Um ano depois, brasileiras lembram do atentado na Maratona de Boston

Uma delas foi atingida por pregos nas perdas. Outra faz tratamento para perder a fobia a multidões
Marcony Almeida
Publicado em 20/04/2014 às 22:42
Uma delas foi atingida por pregos nas perdas. Outra faz tratamento para perder a fobia a multidões Foto: Marcony Almeida/Especial para o JC


As três amigas são inseparáveis, e aquele dia da Maratona de Boston estava programado para ser mais um evento juntas e de muita alegria, até que a explosão de duas bombas mudou para sempre suas vidas. Um ano após os ataques terroristas na linha de chegada da maior maratona dos Estados Unidos, que mataram três pessoas e feriram mais de 260, as cariocas Cristina Pitanga, 41, e Carolina Nepveu, 30, e a mineira Mary Melo, 50, voltaram ao local onde têm procurado evitar e relembraram os momentos mais trágicos de suas vidas. 

Elas estavam a cerca de quatro metros onde estourou a primeira bomba, e viram o momento em que a panela de pressão usada no ataque começou a sair fumaça e explodir. Hoje, Mary continua em tratamento terapêutico para ajudar a superar a fobia de multidões ou local fechado. Carolina e Cristina evitam a mídia quando o assunto se refere àquele trágico momento. No dia da corrida, realizada há 111 anos durante o Dia do Patriota, em Boston, as três amigas foram para o Centro da Cidade com a intenção de saudar os vencedores na linha de chegada. Após rápidas compras, elas receberam a notícia no celular que o primeiro vencedor havia cruzado a faixa, então juntas correram para o local.

“Quando fomos nos aproximando do lugar exato onde estourou a primeira bomba, vimos que a bandeira do Brasil estava bem próxima a de outros países participantes”, lembra Mary, que é funcionária do Consulado Geral do Brasil em Boston. “Então paramos para tirar fotos e sentarmos nas barras de segurança para ver os finalistas”, continua. Naquele momento, as três contam que a multidão de espectadores as impediam de focalizar a bandeira brasileira na foto. “Começamos a reclamar que ninguém parava para deixar-nos fotografar. E só depois percebemos que aqueles que nos impediam foram os responsáveis por estarmos vivas hoje”, recorda Carolina Nepveu. Se elas tivessem conseguido fotografar na primeira tentativa, teriam continuado a caminhada em direção à primeira explosão. 

A bomba caseira, feita dentro de uma panela de pressão com explosivos pelo acusado Tamelan Tsarnaev, fumaçou antes de estourar. A segunda bomba explodiu logo em seguida pelo irmão mais novo, Dzhokhar Tsarnaev, a 500 metros da primeira. “Foi naquele momento da fumaça que pensei que estourariam fogos de artifício saindo do chão. Foi então que demos alguns passos para trás e dentro de segundos aconteceu a explosão”, lembra Mary. As amigas correram para lados diferentes, Mary e Cristina recordam de seus corpos cobertos de sangue daqueles que haviam perdido partes das pernas e braços à sua frente. “Foi a cena mais horrível de nossas vidas.” 

Dentre as três, Carolina foi a única ferida com a explosão. Pedaços de pregos se espalharam pelas duas pernas deixando cicatrizes que ela prefere não recordar. Elas se encontraram minutos depois no estacionamento e se abraçaram e choraram continuamente. “Nem naquele momento imaginávamos que havia sido um ataque terrorista”, comenta Cristina Pitanga. 

As marcas deixadas por aquele momento trágico estão aos poucos sendo recuperadas pelas cariocas Carolina e Cristina, e pela mineira Mary. As cariocas já conseguem falar sobre o assunto sem medo e retornaram ao local da tragédia para essa reportagem, mas ainda tentam se distanciar das notícias sobre os ataques na imprensa. A mineira está superando a fobia com a ajuda do psicólogo e se recuperando de pressão alta e insônia. 

No entanto, as três citam que a maior lição deixada pela tragédia foi a felicidade de poder continuar vivas. “Quando penso que hoje estou aqui falando sobre esse assunto, já conseguindo ficar sozinha e dormir bem, faz-me lembrar que precisamos viver intensamente cada dia sem se preocupar com o amanhã. E desfrutar cada minuto, porque foi por questão de minutos de distância daquela bomba que estou viva”, reflete Mary Melo. 

Carolina diz que renasceu sua fé na certeza que há uma força superior protegendo a todos. Cristina lembra que desde aquele dia ela agradece diariamente a Deus por ter o corpo sadio, e poder andar sem a ajuda de aparelhos. “Devemos ser gratos todos os dias por isso”, aconselha. “Prefiro a saúde do que US$ 1 milhão”, concluiu, referindo-se a quantia que os sobreviventes estão recebendo de um fundo criado para as vítimas.

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