Ataques egípcios na Líbia reavivam tensões entre Egito e Catar

O Catar é um dos países a expressar reservas quanto à reação marcial do Egito à decapitação de 21 cristãos pelo EI
Do JC Online
Publicado em 19/02/2015 às 11:06
O Catar é um dos países a expressar reservas quanto à reação marcial do Egito à decapitação de 21 cristãos pelo EI Foto: Foto: MAHMUD TURKIA / AFP


Os ataques egípcios na Líbia reavivaram as tensões entre o Egito e Catar, num momento em que o Cairo enfrenta dificuldades para mobilizar a comunidade internacional na ONU contra o crescente poder do grupo Estado Islâmico (EI) em território líbio.

O Catar é um dos países a expressar reservas quanto à reação marcial do Egito à decapitação de 21 cristãos pelo EI. Após bombardear na terça-feira posições jihadistas na Líbia, seu presidente Abdel Fattah al-Sissi apelou por uma intervenção militar neste país por uma coalizão internacional.

Na quarta-feira, o Catar criticou o fato de Cairo não ter consultado os outros países da Liga Árabe "antes de qualquer ação militar unilateral contra outro Estado-membro" da organização pan-árabe.

O delegado egípcio na Liga respondeu acusando Catar de apoiar o terrorismo.

Em protesto contra estas declarações, Doha convocou nesta quinta seu embaixador no Cairo.

Contra todas as probabilidades, as monarquias do Golfo se posicionaram a favor do Catar, rejeitando as acusações "infundadas" de "apoio ao terrorismo" proferidas pelo Egito.

Esta reação contrasta com o apoio apresentado pela maioria das monarquias do Conselho de Cooperação do Golfo, incluindo a Arábia Saudita, ao regime do presidente Sissi desde a destituição e prisão em 2013 do presidente Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana.

O Catar foi criticado por seus vizinhos por seu apoio a esta fraternidade, declarada organização "terrorista" na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos.

Portanto, as relações entre Catar e Egito permaneceram tensas por meses até Doha apresentar seu apoio ao presidente Sissi em dezembro.

Solução política

A disputa com o Catar ilustra a falta de consenso na comunidade internacional sobre a Líbia, com a maioria dos países contrários a uma opção militar.

Na quarta-feira, diante do Conselho de Segurança em Nova York, o ministro das Relações Exteriores líbio, Mohammed al-Dairi, pediu à ONU para levantar o embargo sobre as armas imposto a seu país a fim de facilitar a  luta contra os jihadistas.

A comunidade internacional deve "ajudar o exército líbio a reforçar as suas capacidades militares", declarou, considerando que as forças nacionais já penam para combater as milícias armadas que controlam grande parte do território, incluindo Trípoli.

O ministro egípcio das Relações Exteriores, Sameh Shukry, apoiou este pedido, indicando que o projeto de resolução apresentado ao Conselho de Segurança incluiu um "levantamento das restrições" apenas às armas destinadas ao governo líbio reconhecido pela comunidade internacional.

Mas, segundo ele, faz-se necessário "a imposição de um bloqueio naval" para impedir o fornecimento de armas para as milícias que operam nas áreas da Líbia "fora do controle das autoridades legítimas".

Vários membros do Conselho, incluindo a Rússia, estão relutantes quanto ao levantamento do embargo imposto à Líbia desde 2011, citando o risco de as armas caírem em mãos erradas.

Muitos países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, defenderam claramente a sua preferência por uma "solução política para o conflito".

O representante da ONU na Líbia, Bernardino Leon, declarou na quarta que "espera que um acordo político seja alcançado em breve" entre as facções para permitir a formação de um governo de unidade nacional.

Essas esperanças são compartilhadas pelos países do Norte de África, como a Tunísia e Argélia.

"Somos a favor de uma solução política, do diálogo (...) O fator tempo é extremamente importante, é necessário que todas as partes da Líbia se mobilizem" para atingir esse objetivo, disse nesta quinta-feira o chefe da diplomacia argelina, Ramtane Lamamra.

O presidente americano Barack Obama também indicou na quarta que as operações militares, tais como os ataques aéreos contra o EI no Iraque e na Síria, não poderiam ser a única resposta para o "extremismo violento".

A Líbia está dividida e sob o controle de várias milícias, algumas delas islamitas. Dois governos estão competindo pelo poder: um próximo da milícia Fajr Libya, e outro que foi reconhecido pela comunidade internacional, trabalhando no leste, perto da fronteira com o Egito.

O principal reduto do ramo líbio de EI está em Derna, 1.300 km a leste de Trípoli.

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