Republicanos param os EUA mas não impedem interesse por Obamacare

Mais de sete milhões de pessoas visitaram o site do governo federal - HealthCare.gov
Da AFP
Publicado em 04/10/2013 às 22:29


Os republicanos conseguiram paralisar o governo dos EUA, esta semana, na queda de braço contra a implementação da reforma da saúde, mas não conseguiram conter o interesse pelo Obamacare.

Mais de sete milhões de pessoas visitaram o site do governo federal - HealthCare.gov -, para ter acesso às informações sobre como contratar um seguro médico, de acordo com dados do próprio organismo.

"Os republicanos loucos podem paralisar o governo por alguns dias, mas não podem tirar de nós a bênção do Obamacare", disse à AFP Ernesto Reitich, um trabalhador autônomo da Flórida, ao ser referir ao "Affordable Care Act" (ACA), lei de reforma do sistema de saúde promovida pelo presidente Barack Obama.

Começou na terça-feira processo para comparar os planos de seguro bronze, prata, ouro e platina e se inscrever para comprar as apólices. Falhas técnicas impediram muitos interessados de completar seu cadastro.

"Graças a Deus, o sistema está colapsado. Isso quer dizer que somos muitos querendo o Obamacare", acrescentou Reitich, um comunicador social de origem venezuelana, cidadão americano e funcionário terceirizado de uma importante empresa de comunicações em Miami.

Pai de dois meninos de 7 e 4 anos e casado com uma mulher portadora de diabetes tipo 1, Ernesto Reitich ilustra a realidade de mais de quatro milhões de pessoas sem seguro médico que vivem na Flórida.

Junto com o Texas, a Flórida lidera a lista dos estados com mais pessoas sem cobertura médica no país. Seus governadores republicanos estão entre os mais resistentes à reforma.

Como funcionário terceirizado, Reitich não tem seguro de saúde, já que, nos EUA, a forma mais comum de contar com cobertura é sendo funcionário de uma grande companhia. Empresas médias e pequenas não costumam oferecer o benefício.

"Os preços por apólices que eu vi marcam uma diferença radical com aqueles que as seguradoras privadas me pediam por não ter um empregador", comentou. "E, além disso, elas (as seguradoras) discriminam quando você tem uma condição pré-existentes", acrescentou.

"Agora, poderei ter acesso a um seguro de cerca de US$ 150 por pessoa, o que antes de custava até mais de US$ 450 por cada um", disse Reitich.

"Mas, o mais importante para nós, é que aceitam minha mulher sem condições e encargos extras que encurtam o orçamento familiar", comemorou.

Hispânicos entre os mais desprotegidos - Nos EUA, há cerca de 50 milhões de pessoas sem cobertura médica, o que corresponde a 15% da população. Nesse grupo, a maioria é formada por hispânicos e afro-americanos, disse à AFP o presidente da Associação de Centros Comunitários de Saúde da Flórida (FACHC), Andrew Behrman.

Segundo Behrman, o fato de existir na Flórida uma importante comunidade empresarial composta de pequenos negócios - que não conseguem fornecer assistência médica a seus empregados - e, ao mesmo tempo, por ser um estado com uma grande quantidade de imigrantes explica os quatro milhões de moradores sem cobertura.

O Executivo e o Legislativo locais têm estado sob controle dos republicanos da ala mais conservadora, que "decidiram há dez anos não receber os 51 bilhões de dólares para expandir o Medicaid (subsídio federal para os mais pobres)", comentou Behrman, acrescentando que "isso significa que cerca de 1,5 milhão de pessoas, mesmo no ACA (Obamacare), não serão capazes de pagar um seguro médico".

Behrman reconheceu que o desafio de lugares como a Flórida é enorme.

Os trabalhadores autônomos e as empresas pequenas com menos de 50 funcionários têm até 1o de março do ano que vem para comprar seguros e garantir cobertura para 2014. Caso não o façam, terão de pagar multas que vão de US$ 95 por pessoa a US$ 285 por família.

"Na Flórida, onde a população não assegurada é enorme, esperamos que, uma vez que o ACA tenha sido totalmente lançado no mercado, um grande número dessas pessoas escolha um seguro de saúde que se ajuste às suas necessidades", acrescentou.

"Isso reduzirá o número da população sem seguro nas salas de emergência, e aumentará os números para que possam ter acesso à assistência médica", disse Behrman, informando que os centros de saúde comunitária atendem cerca de 500 mil pessoas sem seguro por ano.

Berhman confirmou que os primeiros passos da reforma de saúde esta semana apresentaram vários problemas técnicos, atribuídos "ao incrível volume de pessoas tentando se registrar".

"No final das contas, o ACA trata de pessoas. Ter acesso à saúde realmente impacta a vida de uma pessoa. Ficam menos doentes, podem receber atenção para problemas antes que se transformem em grandes problemas, com gastos maiores", argumentou.

Reitich garante que não desistirá de acessar a página do Obamacare. "Continuarei tentando, porque é uma lei que dá segurança e tranquilidade familiar", justificou.

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