O secretário de Estado americano, John Kerry, considerou nesta quarta-feira (1º) que as negociações sobre o programa nuclear iraniano em Viena "avançaram", apesar da persistência de pontos de desacordo.
"Trabalhamos muito, muito duro, e enfrentamos questões muito difíceis, mas acreditamos que estamos fazendo progressos, e é por isso que vamos continuar a trabalhar", disse Kerry, na entrevista coletiva em frente ao Palácio Coburg, após a reunião.
Esses comentários foram feitos um dia após os negociadores do Irã e das potências integrantes do P5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia e Alemanha) prorrogarem as discussões até 7 de julho para chegar a um acordo.
Na mesma direção, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, considerou "que temos feitos e faremos mais progressos", acrescentando que "vamos utilizar todas as opções para conseguir".
As negociações devem se intensificar na quinta-feira, com a chegada dos ministros das Relações Exteriores da França e da China, Laurent Fabius e Wang Yi, respectivamente, a Viena, assim como da responsável pela diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini.
O objetivo é especificar as linhas do acordo-quadro concluído em abril para garantir a natureza pacífica do programa nuclear de Teerã em troca do levantamento das sanções internacionais que sufocam a economia iraniana.
Sinal de uma leve distensão, o Irã anunciou na quinta-feira ter recuperado 13 toneladas de ouro, parte de suas reservas bloqueadas no âmbito das sanções internacionais, depois de um acordo concluído à margem das negociações em Viena.
'Resolver as diferenças'
Em paralelo aos esforços diplomáticos em Viena, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, deve se reunir nesta quinta-feira com autoridades iranianas de alto escalão para "acelerar a resolução das questões que continuam em suspenso".
A agência da ONU será um dos atores-chave em em caso de acordo, o qual colocará o programa nuclear iraniano sob rígido controle internacional em troca da suspensão das sanções.
Em seu relatório mensal sobre a implantação, por parte do Irã, do acordo interino já concluído em 2013 com as grandes potências, a AIEA constatou que Teerã está respeitando seus compromissos.
Um importante ponto de fricção persiste, porém, entre o Irã e a agência: a PMD (Possível Dimensão Militar) do programa nuclear iraniano.
A AIEA suspeita de que Teerã tenha feito pesquisas pelo menos até 2003 para obter a bomba atômica e, diante disso, tenta ter acesso aos cientistas envolvidos, assim como a documentos e locais que possam abrigar essas investigações.
Citando uma fonte ligada às negociações, a agência de notícias Isna relata que o Irã "proporá soluções para resolver as diferenças".
Não haverá acordo a qualquer preço
Há 20 meses, os países do P5+1 estão envolvidos em intensas negociações para obter compromisso histórico sobre esse polêmico contencioso que já dura pelo menos dez anos.
Um acordo pode consagrar o retorno da República Islâmica xiita à cena regional e internacional, aumentando a preocupação dos regimes sunitas da região e de Israel.
O presidente americano, Barack Obama, já advertiu que vai rejeitar "um acordo ruim".
"Ninguém está pronto para um acordo a qualquer preço", rebateu um dos principais negociadores iranianos, Abbas Araghchi.
Além da inspeção nos locais suspeitos iranianos, outras questões-chave continuam em aberto, entre elas a duração de um acordo. A comunidade internacional quer frear o programa nuclear iraniano durante pelo menos dez anos. Na semana passada, porém, o aiatolá Khamenei se pronunciou contra uma limitação muito longa das capacidades do país.