Um índio da etnia Xokleng foi assassinado a pauladas na cidade de Penha, a menos de 40 quilômetros de Balneário Camboriú, no litoral norte de Santa Catarina. Embora o crime tenha ocorrido na primeira madrugada do ano, só veio a público nesta quarta-feira (3), quando imagens registradas por câmeras de segurança foram divulgadas e várias entidades passaram a cobrar o esclarecimento do caso e punição do assassino.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a vítima é Marcondes Namblá, um professor que dava aulas em uma escola indígena do município de José Boiteux, no Vale do Itajaí.
Formado pelo curso de licenciatura intercultural indígena da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Marcondes era identificado como uma das lideranças de sua comunidade, atuando para preservar a língua Laklãnõ-Xokleng.
Ele aproveitava o período de férias escolares para vender picolé em Penha, destino turístico bastante procurado nesta época do ano. As imagens registradas por câmeras de segurança instaladas próximas ao local da ocorrência exibem o momento em que o professor é abordado por um homem portando um pedaço de pau.
Marcondes aparece próximo a uma esquina, com uma das mãos apoiadas contra um poste de sinalização. O desconhecido parece falar algo ao índio, que não esboça qualquer reação. Subitamente, o homem desfere uma primeira paulada contra a cabeça do professor, que cai no chão e continua sendo agredido. O homem ameaça deixar o local, mas retorna e volta a agredir o indígena após perceber que ele ainda se mexia.
Encontrado desacordado e com suspeita de traumatismo craniano, o índio foi levado pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Marieta Konder Bornhaunsen, em Itajaí, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. A reportagem da Agência Brasil não conseguiu contato com as assessorias do Corpo de Bombeiros e do hospital.
Em nota, o Cimi pediu agilidade nas investigações, alertando para o que classifica como uma “onda de intolerância contra indígenas no litoral de Santa Catarina”, para onde grupos de índios costumam se deslocar durante o verão a fim de vender seus produtos, especialmente o artesanato.
Para a entidade indigenista, o Ministério Público Federal (MPF), a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Ministério da Justiça e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) devem procurar “ampliar o diálogo com as autoridades municipais - especialmente as situadas no litoral – para que acolham com respeito os indígenas e lhes resguardem o direito de ir e vir, de frequentar as praias e de percorrer avenidas, ruas e estradas”.
Também em nota, o Núcleo de Estudos de Povos Indígenas (Nepi), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), manifestou “profundo pesar” pelo “assassinato cruel” do professor indígena.
Para os membros do núcleo universitário, “Marcondes fazia parte de uma geração que vislumbrou na universidade um lugar para compreender melhor as dinâmicas políticas, econômicas e sociais que, ao longo da história, atingiram seu povo de forma injusta e sangrenta”.
Cimi e Nepi manifestam, em suas notas, que o assassinato de Marcondes - um ano após uma criança kaingang de apenas dois anos de idade ser degolada por um desconhecido nos braços da própria mãe, em Imbituba, em Santa Catarina – decorre do contexto de intolerância étnica e anti-indígena no estado. “A violência aos povos indígenas é sistemática, diária, individual e coletiva”, sustenta o Nepi.