Os palestinos rejeitaram com indignação nesta quarta-feira (3) as ameaças do presidente americano, Donald Trump, de cortar a ajuda financeira para punir sua negativa a negociar com Israel, e asseguraram que não se deixarão "chantagear".
A decisão de Trump, em 6 de dezembro, de reconhecer Jerusalém como capital israelense provocou uma crise nas já difíceis relações entre a Autoridade Palestina e a Casa Branca.
Em 2016, os Estados Unidos depositaram 319 milhões de dólares de ajuda aos palestinos por meio de sua agência de fomento ao desenvolvimento (USAID), segundo dados disponíveis no site da agência.
Esse subsídio é vital para a Autoridade Palestina, cujo orçamento é em grande parte dependente da ajuda internacional.
Na terça-feira, em um de seus vários tuítes, Donald Trump escreveu: "pagamos aos palestinos CENTENAS DE MILHÕES DE DÓLARES a cada ano e não recebemos reconhecimento, ou respeito".
"Mas se os palestinos não estão dispostos às conversas de paz, por que temos que fazer esses enormes pagamentos?", questionou-se.
A alta funcionária palestina, Hanan Ashrawi, respondeu nesta quarta em um comunicado: "não nos deixaremos chantagear".
"O presidente Trump está sabotando nossa busca de paz, liberdade e justiça", acrescentou.
O porta-voz da Presidência palestina, Abu Rudeina, assegurou que Jerusalém "não está à venda".
"Jerusalém é a capital eterna do Estado da Palestina e não está à venda em troca de ouro ou de milhões", afirmou à AFP.
Os palestinos querem converter Jerusalém Oriental na capital do Estado ao qual aspiram.
"Nós não nos opomos às negociações, mas elas devem ser fundamentadas no direito internacional e nas resoluções (da ONU) que reconhecem um Estado palestino independente com Jerusalém Oriental como capital", insistiu o porta-voz.
O movimento islamita palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza, também denunciou "uma chantagem política vergonhosa que reflete a conduta bárbara e imoral americana".
Aos 319 milhões de dólares via USAID se somam 304 milhões de dólares de assistência, que Washington paga para financiar os programas da ONU nos Territórios palestinos. Em seu tuíte, Trump não especificou qual ajuda será eventualmente suspensa.
A agência da ONU encarregada da ajuda aos palestinos indicou que não recebeu nenhuma comunicação por parte de Washington de que cortará a ajuda.
Dois ministros israelenses, por sua vez, comemoraram as declarações do presidente americano.
"Estamos lidando com um presidente que diz o que pensa de forma clara", afirmou Miri Regev, ministro da Cultura e Esportes, na rádio militar.
"Não podemos obter 300 milhões de dólares em ajuda americana e, ao mesmo tempo, fechar a porta às negociações", considerou Regev, próximo ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O ministro da Educação, Naftali Bennett, do Partido Nacionalista Lar Judeu, elogiou Trump, "que não tem medo de dizer a verdade mesmo quando não é popular".
"A verdade é que os Estados Unidos não têm motivos para financiar aqueles que agem contra seus interesses", afirmou Bennett em um comunicado.
Os Estados Unidos haviam ameaçado com represálias após uma votação na Assembleia Geral da ONU no mês passado, que condenou a decisão americana sobre Jerusalém.
Desde que chegou à Casa Branca, Donald Trump diz ser capaz de obter um acordo de paz entre israelenses e palestinos, algo que todos os seus predecessores falharam.
As esperanças de uma solução de dois Estados esfriaram ainda mais na terça-feira, quando o Parlamento israelense aprovou um projeto de lei para complicar a passagem sob a soberania palestina de certas áreas de Jerusalém como parte de um futuro acordo de paz. "Uma declaração de guerra", considerou o presidente palestino, Mahmud Abbas.
Jerusalém, com seus lugares santos para judeus, cristãos e muçulmanos é um dos assuntos mais delicados. Desde a criação de Israel em 1948, a comunidade internacional considera que seus "status" deve ser negociado entre israelenses e palestinos.