Líderes coreanos apertam as mãos em encontro histórico

Kim Jong Un foi o primeiro líder norte-coreano a entrar no sul desde a Guerra da Coreia, há 65 anos
AFP
Publicado em 26/04/2018 às 21:42
Kim Jong Un foi o primeiro líder norte-coreano a entrar no sul desde a Guerra da Coreia, há 65 anos Foto: Foto: Jung Yeon-Je / AFP


Os líderes de Coreia do Norte e do Sul realizam nesta sexta-feira (27) na chamada Zona Desmilitarizada que divide os dois países, uma cúpula histórica que pode abrir caminho a um período de paz e sem armas nucleares na península.

"Estou feliz em conhecê-lo", disse Moon Jae-in ao seu colega Kim Jong Un, em meio a um caloroso aperto de mãos e no momento em que ele se tornou o primeiro líder do Norte a entrar no Sul desde a Guerra da Coreia.

Moon também entrou rapidamente no norte antes de caminhar de volta.

Kim foi o primeiro líder norte-coreano a entrar no sul desde a Guerra da Coreia, há 65 anos.

Após uma breve conversa, os dois líderes andaram até a Casa da Paz de Panmunjom, onde foi assinado o armistício de 1953. 

"Uma nova história começa agora - no ponto inicial da história e na era da paz", escreveu Kim no livro de visitas da Casa da Paz, no lado sul da Zona Desmilitarizada que divide as Coreias.

Em seguida, os dois líderes se sentaram na mesa oval instalada na Casa da Paz especialmente para este encontro, e Moon Jae-in declarou: "espero que nos envolvamos em conversas francas e cheguemos a um acordo ousado para que possamos dar um grande presente a todo o povo coreano e às pessoas que querem a paz".

Na mesa de negociações, Kim se sentou com sua irmã e conselheira, Kim Yo Jong, e com o responsável norte-coreano pelas relações com o Sul, enquato Moon foi assistido pelo diretor de Inteligência sul-coreana e por seu chefe de gabinete.   

Após uma hora e 40 minutos de conversa, Kim e sua delegação cruzaram a fronteira para almoçar no Norte.

Antes do encontro da tarde, Kim e Moon devem plantar uma árvore na fronteira, que "representará a paz e a prosperidade na Linha de Demarcação Militar, que é um símbolo da confrontação e da divisão há 65 anos", informou Seul.  

Segundo a presidência sul-coreana, antes do diálogo formal Moon disse a Kim que poderia lhe mostrar ambientes melhores se fosse à Casa Azul, o Palácio Presidencial em Seul, e o líder norte-coreano respondeu: "Deveras?! Irei à Casa Azul a qualquer momento que você me convidar".

Casa Branca emitiu comunicado

A Casa Branca emitiu um comunicado no qual destaca sua "esperança de que as negociações levem a um avanço em direção a um futuro de paz e prosperidade para toda a Península Coreana".

"Os Estados Unidos apreciam a estreita coordenação com o nosso aliado, a República da Coreia, e esperam a continuidade de discussões sólidas na preparação para o encontro planejado entre o presidente Donald J. Trump e Kim Jong Un nas próximas semanas".

Trata-se da terceira reunião intercoreana, após os encontros celebrados em Pyongyang em 2000 e 2007, e marca um ponto de inflexão após a aproximação diplomática que se seguiu a um período de alta tensão na península.

Segundo a agência oficial norte-coreana KCNA, Kim viajou à Zona Desmilitarizada para "discutir honestamente com Moon Jae-in todas as questões que surjam para melhorar as relações intercoreanas e se obter a paz, a prosperidade e a reunificação da península da Coreia".

O tema do arsenal nuclear de Pyongyang está no centro da agenda, após a Coreia do Norte obter um rápido progresso em sua tecnologia atômica sob o mandato de Kim, que herdou o poder com a morte do pai, em 2011. 

Os norte-coreanos também desenvolveram mísseis balísticos capazes de atingir o território americano, o que acrescentou tensão entre Washington e Pyongyang.

Mas os Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang, no Sul, marcaram o início de uma distensão palpável na península coreana. 

No sábado, Kim anunciou uma moratória nos testes nucleares e nos lançamentos de mísseis balísticos de longo alcance, afirmando que já cumpriram com seus objetivos.

 

Paz e fim das armas nucleares

Na quinta-feira, o chefe da presidência sul-coreana, Im Jong-seok, advertiu que o panorama que espera os dois líderes não é fácil.

"Alcançar um acordo de 'desnuclearização' em um momento em que os programas nucleares e de mísseis intercontinentais (ICBM) da Coreia do Norte estão avançados será fundamentalmente diferente da  natureza dos acordos alcançados na década de 1990 e princípio de 2000. 

"Isto é o que faz esta cúpula mais difícil", explicou o funcionário.

Pyongyang pede garantias - ainda não especificadas - em troca da eliminação de seu arsenal. 

No passado, o apoio da Coreia do Norte a uma eliminação das armas nucleares da Península foi uma expressão para se referir à saída das tropas americanas estacionadas na Coreia do Sul e seu guarda-chuva nuclear. 

"Agora os grandes temas são a paz e a 'desnuclearização'", explicou à AFP o professor John Delury, da Universidade de John Delury. 

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