Polícia sul-africana envia reforços a Johannesburgo após novos atos xenófobos

Grupo agride estrangeiros do continente que trabalham na África do Sul
Da AFP
Publicado em 18/04/2015 às 17:13
Grupo agride estrangeiros do continente que trabalham na África do Sul Foto: Foto: Rajesh Jantilal/AFP


A polícia sul-africana enviou reforços neste sábado á área urbana de Johannesburgo após mais uma noite de violência xenófoba perpetrada por pequenos grupos, apesar da condenação internacional.

Neste ambiente, os estrangeiros do continente que trabalham na África do Sul estão em alerta máximo, enquanto cresce a pressão diplomática para evitar o banho de sangue de 2008, quando foram registradas 62 mortes em distúrbios similares.

Estes motins xenófobos contra imigrantes forçou o presidente sul-africano, Jacob Zuma, a cancelar uma viagem planejada para a Indonésia.

A organização Fórum Africano Diaspora (ADF) solicitou ao governo sul-africano a proteção aos estrangeiros africanos que vivem em Johannesburgo e Pretória. Pediu também que o exército seja enviado para a 'township' de Alexandra, onde vivem 400.000 pessoas distribuídas em 7,6 quilômetros quadrados, muitas delas em casas de lata de apenas um cômodo. 

Nesta 'township' - um bairro pobre no norte da aglomeração de Johannesburgo - a polícia disparou balas de borracha contra os agressores. 

"Quantos imigrantes têm que morrer até que o governo sul-africano decida usar o exército, como em 2008?", declarou o porta-voz da ADF, Jean-Pierre Lukamba, de origem congolesa, em comunicado. 

Até o momento, a polícia anunciou a morte de seis pessoas, mas de acordo com a ADF pelo menos 15 morreram e outras 2.500 ficaram deslocadas desde o início do conflito neste mês.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) disse nesta sexta-feira estar "muito preocupado" com a situação na África do Sul. Na região, vários países de onde são originários os imigrantes se preparando para repatriar seus cidadãos.

 

Zuma visita bairro de imigrantes

Diante da pressão internacional, o presidente Zuma visitou neste sábado um dos cinco bairros de imigrantes na região de Durban, onde foi recebido com hostilidade, constatou-se.

"Tarde demais, tarde demais! Volte para casa, volte para casa! - gritavam as vítimas da violência, em referência à incapacidade da polícia em deter os agressores.

"Não há como justificar estes ataques contra estrangeiros. A maioria dos sul-africanos não quer a partida de vocês, apenas uma pequena minoria (...) e vamos deter esta violência", prometeu Zuma.

O presidente sul-africano pediu a todas as igrejas e líderes religiosos que organizem uma jornada de orações neste domingo "para enviar uma mensagem de paz e de amizade a toda a população".

 

Trinta prisões

"Mais de 30 pessoas foram presas durante a noite e serão processadas por violência pública, roubo, agressão e vandalismo. A situação se acalmou, mas vamos reforçar nossas tropas", disse Lungelo Dlamini, porta-voz da polícia provincial.

A violência foi realizada por "pequenos grupos de entre vinte e trinta pessoas que aproveitaram para saquear e vandalizar", contou Dlamini, explicando que algumas das lojas atacadas eram pequenos comércios comandados por estrangeiros.

A aglomeração de Johannesburgo é extensa e também houve violência em Thokoza, sudeste, uma cidade de maioria negra, palco de vários confrontos no início dos anos 1990.

Também foram afetados os bairros de Cleveland e Jeppestown, onde foram registrados confrontos entre a polícia e moradores.

Desde os tumultos de 2008 esse tipo de violência é recorrente na África do Sul, gigante econômico do continente que recebe dois milhões de imigrantes africanos, segundo os dados oficiais - além de muitos imigrantes indocumentados.

Isso reflete as frustrações da maioria negra do país,  que ainda sofre economicamente, e do reaparecimento de uma cultura violenta agravada sob o apartheid.

Em Maputo, capital de Moçambique, centenas de pessoas marcharam neste sábado em frente à embaixada sul-africana.

"Esses atos xenófobos são muito tristes porque a África do Sul e Moçambique têm uma história comum, nós os apoiamos muito na época do apartheid", disse à AFP um manifestante, Amilcar Manhiça Junior.

Em meio a gritos de "Zuma, assassino" e "não à xenofobia", a multidão foi dispersada pela polícia sem incidentes.

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