Um policial foi indiciado nesta quarta-feira por homicídio doloso qualificado pela morte de um adolescente de 14 anos na terça-feira (24) perto de uma universidade onde estudantes enfrentaram as forças de segurança em San Cristóbal (oeste), informou o Ministério Público da Venezuela.
"Foi acusado pelo crime de homicídio intencional qualificado por motivos fúteis e ignóbeis com agravante, por tratar-se de um adolescente", informou a agência oficial 'Venezolana de Noticias' (AVN), que cita declarações da procuradora-geral Luisa Ortega.
Na terça-feira, quando um grupo de estudantes enfrentava policiais perto de uma universidade de San Cristóbal depois de uma manifestação, Kluiverth Roa, um aluno de 14 anos que estava em uma área próxima aos protestos, morreu ao ser atingido por um tiro na cabeça.
O policial indiciado foi identificado como Javier Mora Ortiz, de 23 anos.
O jovem Clivert Mora, estudante de um colégio da cidade, foi levado ao hospital Central, onde foi comprovada a morte.
O presidente, Nicolás Maduro, que lamentou a morte do adolescente e a chamou de "ato inverossímil, afirmou que Roa foi atingido quando policiais tentavam reprimir uma agressão de um grupo de encapuzados.
Relatos de testemunhas e estudantes divulgados pela imprensa local afirmam que o adolescente teria ofendido o policial, que depois de tentar deter o menor sem sucesso teria acionado a arma.
"É necessário fazer uma reconstituição dos fatos e ouvir algumas testemunhas para ter certeza de como tudo aconteceu", disse Ortega ao canal Venevisión.
A morte aconteceu poucas semanas depois da autorização do governo para que as unidades de segurança utilizassem "força letal" para controlar a ordem pública.
Estudantes de San Cristóbal, berço dos protestos contra o governo que sacudiram a Venezuela de fevereiro a maio de 2014 e deixaram 43 mortos, criticavam na terça-feira a crise econômica, o que provocou distúrbios. Também aconteceram protestos em Mérida e Maracaibo.
Organizações estudantis de Caracas convocaram um protesto para esta quarta-feira, mas de maneira interna para que não sejam conhecidos o trajeto e o horário da manifestação.
As manifestações de 2014, denunciadas por Maduro como um "golpe de Estado continuado", denunciavam a falta de segurança, a crise econômica, a inflação, que chegou a 68,5% este ano, e a crescente escassez de alimentos e produtos básicos.
Na véspera, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) expressou uma profunda preocupação com a situação política na Venezuela e a consequências para a vigência dos direitos humanos, em particular a prisão de civis em instalações militares.
"A Comissão recorda ao Estado da Venezuela sua obrigação de garantir a vida, a integridade e a segurança de todas as pessoas privadas de liberdade, assim como condições de detenção conforme os padrões internacionais na matéria", assinala a entidade que é um órgão independente da Organização dos Estados Americanos. "É incompatível com os padrões internacionais que civis sejam detidos em uma prisão militar".
A nota da CIDH recordou que o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, foi detido por homens fortemente armados e que não apresentaram uma ordem judicial de prisão. Outros opositores, como Leopoldo López e Daniel Ceballos, estão detidos na prisão militar de Ramo Verde, assinalou a Comissão.