Violentos combates foram registrados nesta quinta-feira em Aleppo, enquanto o líder da oposição síria no exílio anunciou pela primeira vez que não exigiria a saída do presidente Bashar al-Assad como pré-condição para negociações de paz.
O secretário de Estado americano, John Kerry, declarou que uma "pressão militar" poderia ser necessária para fazer Assad deixar o poder, enquanto Moscou anunciou uma nova reunião entre a oposição e o regime em abril, na capital russa.
Na segunda cidade síria, "violentos combates e bombardeios inciaram nesta manhã no oeste da cidade, onde ocorreu um ataque no dia anterior", declarou à AFP o diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.
A explosão na quarta-feira de uma poderosa carga explosiva subterrânea contra os serviços de inteligência da força aérea e os combates que se seguiram fizeram um total de 34 mortes de ambos os lados, de acordo com o OSDH.
Os civis também pagam um preço muito alto. Pelo menos 22 deles foram mortos, incluindo oito que foram queimados vivos quando um helicóptero lançou um barril de explosivos sobre pessoas que esperavam para comprar combustível no bairro rebelde de Qadi Askar, no leste de Aleppo, segundo a ONG.
Já os bombardeios rebeldes de quarta-feira contra a área sob o controle do governo havia custado a vida de nove civis, incluindo duas mulheres e três crianças, principalmente no bairro de Saladino, no oeste. É nesta área que o enviado da ONU Staffan de Mistura pretende propor uma trégua.
Além disso, segundo a mesma fonte, ao menos seis estudantes e um professor morreram e 12 pessoas ficaram feridas, entre elas nove crianças, em um ataque aéreo do regime perto de uma escola ao norte de Idleb (noroeste).
Aleppo, ex-centro econômico da Síria, entrou no conflito em 2012 e desde então está dividida entre zonas controladas pelos rebeldes a leste e pelo regime a oeste.
'Nova estratégia'
Para o regime e a oposição, a retomada da violência coincide com a visita, desde terça-feira, de uma delegação da ONU chefiada por Khawla Matar, chefe do gabinete do mediador, encarregado de preparar a trégua parcial proposta por de Mistura.
"O planejamento do ataque levou tempo, mas serviu de mensagem clara ao regime e a de Mistura", afirmou à AFP Samir Nashar, membro da coalizão opositora.
Durante uma visita a Paris, o líder da oposição no exílio, Khaled Khoja, surpreendeu ao anunciar "uma nova estratégia" de "lançar um diálogo com todos os grupos de oposição e personalidades que querem estabelecer uma nova Síria".
"Nosso objetivo final é nos livrar de Bashar al-Assad, mas isto não é mais uma pré-condição para o início do processo de negociação", declarou, ressaltando que "este processo deve conduzir a um novo regime e a uma nova Síria".
A questão da saída de Assad e a vontade da Coalizão de se apresentar como única representante da oposição bloquearam até o momento toda tentativa de aproximação da oposição no exílio e a do interior.
"A declaração de Khoja é positiva", considerou nesta quinta-feira Munzer Khaddam, porta-voz do Comitê de Coordenação Nacional das Forças de Mudança Democrática (CCND), principal coalizão dos opositores do interior.
Em Riad, John Kerry declarou que "Assad perdeu totalmente sua legitimidade (...) No final das contas, uma combinação de diplomacia e pressão será necessária para provocar uma transição política" na Síria".
Já em Moscou, o porta-voz do ministério russo das Relações Exteriores anunciou que "representantes de uma parte mais ampla da oposição síria" devem participar de uma nova reunião com emissários do regime em abril.