A coalizão internacional intensificou os seus ataques aéreos contra o grupo Estado Islâmico (EI) na província de Raqa, na Síria, onde realizou 150 bombardeios em três dias em apoio a um grande ofensiva terrestre das forças curdas e árabes.
A organização extremista também segue na defensiva no vizinho Iraque, onde as forças do governo, apoiadas por milícias locais e com o apoio aéreo da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, avançavam em direção à cidade de Fallujah, nas mãos do EI desde 2014.
A situação dos civis afetados pelos combates preocupa a comunidade internacional. O Conselho de Segurança da ONU deverá discutir nesta sexta-feira a catástrofe humanitária na Síria, onde mais de 280.000 pessoas morreram e milhões precisaram deixar suas casas desde 2011.
Em apoio à ofensiva lançada na terça-feira na província de Raqa (norte) pelas Forças Democráticas Síria (FDS), as aeronaves da coalizão, principalmente americanas, intensificaram seus ataques a posições extremistas.
"Houve uma intensificação dos ataques", indicou o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, falando de 150 bombardeios no total.
Os ataques tiveram como alvo as posições do EI ao redor de Tal Abyad e Ain Issa, as únicas duas cidades da província de Raqa fora do controle dos jihadistas e que são controladas pelas forças curdas.
Embora a aliança curdo-árabe tenha excluído um ataque imediato contra a capital provincial Raqa, o reduto mais importante do EI na Síria, os civis tentam escapar da cidade, mas são impedidos pelo EI, de acordo com o OSDH.
400 dólares para deixar Raqa
Cerca de 300.000 pessoas vivem na cidade de Raqa, onde o EI utiliza os civis como "escudos humanos", segundo as FDS.
"O EI não emite licenças para deixar a cidade, nem mesmo para os doentes ou que precisam ser tratados em outros lugares", disse Abdel Rahman.
Algumas famílias, no entanto, conseguiram escapar e chegar à província de Idleb, mais a oeste.
Segundo Abu Mohammed, um dos fundadores do grupo militante "Raqa is Being Slaughtered Silently", as pessoas pagam 400 dólares por pessoa a traficantes para tentar sair da cidade.
"Não há ninguém que se aventure nas ruas", disse outro ativista, Hamud al-Mussa. "As pessoas têm medo de um ataque da aviação, seja da coalizão, da Rússia ou do regime sírio", todos envolvidos no conflito.
A organização extremista instalou novos postos de controle militar na cidade e reforçou as suas linhas defensivas mais ao norte, segundo o mesmo grupo.
De acordo com o OSDH, 31 jihadistas foram mortos nos combates desde terça-feira, bem como um número desconhecido de combatentes das FDS, cujo principal componente é a milícia curda das YPG.
'Hipocrisia'
As FDS também são apoiadas no terreno por membros das forças especiais americanas, que desempenham um papel "de apoio e aconselhamento", segundo o Pentágono.
Neste contexto, o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu, denunciou energicamente nesta sexta-feira (27) a hipocrisia dos Estados Unidos em apoiar a milícia curda no norte da Síria.
Em uma coletiva de imprensa em Antalya (sul da Turquia), Cavusoglu considerou "inadmissível" que membros das forças especiais americanas, fotografados na quarta-feira pela AFP, carreguem a insígnia das Unidades de Proteção do Povo (YPG), uma milícia curda considerada terrorista por Ancara.
A Turquia, que insiste que não faz "nenhuma diferença" entre os grupos terroristas, considera que as YPG estão estreitamente vinculadas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que realiza desde 1984 uma mortífera rebelião em seu solo, e suspeita que buscam tomar um território no norte da Síria.
Washington considera que as YPG são um dos grupos armados mais eficazes para combater o EI em terra. O apoio explícito dos americanos às milícias curdas da Síria tensionou nos últimos meses as relações entre Ancara e Washington, aliados na Otan.