaturas glaciares em pelo clima tropical. A inusitada experiência é oferecida pelo Dreams Ice Bar, uma das cinco atrações que integram o Complexo Turístico Dreamland. Maior bar de gelo do Brasil, o lugar é divertido para um “esquenta” (se é que é possível) com os amigos antes da balada. A bebida é liberada: cerca de 20 opções de drinques, sucos e coquetéis. Mas nem adianta se empolgar.
Com o termômetro marcando 30 graus negativos, ninguém aguenta muito tempo, mesmo com o casaco e luvas cedidos pelo espaço. O jeito é se jogar na pista de música eletrônica cercado de personagens esculpidos no gelo. Antes ou depois de entrar nessa fria, vale ainda percorrer o Museu de Cera e posar ao lado de famosos como Neymar, Lady Gaga, Barack Obama e Aquaman. Nem que seja de mentirinha.