O presidente americano, Barack Obama, acusou na quinta-feira (20) Donald Trump de minar a democracia dos Estados Unidos, um dia depois de o candidato republicano causar consternação pela ameaça de não reconhecer o resultado das eleições presidenciais de 8 de novembro, insinuando uma possível fraude.
"Quando você tenta semear a dúvida nas mentes das pessoas sobre a legitimidade da nossa eleição, isso mina nossa democracia", disse Obama durante um comício em Miami.
O presidente convocou uma "grande vitória" para a democrata Hillary Clinton para "não deixar dúvidas" sobre o resultado.
Trump disse durante o debate de quarta-feira que verá no momento oportuno se aceita ou não os resultados eleitorais, abrindo a porta a um questionamento de todo o processo.
Na quinta-feira, durante um ato em Delaware (Ohio), o candidato republicano relativizou:
"Aceitarei um resultado claro das eleições, mas também me reservo o direito de responder e apresentar ações legais caso dê um resultado questionável".
No mesmo discurso, Trump antecipou que aceitaria o resultado das eleições presidenciais, mas causou confusão ao acrescentar que isto só ocorreria se ele saísse vencedor.
"Quero prometer a todos os meus eleitores (...) que aceitarei totalmente os resultados desta grandiosa e histórica eleição presidencial", disse Trump, antes de acrescentar, "se for o vencedor".
Em resposta, Obama disse em Miami: "Isto não é piada (...) isto é perigoso", condenou as "alegações sem precedentes" de Trump de que a eleição corre o risco de ser fraudada e se comprometeu a honrar qualquer resultado.
"Acreditamos na democracia e aceitamos a decisão do povo", disse o presidente.
"Não há forma de manipular uma eleição em um país tão grande", insistiu. "É mais fácil ser atingido por um raio que estar perto de alguém que comete fraude eleitoral".
Mas o presidente advertiu que as denúncias do milionário podem criar a sensação entre alguns eleitores de que era o veredicto já está decidido.
Quando deixou Las Vegas, após o debate, na madrugada desta quinta-feira, Hillary Clinton, comentou rapidamente à imprensa que foi "horroroso" perceber que Trump evitava se comprometer a aceitar os resultados eleitorais.
"Nosso país existe há 240 anos (...) e nunca questionamos eleições. Um dos princípios sempre foi que aceitamos o resultado das eleições", expressou.
"Foi chocante"
Um público de 2.800 pessoas ovacionou Obama em uma quadra de basquete da Florida Memorial University, no noroeste de Miami.
"É claro que Trump diz estas coisas porque não pode acreditar que não vai ganhar. Isto é o pior nele", comentou à AFP uma simpatizante de Hillary, Debra Dawkins.
"A ideia de que Trump chegue à Casa Branca é algo que dá medo não só por nosso país, mas por todo o mundo", acrescentou a mulher, de 66 anos.
Nesta quinta-feira, o candidato a vice-presidente de Clinton, senador Tim Kaine, disse ao canal ABC que os comentários de Trump foram "chocantes, absolutamente chocantes".
Pouco mais tarde, em declarações à CNN, Kaine indicou que "a aceitação do resultado da eleição e a transferência pacífica do poder é um pilar da nossa democracia" e o gesto de Trump remove este pilar.
A chefe da campanha do republicano, Kellyanne Conway, afirmou à CNN que Trump "sempre disse, se todas as suas declarações forem colocadas juntas, que aceitará o resultado", mas acrescentou que era necessário primeiro conhecer qual será.
Nesta quinta, a primeira-dama Michelle Obama - que na semana passada deu um discurso antológico contra Trump - também fez campanha por Hillary no estado conservador do Arizona.
A negativa de Trump de se comprometer a aceitar o resultado eleitoral vem de mãos dadas com a insistência em seus discursos sobre a "manipulação" das eleições para beneficiar Hillary.
Esta visão levou Trump a declarar guerra aberta à imprensa, à qual qualifica de desonesta em seus discursos, uma batalha que poderá ter que enfrentar sozinho.
Para Robert Erikson, professor de Ciência Política da Universidade de Columbia, neste novo cenário será necessário ver se os aspirantes do Partido Republicano ao Congresso seguirão a liderança de Trump ou permanecerão alinhados com a direção do partido.
"Hillary Clinton provavelmente vencerá a eleição presidencial, mas a questão agora é: qual será o efeito sobre os candidatos republicanos ao Senado e à Câmara de Representantes?", disse Erikson.
A agressiva campanha eleitoral teve uma pequena trégua na quinta-feira, quando Trump e Clinton provocaram risadas em um jantar beneficente, apesar da tensão evidente entre os dois.
Sentados ao lado cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, cada candidato discursou durante o jantar de gala Alfred E. Smith, um evento anual no calendário político americano, criado após a Primeira Guerra Mundial para arrecadar recursos para obras sociais católicas.
"Michelle Obama faz um discurso e todos amam. É fantástico. Minha esposa Melania faz exatamente o mesmo discurso e as pessoas pegam no pé dela", afirmou Trum em tom de brincadeira.
Hillary fez referência às críticas que recebe e aproveitou para alfinetar o rival: ao mencionar a ausência de teleprompter no evento, admitiu que falar pode ser difícil "sobretudo quando você precisa ler o texto original em russo".
A declaração foi uma referência à admiração de Trump pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Os dois candidatos encerraram o jantar com um rápido aperto de mãos. O evento provavelmente marcou o último encontro entre ambos antes das eleições.