Os fabricantes de automóveis alemães Volkswagen, Daimler e BMW se confrontavam nessa segunda-feira (28) com informações da imprensa segundo as quais foram realizados testes de emissões de gás com macacos e também humanos.
Desde sábado (27), a Volkswagen afirma que "toma claramente distância de qualquer forma de maus-tratos animais", após a revelação do jornal The New York Times sobre testes realizados com macacos pelas três montadoras citadas, e também pelo grupo alemão Bosch.
Tais experiências "são indesculpáveis do ponto de vista ético", lamentou nesta segunda-feira Steffen Seibert, porta-voz do governo alemão, que exigiu explicações dos grupos envolvidos.
"A confiança da indústria automobilística voltou a ser afetada", declarou o ministro dos Transportes e da Agricultura, Christian Schmidt.
Ele anunciou que as montadoras serão convocadas ante a comissão ministerial responsável pelo 'dieselgate' e intimou as empresas a "cessar imediatamente este tipo de testes".
Volkswagen, BMW, Daimler e Bosch enfrentam dois casos distintos, mas revelados quase simultaneamente, ambos envolvendo um organismo de pesquisa que eles financiavam, o EUGT, que foi fechado.
Os primeiros testes em macacos teriam sido realizados em 2014 em território americano, segundo o New York Times, que relata que os animais eram trancados em frente a desenhos animados e obrigados a respirar a fumaça emitida por um Beetle, o novo fusca, da Volkswagen.
O objetivo era "provar que os veículos a diesel de tecnologia recebte são mais limpos que os velhos modelos", aponta o jornal, um argumento usado pelas montadoras para alavancar o mercado americano.
E o caso adquiriu uma nova dimensão nesta segunda, quando o jornal alemão Süddeutsche Zeitung afirmou que estes testes sobre os efeitos de inalação de óxidos de nitrogênio (NOx) também foram realizados com 25 humanos com boa saúde.
Um instituto médico de Aix-la-Chapelle, subordinado ao EUGT, fez com que 25 pessoas saudáveis inalassem em 2013 e 2014 dióxido de nitrogêneo (NO2), em concentrações variáveis, segundo os dois jornais.
Este estudo "não tem nada a ver com o escândalo do diesel", garantiu o instituto. O objetivo seria medir o efeito da exposição de NO2 no local de trabalho, "por exemplo para os motoristas de caminhão, mecânicos e soldadores", explicou.
Daimler "distanciou-se expressamente do estudo e do EUGT", segundo um porta-voz questionado pela AFP, enquanto BMW negou ter participado.
Mas nenhuma dessas declarações foram suficientes para abafar a polêmica, reavivando a crise de confiança que atinge as grandes construtoras desde a revelação do escândalo da adulteração em grande escala dos motores a diesel.
Bernd Althusmann, ministro da Economia da Baixa Saxônia, um estado federal acionista da VW, classificou essas experiências de "absurdos indesculpáveis", informou a agência DPA.
"O comportamento do grupo deve respeitar as exigências éticas em todos os aspectos", ressaltou.
No final de 2015, o grupo Volkswagen admitiu ter equipado 11 milhões de veículos diesel com um programa de computador que falseava os testes antipoluição e ocultava as emissões que eram, às vezes, 40 vezes superiores ao autorizado pelas normas vigentes.
Depois do "dieselgate", as montadoras alemãs decidiram acabar com a atividade do UEGT, atualmente em liquidação, segundo o Süddeutsche Zeitung.