O julgamento de Cristina de Bourbon, irmã do rei Felipe VI e filha de Juan Carlos I, acusada em um dos maiores escândalos de corrupção da Espanha, começou na manhã desta segunda-feira em Palma de Maiorca. Numa sala com o retrato de seu irmão mais novo, Felipe VI, chefe de Estado desde a abdicação de seu pai em junho de 2014, a infanta presenciou junto a outros 17 acusados a abertura do "julgamento do ano", com a leitura das acusações às 9h20 locais (6h20 de Brasília) em Palma de Maiorca, capital das ilhas Baleares.
Cristina chegou uma hora antes acompanhada de seu marido, Iñaki Urdangarin, principal acusado no caso. Os dois, com o rosto muito sério, entraram sem falar com as dezenas de jornalistas de todo o mundo que os esperavam na entrada do tribunal. "Este é mais um caso de corrupção dos muitos que estamos vendo" nos últimos anos, disse à AFP Francisco Solana, um desempregado de 45 anos que protestava em frente à corte com uma bandeira republicana sobre os ombros.
"Em outros lugares da Europa, acredito que a infanta Cristina já estaria na prisão", declarou, ilustrando a indignação de milhões de espanhóis. A princesa Cristina enfrenta um pedido de oito anos de prisão, mas pode acabar escapando do julgamento se seus advogados conseguirem convencer os juízes do caso. A filha de Juan Carlos I é acusada de fraude fiscal relacionada ao desvio de 6 milhões de euros de dinheiro público por Urdangarin e um ex-sócio.
Ela sempre se defendeu, dizendo desconhecer os esquemas de corrupção e confiar plenamente em seu marido, de quem rejeitou se divorciar, apesar da pressão de uma Casa Real determinada a limitar os danos à monarquia. O ex-sócio, Diego Torres, um dos principais acusados no mega processo por corrupção, afirmou no domingo que a Casa Real sabia dos negócios de Iñaki Urdangarin.
"A Casa Real estava informada, sabia, o supervisionava e ocasionalmente até colaborava", afirmou Torres, em entrevista divulgada no domingo à noite pelo canal de televisão La Sexta. Durante o processo, Urdangarin se esforçou para desvincular a princesa Cristina, o rei Juan Carlos e a Casa Real de todos os seus negócios.
Torres garante, contudo, que pessoas vinculadas ao antigo monarca atuavam nas atividades do Instituto Nóos, entidade sem fins lucrativos que aparece no centro deste caso, e o indicaram, assim como Urdangarin, como gestores. "Tenho 300 e-mails relacionados à Casa Real. Alguns são do rei, efetivamente, outros são de outras personas", disse, dando a entender que poderia divulgar informações comprometedoras durante o julgamento.
Brigado com Urdangarin por causa do escândalo, Torres assegurou que não fala com o ex-sócio há oito anos, apenas com o seu advogado. "Pediu-me que assumisse a maior parcela de responsabilidade em troca de dinheiro e de um cargo de trabalho", contou. Acusando os dois por prevaricação, desvio de dinheiro, fraude, delito fiscal, falsificação e lavagem de dinheiro, entre outros crimes, a promotoria pede 19,5 anos de prisão para Urdangarin e de 16,5 anos para Torres.