A luta da Croácia segue no campo de futebol

País precisou enfrentar cinco anos de guerra para se tornar independente
JC Online
Publicado em 15/07/2018 às 8:00
País precisou enfrentar cinco anos de guerra para se tornar independente Foto: AFP


A garra e a vontade de vencer dos croatas, ao longo da Copa do Mundo da Rússia, não são aleatórias. A combatividade da equipe que atravessou três prorrogações e duas cobranças de pênaltis até a decisão de hoje, contra a França, está também ligada às lutas recentes daquele povo para ter uma nação soberana. A Croácia surgiu como país independente em 1991, quando decidiu se separar da antiga Iugoslávia. A paz, porém, só veio em 1995, quando chegaram ao fim os conflitos bélicos contra o Exército Iugoslavo, formado majoritariamente por sérvios. Os enfrentamentos foram marcados por violência extrema, com “limpezas” étnicas nos dois lados.

A Croácia integrava o grupo de países que compunham a República Socialista Federativa da Iugoslávia, junto com Eslovênia, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Bósnia e Herzegovina. Mas, a partir de 1980, as crises econômica e política, além de tensões étnicas, criaram um ambiente instável que fragilizou a união das repúblicas. Todas se emanciparam, restando a Sérvia e Montenegro, que formaram uma federação reduzida: a República Federal da Iugoslávia.

A partir do momento em que anunciou independência, a Croácia teve o território invadido pelo exército iugoslavo. Em seis meses de conflito, 10 mil pessoas foram mortas. Diante dos violentos embates e da ocupação do território croata por milícias sérvias, as Nações Unidas intervieram militarmente para assegurar a paz. Em 1992, o país foi reconhecido como independente. Três anos depois, a Croácia conseguiu, sem nenhuma ajuda externa, reaver quase todos os seus territórios ocupados. O último foi a Eslovênia Oriental, devolvido em 1998.

FORÇA

As dificuldades histórias fortaleceram o povo da Croácia de tal maneira que esse espírito combativo acaba aparecendo também nos esportes, sobretudo em momentos de disputa ferrenha, como a Copa do Mundo. O orgulho que a seleção croata despertou na pequena população do país por chegar à final do Mundial, inclusive, pode ser um grande trunfo diante da França.

“Quando a seleção da Croácia passou pela fase de grupos e os jogadores viram que seu êxito provocou uma enorme euforia e orgulho no povo croata, ficaram ainda mais dispostos a lutar pela vitória. A Croácia tem quatro milhões de habitantes. Dois Recifes dá quase uma Croácia e quando os jogadores veem que esse êxito provoca no nosso país, nesse momento, há uma adrenalina enorme, uma força inexplicável surge nos atletas enquanto croatas. Tanto que chegamos à final da Copa do Mundo jogando 90 minutos a mais que a França, com um dia a menos de recuperação, mas essa adrenalina e essa paixão pelo nosso país é algo que ninguém pode medir, é algo sobrenatural. Todo mundo diz que a França é favorita. Eu concordo. Mas, com a nossa força, nossa história e essa adrenalina não se brincam. É o nosso momento e penso que o mundo pode ter uma grande surpresa domingo (hoje)”, declarou o croata Aleksandar Petrovic, ex-jogador de basquete e técnico da seleção brasileira masculina da modalidade.

Antes de chegar à decisão da Copa do Mundo, pela primeira vez, na Rússia, a Croácia teve apenas um momento de esplendor no torneio. Estreou na competição na edição disputada na França, em 1998, justamente ano em que recuperou 100% de seu território. E surpreendeu o mundo ao bater a então tricampeã mundial Alemanha, nas quartas de final, por 3x0. O feito foi coroado com o terceiro lugar no Mundial, com vitória sobre a Holanda por 2x1. Um dos destaques da equipe foi Davor Suker, artilheiro da Copa daquele ano, com seis tentos. Ele foi considerado o terceiro melhor jogador do torneio, atrás apenas de Zinedine Zidane e Ronaldo, nessa ordem.

Nas edições subsequentes, a Croácia só não se classificou para a Copa de 2010, na África do Sul. Mas, até chegar à final na Rússia, jamais tinha conseguido reeditar a boa campanha da estreia, sendo sempre eliminada na fase de grupos.

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