Na véspera de um dos dias mais importantes da história do Santa Cruz pode-se dizer que o "vulcão" entrou em erupção. Nesta terça-feira, dia 17 de dezembro, acontecerá o debate sobre a proposta da reforma de estatuto do clube. O novo documento vem sendo trabalhado por uma comissão que conta também com a participação de movimentos de torcedores e lideranças opositoras. No entanto, há um conflito de ideias na cúpula coral. O problema é que um grupo formado por dirigentes apresentou um projeto que sugere a substituição do que foi construído anteriormente. Assim, será posto à votação dos conselheiros se haverá o descarte ou não do antigo documento em virtude do novo.
De acordo com uma das solicitações, o documento prevê a presença apenas de conselheiros eleitos, beneméritos e natos (ex-presidentes) na reunião desta terça-feira. Vetando, assim, além dos conselheiros colaboradores - que têm voz, mas não voto - a participação de torcedores como espectadores, como havia sido acordado anteriormente. Haverá uma votação no Conselho Deliberativo para cada emenda que definirá o texto do estatuto. Caso o anteprojeto seja negado, a reforma acabaria. Por outro lado, em caso de aprovação de um dos dois trabalhos, ou o da Comissão, ou o do grupo de dirigentes, logo depois será marcada uma Assembleia Geral para os sócios votantes, que estejam na condição há pelo menos um ano, com no mínimo de 45 dias após a decisão dos conselheiros. Ou seja, passando pelo crivo do Deliberativo, os associados votarão pela mudança do regimento - seja ele qualquer um dos dois postos à mesa.
Para Antônio Luiz Neto, mudança que faz parte de um estudo que deveria ser mais aprofundado. “O fato é que nós estamos vivendo um momento que no Conselho Deliberativo, foi feita uma comissão que estudou a reforma do estatuto. Uma comissão que, na opinião de vários setores do clube, componentes de outros poderes e conselheiros, foi uma comissão formada de maneira bastante limitada. Que apresentou um relatório com uma proposta de reforma que a presidência do Conselho, convocou uma assembleia para que o conselho delibere sobre o assunto. E nós tivemos reuniões com o presidente do Conselho Deliberativo e, nessas reuniões, ficou combinado que nós faríamos esse estudo de acordo com o relatório da comissão”, comentou.
"Não se faz um estatuto em um dia, dois ou oito meses, sendo feito por apenas cinco mãos, ou copiando outras instituições. O Santa Cruz tem identidade própria, é um clube que tem maior idade e dá aula de de estatuto. E nosso estatuto já foi copiado por vários clubes no Brasil inteiro por conta da sua modernidade. De maneira que em absoluto as pessoas não tiveram acesso e sequer nós que compomos os órgãos superiores do clube, os poderes do clube e que estamos sempre à disposição do Santa Cruz para nos sacrificarmos e participarmos da vida do clube, não tivemos acesso e propiciamos ao conselho deliberativo solicitando participação e nos foi negado", acrescentou o ex-presidente do executivo do Mais Querido.
Segundo Jhonny Guimarães, um dos líderes do movimento Intervenção Popular Coral, a atitude é um ‘golpe’ político no clube. “Eu acho que não tem outra definição para esse protocolo de documento que não seja golpe. Eles estão tentando descaradamente dar um golpe na soberania da torcida. A comissão que foi montada para mudar o estatuto foi escolhida democraticamente, vem atuando há mais de um ano. Definir um trabalho de projeto de estatuto bom, no qual a torcida participou, é uma construção que tem aprovação quase unânime da torcida, em nenhum momento, forças contrárias a argumentação se dispuseram a participar das reuniões, a levantar no conselho os argumentos pelos quais eles entendem que devem ser reprovados a reforma do estatuto”, afirmou.
"Na verdade eles apresentaram o projeto deles, o estatuto que eles imaginam que sejam melhor para o Santa Cruz, que fundamentalmente quase não faz mudanças ao estatuto atual. A gente vai passar noites sobre ele, para passar para a torcida o quão raso e genérico ele é. No início do documento, se diz que o estatuto oficial do Santa Cruz precisa de poucas modificações, mudanças pontuais, nada que mude fundamentalmente a estrutura de poder do Santa Cruz. O estatuto está lá na íntegra, porém as mudanças são mínimas, quase nulas, a gente vai fazer esse trabalho para passar a torcida a proposta que eles estão fazendo, o Santa Cruz que deve acontecer. São mudanças escassas, não tem significatividade nenhuma e desrespeitam o trabalho que vem sendo realizado há mais de um ano pela comissão e desrespeita o torcedor", pontuou o representante do IPC.
O líder do grupo Pró Santa, Albertino dos Anjos, corroborou citando uma ‘manobra’ política no Tricolor. “Eu posso dizer que isso é uma vergonha. É uma manobra mal-feita, viciada. Porque foi trabalhado dentro de um Conselho Deliberativo, que é um poder soberano do clube, ele só fica abaixo da Assembleia Geral e trabalhado de forma precisa, responsável. Eles querem ganhar tempo, virar mais um ano para que não se possa mudar o estatuto do clube, e que em dezembro na próxima eleição isso de fato não aconteça. E que a mesma manobra com o estatuto viciado que o Santa Cruz, que legalmente não deveria estar vigorando. Porque sabemos que tiveram várias manobras na mudança anterior do estatuto. Eles estão tentando criar de toda forma para se colocar na condição de proprietários do Santa Cruz”, argumentou.
"Não sei o porquê do desespero que eles estão, que caixa preta tem o Santa Cruz que eles não querem deixar o poder para que pessoas sérias entrem no clube e o profissionalizem. Porque é de forma transparente, e transparência não há no Santa Cruz. Então eles conseguiram algumas assinaturas e a gente pode dizer o seguinte. Não é desembargador, nem juiz, que vai dizer o que o Santa Cruz precisa como estatuto. Nós temos vários advogados juristas, desembargadores e juízes que deram parecer favorável ao estatuto. Não tem nada de errado com a reforma do estatuto. E posso inclusive afirmar, representando o Pró Santa, que isso é uma manobra eles estão tentando ganhar tempo mais uma vez. E que a torcida que pode se colocar como verdadeira dona do Santa Cruz, não está sendo ouvida. E eles estão criando um grupinho aqui e ali tentando fazer manobra e sabemos quem são os cabeças e líderes disso. Vamos brigar extrajudicialmente ou judicialmente para que o Santa Cruz saia das mãos desse caras e volte para as mãos da torcida", encerrou Albertino.