Com mais de um ano de antecedência, a corrida presidencial nos Estados Unidos começou agitada e apresenta uma polarização que vai além do histórico duelo entre republicanos e democratas. A Casa Branca pode ser disputada mais uma vez por duas poderosas dinastias políticas no país: Clinton e Bush. O primeiro confronto foi vencido por Bill Clinton em 1992. Sendo um país forjado em princípios contrários aos privilégios aristocráticos e que pauta parte da sua política externa na defesa da alternância de poder, a possibilidade de reviver esse cenário levanta contestações nos EUA.
Veja vídeo de lançamento da candidatura de Hillary Clinton
O caminho até as eleições americanas ainda é longo. Os políticos que estão anunciando suas pré-candidaturas, como a democrata Hillary Clinton e o republicano Marco Rubio, são apenas postulantes que esperam ser indicados pelos respectivos partidos. Só no primeiro semestre do ano que vem é que o Partido Republicano e o Partido Democrata vão realizar convenções e definir o nome da legenda que concorrerá ao cargo hoje ocupado pelo presidente Barack Obama.
Como os dois partidos polarizam a eleição americana, esse momento pode ser considerado como a primeira fase da eleição presidencial. É justamente visando essa indicação que os possíveis postulantes já começaram a percorrer o país em busca do apoio dos eleitores. Hillary Clinton, após anunciar sua pré-candidatura no domingo passado, fez campanha no Estado de Iowa, o primeiro a votar no processo das primárias de 2016 e onde ela foi derrotada em 2007 pelo então senador Obama.
No Partido Democrata, a ex-primeira dama é a grande favorita para ser a indicada. No Republicano, o posto de preferido é ocupado por um nome que ainda não anunciou oficialmente que disputará as primárias, o ex-governador da Flórida Jeb Bush. A democrata tem na biografia o fato de já ter sido senadora por Nova Iorque, secretária de Estado de Obama e ser mulher de Bill Clinton, presidente dos EUA de 1993 a 2001. Jeb, por sua vez, carrega no sobrenome o peso de ser irmão de George W. Bush, presidente de 2001 a 2009, e filho de George H. Bush, presidente de 1989 a 1993.
As duas famílias, tirando os dois mandatos da administração Obama, se revezam na presidência desde 1989. Número que cresce, se for considerado o fato de o pai de Jeb Bush ter sido o vice-presidente na gestão Ronald Reagan, chefe do executivo de 1981 a 1989. É de olho nessa continuidade de poder familiar que as atenções dos eleitores americanos se voltam nesse momento. Fato que promete também ser bastante explorado pelos outros candidatos. Foi se apresentando como o candidato republicano do “novo século” que o senador Marco Rubio, de origem cubana, confirmou essa semana sua intenção de disputar o posto.
Para o doutor em Relações Internacionais Henrique Francesquine, a política americana está muito ligada a esses núcleos familiares, já que, dentre outras nuances, esses grupos possuem grande capacidade de captar verba de campanha e de obter apoio de outros políticos. Mesmo elencando esses motivos, o estudioso aponta como negativo para a democracia um cenário que pode levar duas famílias a comandar a maior potência econômica e militar do planeta por quase um terço de século.
Passando para os desafios que Hillary e Jeb terão para garantir a indicação dos partidos, analistas apontam que o caminho da ex-primeira dama será mais tranquilo que o do ex-governador texano. O professor de Relações Internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Francisco Américo Cassano, aponta que a experiência de Hillary em política externa é um ponto a favor da candidatura, tendo sido a reaproximação com o Irã e com Cuba duas bandeiras defendidas pela democrata quando foi secretária de Estado. No caso de Jeb, o que pesa é a força que o sobrenome carrega. Cassano argumenta que o histórico de guerras das administrações dos Bush é outro ponto que pode contar a favor do republicano, já que o temor da escalada do Estado Islâmico pode ser usado pelo republicano.