A coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos intensificou nesta sexta-feira (9) os bombardeios aéreos sobre Raqa em apoio às forças árabe-curdas que seguiam avançando em sua campanha para expulsar o grupo extremista Estado Islâmico (EI) de seu principal reduto na Síria.
Nesta sexta-feira, no leste da cidade, prosseguiam os combates em terra entre os extremistas e as Forças Democráticas Sírias (FDS), respaldadas por Washington, que na terça-feira anunciaram o início do cerco final a Raqa.
"Os bombardeios da coalizão internacional continuaram por toda a noite em Raqa e seus arredores", informou à AFP o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.
"Vinte e três civis morreram nesta quinta-feira à noite" em virtude de "25 ataques aéreos", afirmou o OSDH.
Entre as vítimas, 15 pessoas morreram em um ataque contra um cibercafé na periferia oeste de Raqa, onde estão posicionada as FDS que tentam atacar a cidade pela frente ocidental.
A coalizão internacional anti-extremista dá às FDS armas, apoio aéreo e conselheiros para suas operações terrestres.
Os bombardeios aéreos da coalizão buscam, segundo Abdel Rahman, "quebrantar as capacidades do EI, abrir a via às FDS no leste da cidade e [permiti-las] lançar o cerco em outras frentes".
As FDS "tomaram o controle do bairro de Meshleb", no leste da cidade, e "procedem atualmente para limpá-lo de minas e artefatos explosivos", declarou à AFP o porta-voz destas forças, Talal Sello.
Segundo Sello, as FDS avançam também na periferia norte de Raqa e conseguiram "rechaçar um ataque do EI na periferia oeste da cidade".
A batalha de Raqa é uma das principais frente da guerra de múltiplos beligerantes que sacode a Síria desde 2011 e já deixou mais de 320.000 mortos.
Abu Mohamad, ativista do coletivo "Raqa is being salughtered silently" ("Raqa está sendo massacrada em silêncio") qualificou os bombardeios da coalizão como "absurdos".
Afirma que, além dos bombardeios, as condições de vida pioram com a falta de água e de eletricidade, e com a abertura dos comércios por apenas "uma ou duas horas" ao dia.
"A vida de mais de 40.000 crianças está em perigo", advertiu o Unicef nesta sexta-feira.
"As crianças estão sendo privadas de suas necessidades mais básicas", afirmou o diretor regional desta agência da ONU, Geert Cappelaere.
Raqa, capturada pelos extremistas em 2014, se tornou o símbolo das atrocidades do EI e a base para o planejamento de atentados no exterior.
Segundo o Pentágono, restam "até 2.500" combatentes do EI na cidade.
Dezenas de milhares de civis fugiram da cidade e de seus arredores desde que as FDS lançaram em novembro a sua vasta operação para expulsar o EI de seu principal reduto na Síria.
Ainda restam em Raqa atualmente cerca de 160.000 pessoas, diante das 300.000 de antes do começo da guerra, em 2011, considera a ONU.
O governo de Bashar al-Assad estima que recuperar Raqa seja uma "prioridade", mas suas tropas ainda estão distantes da cidade. Na terça-feira conseguiram entrar na província de mesmo nome pelo oeste e, ajudados por bombardeios russos, tomaram do EI "20 povoados", segundo o OSDH.
Uma fonte militar síria disse na terça-feira à AFP que o objetivo do avanço das forças do governo na província de Raqa é "garantir a segurança da província [vizinha] de Aleppo contra os ataques dos extremistas".
Ainda não está claro se existe algum tipo de coordenação entre as forças do governo sírio e as FDS.