Dominar a velocidade é parte fundamental do instinto humano. Na Grécia Antiga, principal berço da civilização moderna, por exemplo, Hermes era retratado como figura divina detentora do dom de se mover mais rápido do que qualquer outro ser. Nos dias de hoje, passados cerca de 34 séculos, o imaginário humano se volta à Fórmula 1, onde 20 homens desafiam os limites da gravidade, das forças newtonianas e até mesmo da própria linha entre vida e morte, pilotando carros acima de 330km/h. Na madrugada deste domingo, na Austrália, inicia a 70ª temporada da principal competição de automobilismo mundial, onde humanos ganham asas em forma de motores e se tornam deuses no asfalto.
Para a temporada 2019, serão diversas mudanças, que vão desde as determinações para os carros, novas regras e pontuação extra, até a tradicional ‘dança de cadeiras’ dos pilotos, que terá a maior renovação de quadro de corredores da história da categoria. Apesar de seguir com a disputa polarizada entre Hamilton e Vettel, e Mercedes e Ferrari, o ano pode apresentar grandes surpresas, tanto de pilotos quanto de equipes. O JC preparou um guia completo para explicar cada detalhe de mais uma disputa na Fórmula 1.
Embora seja o principal vetor das corridas, a velocidade só desperta emoção quando é acompanhada de ultrapassagens na pista, em curvas fechadas ou nas mais longas retas. Um dos grandes atrativos que impulsionaram a modalidade pelo mundo inteiro, sobretudo nos anos 80 e 90. E foi pensando justamente na busca de maior atratividade para a Fórmula 1 que a Federação Internacional de Automobilismo - FIA aplicou mudanças substanciais no regulamento de 2019.
O trabalho dos engenheiros de projeto das equipes é buscar o melhor aproveitamento da aerodinâmica nos carros, para produzir os modelos que alcancem a maior velocidade possível nas retas, sem perder a estabilidade nas curvas. No entanto, nos últimos anos, também foi intensificada a busca por minimizar os ataques vindos dos adversários, a partir da criação de peças que provocavam pequenos ventos em forma de vórtices ciclônicos deixados pelo carro, minimizando as zonas de vácuos para os adversários, o que faz todo sentido científico.
Você já deve ter ouvido a máxima de que um bom piloto sabe “aproveitar o vácuo” deixado pelo outro logo à frente para ultrapassá-lo. Isso parte do aproveitamento de uma lei da física. O carro à frente quebra naturalmente a resistência do ar e, por consequência da alta velocidade, o deslocamento do ar cria um vácuo, região curta de pressão praticamente zero para o carro seguinte - sobretudo nas grandes retas. Com a criação desses vórtices, o ar deslocado pelo primeiro carro era direcionado para acompanhar o movimento com maior intensidade, o que reduzia a zona de vácuo, além de provocar grande instabilidade na aerodinâmica do carro sucessor, por receber ventos de diferentes direções.
Análise física à parte, de forma grosseira, podemos resumir que a FIA modificou o possível para facilitar a criação de vácuos e, consequentemente, mais ultrapassagens. Aerofólios dianteiros e traseiros, e os defletores laterais dos carros foram modificados para interferir menos na aerodinâmica dos adversários. Mais largos, os aerofólios devem sofrer com toques durante o ano. Além disso, peças que provoquem vórtices de ar foram praticamente extintas. Medidas que provocaram reações negativas em projetistas de equipes favoritas.
Com isso, a FIA também ampliou os espaços nas pistas para utilização do sistema DRS (Drag Reduction System), que diminui o arrasto aerodinâmico e melhora a performance em retas, autorizados para o carro perseguidor que está a menos de um segundo de desvantagem para o carro da frente em pontos específicos do circuito.
Outras mudanças ainda dizem respeito ao peso do piloto, que no somatório de todo o material e equipamentos como capacete e banco, deve atingir o mínimo de 80kg. Também aumenta a massa total de combustível, que acrescenta cerca de seis litros na capacidade total dos tanques, que foram expandidos.
A parte de segurança também sofreu alterações. A principal delas diz respeito ao uso de luvas biométricas, capazes de emitir sinais vitais que facilitam o atendimento médico em casos de acidentes. Os capacetes ganham uma estrutura mais reforçada, capaz de suportar impactos ainda maiores em relação aos antigos modelos, além de aumentar o alcance em 1cm sobre os olhos dos pilotos, porém reduzirá o campo de visão. Em casos de Safety Car, os carros só poderão voltar a ultrapassar após cruzarem a linha de chegada na volta da saída do carro de segurança.
MUDANÇAS PARA 2019 - TEXTO SOBRE IMAGENS DOS CARROS
Apesar de tantas mudanças, a clássica forma de disputa segue com a mesma estrutura para 2019. São duas frentes de premiação. No ranking individual, a pontuação é contabilizada de acordo com os feitos individuais dos pilotos. No coletivo, o título mundial de construtores é representado pela soma de pontos que a equipe alcançar como um todo. E nesse sentido, cada ponto será valioso para determinar as posições ao final da temporada. E os resultados, naturalmente, influenciam o ciclo de patrocínios para a temporada seguinte.
Entre as equipes, Mercedes e Ferrari despontam mais uma vez como as grandes favoritas ao título. A equipe alemã, aliás, vai em busca do sexto título consecutivo, contando com a manutenção da dupla de pilotos experientes, entre Valteri Bottas e o pentacampeão Lewis Hamilton. O carro W10, no entanto, pode ser um entrave para adequação da linha desenvolvida com sucesso, tendo em vista tantas mudanças implementadas. A Mercedes, inclusive, foi a equipe que demonstrou maior insatisfação sobre as novas determinações para as regras de 2019.
Maior campeã da história com 16 títulos, a italiana Ferrari é a equipe de maior torcida e tradição da Fórmula 1. Ser perseguido ou perseguir um carro vermelho sempre será uma tarefa das mais complicadas na categoria. Almejada como sonho de consumo por praticamente todos os pilotos do mundo, a escuderia, no entanto, amarga uma década sem títulos. A última conquista no mundial de construtores aconteceu em 2008, com os pilotos Felipe Massa e Kimi Raikkonen.
Além de acertar na adaptação do novo carro SF90, e no entrosamento do novo chefe de equipe Mattia Binotto, a Ferrari também precisará otimizar o trabalho de equipe, que nos últimos anos custaram pontos importantes tanto com estratégias como em erros de execução. Nos pilotos, a aposta principal cai sobre o alemão Sebastian Vettel, grande rival de Hamilton, e do jovem promissor Charles Leclerc, de apenas 22 anos, um dos que são apontados como surpresa para 2019.
Correndo por fora, um duelo particular entre Red Bull Racing e Renault também atrai as atenções. As duas equipes podem, inclusive, surpreender os grandes favoritos e até mesmo alcançar o título, uma vez que desenvolveram modelos já adaptados às novas regras. Na RBR, a principal aposta para voltar a repetir o sucesso de quatro títulos consecutivos (2010-2013) é a parceria com os motores da Honda, que também busca se restabelecer na Fórmula 1. Dominante entre os anos 80-90, os japoneses enfrentam graves crises no mercado mundial e têm na oportunidade mais uma chance de recuperar fôlego financeiro e a imagem da montadora. Os franceses da Renault, por sua vez, prometem um desenvolvimento melhor do motor, mas têm na contratação de grande custo do piloto australiano Daniel Ricciardo, ex-RBR, o seu principal trunfo na pré-temporada.
Entre as equipes emergentes, destaque para a americana Haas, que mesmo com o segundo orçamento mais baixo da temporada 2018, estimado em R$ 514mi (cerca de ? do total da Ferrari, maior investidora), terminou a temporada na quinta colocação do Mundial de Equipes. Toro Rosso e a novata Racing Point - substituta da Force India após escândalos de lavagem de dinheiro atrelados ao antigo dono da equipe, Vijay Mallya - também buscam uma maior consolidação.
Campeãs em crise
As decepções de 2018 ficaram, mais uma vez, por conta das tradicionais multicampeãs McLaren e Williams - oito e nove títulos de construtores respectivamente, só perdem no quadro geral para a Ferrari. Além de perder o piloto Fernando Alonso, a McLaren teve dificuldades para o novo orçamento. Problema que também aflige a Williams, que perdeu um dos seus maiores investidores na última temporada, Lawrence Stroll, que levou o aporte financeiro e o filho piloto Lance Stroll - que não fará falta à Williams - para a Racing Point.
1 FERRARI - R$ 1,6 bilhão
2 MERCEDES - R$ 1,56 bilhão
3 RED BULL - R$ 1,2 bilhão
4 MCLAREN - R$ 849 milhões
5 RENAULT - R$ 746,4 milhões
6 TORO ROSSO - R$ 581,1 milhões
7 WILLIAMS - R$ 581,1 milhões
8 SAUBER - R$ 536,4 milhões
9 HAAS - R$ 514 milhões
10 FORCE INDIA - R$ 469,5 milhões
* Dados fornecidos pelo Blog Grande Prêmio
Mercedes 655
Ferrari 571
RBR 419
Renault 122
Haas 93
McLaren 62
Racing Point (Force India) 52
Sauber Alpha Romeo 48
Toro Rosso 33
Williams 7
Ferrari (Itália) 16 Títulos: 1961, 1964, 1975, 1976, 1977, 1979, 1982, 1983, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2007, 2008.
Williams (Inglaterra) 9 títulos: 1980, 1981, 1986, 1987, 1992, 1993, 1994, 1996, 1997.
McLaren (Inglaterra) 8 títulos: 1974, 1984, 1985, 1988, 1989, 1990, 1991, 1998
Lotus (Inglaterra) 7 títulos: 1963, 1965, 1968, 1970, 1972, 1973, 1978
Mercedes (Alemanha) 5 títulos: 2014, 2015, 2016, 2017, 2018
Red Bull (Áustria) 4 títulos: 2010, 2011, 2012, 2013
Cooper (Inglaterra) 2 títulos: 1959, 1960
Brabham (Inglaterra) 1 título: 1966, 1967
Renault (França) 1 título: 2005, 2006
Vanwall (Inglaterra) 1 título: 1958
BRM (Inglaterra) 1 título: 1962
Matra (França) 1 título: 1969
Tyrrell (Inglaterra) 1 título: 1971
Benetton (Itália) 1 título: 1995
Brawn (Inglaterra) 1 título: 2009
País: Itália
Orçamento 2018: R$ 1,6 bilhão
Chefe: Mattia Binotto
Pilotos: Sebastian Vettel e Charles Leclerc
Carro: SF90
Motor: Ferrari
País: Alemanha
Orçamento 2018: R$ 1,56 bilhão
Chefe: Toto Wolff
Pilotos: Lewis Hamilton e Valteri Bottas
Carro: W10
Motor: Mercedes
País: Áustria
Orçamento 2018: R$ 1,2 bilhão
Chefe: Christian Horner
Pilotos: Max Verstappen e Pierre Gasly
Carro: RB15
Motor: Honda
País: França
Orçamento 2018: R$ 746,4 milhões
Chefe: Cyril Abiteboul
Pilotos: Daniel Ricciardo e Nico Hülkenberg
Carro: R.S.19
Motor: Renault
País: Estados Unidos
Orçamento 2018: R$ 514 milhões
Chefe: Günther Steiner
Pilotos: Kevin Magnussen e Romain Grosjean
Carro: VF-19
Motor: Ferrari
País: Inglaterra
Orçamento 2018: R$ 849 milhões
Chefe: Zac Brown
Pilotos: Lando Norris e Carlos Sainz Jr
Carro: MCL34
Motor: Renault
País: Inglaterra
Orçamento 2018: R$ 469,5 milhões
Chefe: Otmar Szafnauer
Pilotos: Sergio Perez e Lance Stroll
Carro: RP19
Motor: Mercedes
País: Itália
Orçamento 2018: R$ 581,1 milhões
Chefe: Franz Tost
Pilotos: Daniil Kvyat e Alexander Albon
Carro: STR14
Motor: Honda
País: Itália
Orçamento 2018: R$ 536,4 milhões
Chefe: Frédéric Vasseur
Pilotos: Kimi Raikkonen e Antonio Giovinazzi
Carro: C38
Motor: Ferrari
País: Inglaterra
Orçamento 2018: R$ 581,1 milhões
Chefe: Frank Williams/Claire Williams (filha)
Pilotos: George Russel e Robert Kubica
Carro: FW42
Motor: Mercedes
Todas as mudanças previstas para 2019, sobretudo as de caráter tecnológico nos carros, aumentam a expectativa sobre o desempenho dos pilotos, que serão ainda mais exigidos neste ano em suas habilidades individuais, capacidade de condução e, principalmente, competitividade. Com a facilitação para as ultrapassagens,é natural que os destaques maiores se voltem para quem melhor defender as posições durante as corridas.
A expectativa de bons duelos se torna ainda maior pelo fato do grid da nova temporada apresentar o quadro em média de idade em cerca de 26 anos e 3 meses, a menor da história desde a primeira edição da Fórmula 1, em 1950. Lando Norris, da McLaren, é o mais jovem com 19 anos, enquanto o mais velho é o experiente Kimi Raikkonen, com 39, piloto da Sauber/Alfa Romeo. Além de Norris, George Russell (Williams), Alexander Albon (Toro Rosso) e Antonio Giovinazzi (Sauber) também fazem a estreia na F1. Há ainda os reencontros ds de Daniil Kvyat (Toro Rosso) e Robert Kubica (Williams) com a categoria.
Na briga pelo título, segue a polarização entre os principais pilotos da Mercedes, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, da Ferrari. São os grandes favoritos e mais vitoriosos em atividade na categoria. O britânico busca o seu sexto título na Fórmula 1, o que lhe colocaria a um passo de se igualar a Michael Schumacher - maior vencedor da história, com sete títulos -, além de superar cada vez mais recordes na carreira. Por sua vez, Vettel carrega a responsabilidade de encerrar o jejum pessoal e da equipe, para igualar ao próprio Hamilton em números de troféus individuais.
No segundo pelotão, nomes talentosos com potencial para surpreender ao ponto de disputar o título, a depender das condições de acerto de cada carro. Os segundos pilotos das equipes favoritas, Valteri Bottas (Mercedes) e o jovem Charles Leclerc (Ferrari) podem ir além da tarefa de somar pontos para o título de construtores. Companheiros de equipe até o ano passado, Max Verstappen e Daniel Ricciardo travarão um duelo em particular. Ousados, ambos podem guiar os novos projetos de Red Bull e Renault, até mesmo ao título.
Na ‘Série C’ da Fórmula 1, nomes já carimbados e emergentes se misturam. No caso do campeão Kimi Raikkonen, que trocou a Ferrari pela Sauber, a experiência será um fator diferencial, assim como no caso de Kubica, que retorna à F1 após oito anos se recuperando de um grave acidente sofrido enquanto disputava um rali.
Hulkenberg (Renault), Magnussen (Haas), Gasly (Red Bull), Sainz e Pérez podem fortalecer os nomes na categoria, cada um com um objetivo individual por suas equipes, muitas vezes contra os próprios companheiros de casa.
Por fim, o recorte de pilotos que passam por uma espécie de ‘peneira’ para a próxima temporada. Nomes que precisam demonstrar um bom rendimento para se manter na Fórmula 1 em 2020, como o caso do canadense Lance Stroll, que decepcionou pela Williams, onde correu graças ao financiamento pesado do pai Lawrence Stroll, juntos agora na Racing Point. Já o francês Grosjean ganhou mais uma chance na Haas, mesmo tendo um ano de graves erros que custaram pontos preciosos à equipe. Norris (McLaren), Giovanizzi (Sauber/Alfa Romeo), Kvyat (Toro Rosso), Albon (Toro Rosso) Russell (Williams) completam o quadro de ‘aspirantes’.
17/03 - AUSTRÁLIA - MELBOURNE
31/03 - BAREIN - SAKHIR
14/04 - CHINA - XANGAI
28/04 - AZERBAIJÃO - BAKU
12/05 - ESPANHA - BARCELONA
26/05 - MÔNACO - MONTE CARLO
09/06 - CANADÁ - MONTREAL
23/06 - FRANÇA - PAUL RICARD
30/06 - ÁUSTRIA - SPIELBERG
14/07 - INGLATERRA - SILVERSTONE
28/07 - ALEMANHA - HOCKENHEIM
04/08 - HUNGRIA - HUNGARORING
01/09 - BÉLGICA - SPA-FRANCORCHAMPS
08/09 - ITÁLIA - MONZA
22/09 - SINGAPURA - MARINA BAY
29/09 - RÚSSIA - SOCHI
13/10 - JAPÃO - SUZUKA
27/10 - MÉXICO - HERMANOS RODRIGUEZ
03/11 - ESTADOS UNIDOS - AUSTIN
17/11 - BRASIL - INTERLAGOS
12/12 - ABU DHABI - YAS MARINA