Era o início dos anos 2000. O presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide vencia as eleições e assumia, em 2001. Apenas 10% da população votou e isso criou um impasse para o governo recém-eleito. Aristide consegue, com apoio internacional, manter-se no poder até 2004 quando a violência cresceu ainda mais no país e ele renunciou. Com a instabilidade política criada, o Conselho de Segurança das Nações Unidas solicita aos países-membros a criação de uma força internacional para devolver a paz ao Haiti. É formada, então, em 2004, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, a Minustah. O comando da Missão foi designado ao Brasil. Nesses dez anos, cerca de 15 mil militares do Brasil serviram na Minustah. A cada seis meses todos são substituídos.
Para este ano, a ONU vai iniciar a retirada das tropas do Haiti. Uma das maiores críticas à missão é a sua longa duração. Na última resolução, o Conselho de Segurança da ONU previu a redução do componente militar em 29,16%, em 2015. A tropa passará de 1,2 mil para 850 soldados. “Acho que temos que preparar nossa saída. Temos que jogar nossas fichas no país, investir para que tenhamos a certeza de que podemos sair com segurança”, frisou o comandante da Minustah, general José Luis Jaborandy Junior.
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Atualmente, 13 países atuam no Haiti. Na última década esse número chegou a 19. O comandante Jaborandy Junior afirma que, com o passar do tempo, a missão mudou muito. Principalmente depois do terremoto de 2010.
“A Minustah mudou drasticamente e eu falo pelo componente militar. No início em 2004, 2005, 2006, ao componente militar cabia garantir a segurança. Hoje em dia, o país foi evoluindo e a missão também. Nós continuamos com o mesmo mandato, mas a postura evoluiu junto com o país. Hoje em dia a nossa principal função é apoiar as autoridades haitianas na manutenção da segurança”, disse o militar. Acrescentou que a pedido do governo haitiano à Missão de Paz da ONU tem ajudado em iniciativas para a melhoria das condições de vida da população.
O capitão do Exército, Alexandre Meireles Vieira, subcomandante do Forte Nacional – uma das bases militares onde há presença brasileira – destacou as mudanças na missão e na integração com a sociedade haitiana. Além do patrulhamento, as Forças de Paz atuam em atividades de cooperação civil-militar com atendimentos comunitários e médico-hospitalares na comunidade.
“Nós reunimos os líderes [comunitários], eles passam para a gente as necessidades que têm, que são muitas, e nós, dentro das nossas possibilidades, executamos diversas atividades”, completou Alexandre Meireles.
Há quem apoie e quem discorde da presença da Minustah no país. O artista de rua Joel Joseph é um dos entusiastas. “Agradeço muito aos soldados [brasileiros]. Porque pelos soldados, pelos brasileiros, estamos um pouquinho em paz neste país. Mesmo que você não veja isso”, diz. Além de Joel, crianças, das mais diversas idades, parecem gostar da presença dos militares. E é comum que os cumprimentem sorrindo e dizendo: “Bon bagay!”, que em crioulo significa “gente boa”.
O historiador da Universidade de Brasília Virgílio Arraes pondera a atuação das tropas. "Há um momento em que a sociedade hatiana, mesmo que com dificuldades, é que tem de ser senhora do seu próprio destino”, destacou. “Em alguns momentos, a presença foi importante para não aprofundar ainda mais o caos. Mas o problema é que, com o passar do tempo, a população haitiana se acostume.”