Oitenta e três pessoas foram detidas em manifestações realizadas em vários bairros de Nova Iorque na noite de quarta-feira contra a decisão de um júri de não processar um policial branco pela morte de Eric Garner, um pai de família negro.
A decisão foi anunciada dez dias depois de um veredicto parecido em Ferguson (Missouri), que provocou protestos em todo o país. Quase 5.000 pessoas ocuparam a Times Square, a Columbus Circle, áreas do Harlem e até de Staten Island, o bairro onde morreu Garner, de 43 anos, durante uma violenta operação policial em 17 de julho.
A Polícia de Nova Iorque anunciou nesta quinta-feira que 83 pessoas foram detidas, mas não registrou incidentes graves. Perto do Rockefeller Center, onde acontecia a tradicional cerimônia de apresentação da Árvore de Natal, centenas de pessoas protestaram em meio aos turistas.
A polícia, que havia bloqueado completamente a rua 46, deteve vários ativistas que tentaram sentar na calçada. Na capital Washington, também aconteceram várias pequenas manifestações, sem incidentes.
Pai de três filhos, suspeito de vender cigarros ilegalmente, Eric Garner morreu após ter sido contido à força por vários policiais brancos. Um deles, identificado como Daniel Pantaleo, segurou Garner pelo pescoço, uma prática proibida em Nova Iorque.
A atuação de Pantaleo foi filmada por um cinegrafista amador. No vídeo, Garner se queixa várias vezes de não conseguir respirar. Obeso e asmático, ele perdeu os sentidos em seguida e foi declarado morto no hospital. A morte foi classificada como homicídio pelo Instituto Médico Legal da cidade.
"Estamos vendo várias situações em que as pessoas não têm confiança de que estão sendo tratadas de maneira justa", reagiu rapidamente o presidente Barack Obama após a decisão do grande júri. "Não vamos parar até ver o fortalecimento da confiança e da responsabilidade que existe entre nossas comunidades e nossa polícia", completou.
Investigação federal
O secretário de Justiça, Eric Holder, anunciou a abertura de uma investigação federal sobre a possível violação de direitos civis de Garner. A mãe da vítima não escondeu a decepção com a decisão do júri.
"Como vamos confiar em nosso sistema judicial quando nos decepcionam neste momento?", questionou Gwenn Carr em uma entrevista coletiva. "É um dia muito emotivo, muito doloroso para a cidade", afirmou o prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, que considera necessário "encontrar uma forma de avançar".
De Blasio, que é casado com uma negra, revelou que tinha conversado com os filhos há alguns anos sobre "os perigos que poderiam encontrar" durante operações policiais. O prefeito pediu aos manifestantes que protestem de maneira "pacífica e construtiva". Também defendeu um trabalho "para que isto mude".
"Sem motivo razoável"
O júri, integrado por 23 americanos residentes em Nova Iorque, "concluiu que não existia motivo razoável para decidir por um julgamento" de Daniel Pantaleo "depois de deliberar sobre a evidência apresentada no caso", afirmou o procurador de Staten Island, Daniel Donovan.
O policial Pantaleo, de 29 anos, divulgou um comunicado no qual afirma que jamais teve a intenção de machucar Garner e pediu desculpas à família. Mas a esposa de Garner, Esaw, rejeitou o pedido e afirmou que o policial "deveria sentir remorso por não ter ouvido os gritos do marido, que pedia para que o deixassem respirar".
A Polícia de Nova Iorque, a maior dos Estados Unidos, conta com 35.000 oficiais e é criticada frequentemente pelo uso excessivo da força, principalmente contra as minorias latina e negra. De Blasio anunciou na quarta-feira que 60 agentes da cidade começarão a usar no fim de semana uma microcâmera no uniforme, em um período de testes. Com esta iniciativa, a Prefeitura pretende tornar mais transparentes as ações policiais.