Empunhando uma pistola, um adolescente executa a sangue frio dois homens ajoelhados na sua frente. Este vídeo chocante divulgado recentemente pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) ilustra o doutrinamento de uma nova geração.
O aprendiz jihadista, de cerca de 12 anos, acaba de matar duas pessoas acusadas de trabalhar para os serviços de inteligência russos, afirma o EI. Uma afirmação que não pôde ser confirmada através de fontes independentes.
O jovem carrasco apareceu em um vídeo de propaganda do EI em 2014. Perguntado sobre o que planejava fazer no futuro, o menino responde: "Serei a pessoa que vai massacrar vocês, os infiéis. Serei um mujahedine (combatente de Deus)".
O menino, que diz se chamar Abdullah e ser proveniente do Cazaquistão, segura uma kalashnikov sob os olhares atentos de outros de sua idade. As crianças também têm aulas de religião e árabe, e participam de exercícios de tiro e treinamento físico.
"São a próxima geração", adverte o narrador.
Nos últimos seis meses, explica Charles Lister, analista do Brookings Doha Center, o EI "aumentou gradualmente o nível de violência das crianças" em seu material de propaganda.
"Apresentar crianças realizando atos de semelhante violência é uma forma que o EI tem de sugerir que qualquer homem em idade de combater deveria participar de sua luta armada", explica Lister.
O grupo jihadista incute a violência desde a infância para, segundo Lister, "criar um ambiente que lhe permitirá seguir recrutando simpatizantes nos próximos anos".
Para o EI, isso tem por objetivo fazer com que seu "califado", decretado em junho nos territórios sob seu controle na Síria e no Iraque, perdure ao longo do anos.
Ele não é o único a usar crianças para sua propaganda, explica Aymenn al-Tamini, pesquisador do Middle East Forum, mas no caso desta organização a mensagem tem uma importância especial porque "se apresenta como um verdadeiro Estado".
"O EI considera que as crianças são essenciais para perpetuar sua existência", afirma Tamini.
Botas muito grandes
Atualmente, o grupo jihadista publica fotografias propagandística contendo imagens de crianças. Uma delas mostra um grupo de crianças com máscaras, roupas camufladas e com kalashnikovs nas mãos posando em frente à bandeira preta da organização.
Em outra imagem, aparecem dois fuzis kalashnikov perto de um jovem com botas que ficam muito grandes nele.
Mais recentemente, o grupo divulgou duas fotografias de meninas com véu e kalashnikovs na mão.
Este doutrinamento ideológico e a participação em atos violentos têm consequências psicológicas dramáticas para as crianças, estima Jeffrey Bates, porta-voz da agência das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Iraque.
Isso gerará - afirma - um grave problema para o Iraque em alguns anos, porque "estamos falando de milhares e milhares de crianças".