EUA determinam que pessoal diplomático 'não essencial' deixe a Venezuela

A retirada completa da equipe diplomática foi ordenada por Nicolás Maduro, que Washington não reconhece mais como presidente da Venezuela
AFP
Publicado em 24/01/2019 às 20:41
A retirada completa da equipe diplomática foi ordenada por Nicolás Maduro, que Washington não reconhece mais como presidente da Venezuela Foto: Foto: MANDEL NGAN / AFP


Os Estados Unidos determinaram, nesta quinta-feira (24), que sua equipe diplomática não essencial deixe a Venezuela, mas não cumpriu uma retirada completa - ordenada por Nicolás Maduro, que Washington não reconhece mais como presidente. 

O Departamento de Estado disse em nota que tinha ordenado que "funcionários do governo dos EUA não essenciais deixem a Venezuela". 

O governo "tem uma habilidade limitada para fornecer serviços de emergência para cidadãos americanos na Venezuela", afirma.

Fechamento de embaixada em Washington 

Maduro anunciou nesta quinta-feira (24) o fechamento de sua embaixada em Washington e de todos os consulados nos Estados Unidos. "Decidi trazer de volta todo o pessoal diplomático (...) e fechar nossa embaixada e todos os nossos consulados nos Estados Unidos", declarou Maduro em uma sessão especial do poder judiciário, no qual acusou Washington de promover Guaidó em um processo de golpe de Estado.

Maduro, que tem o apoio dos militares e do poder judiciário, informou que no sábado receberá em Caracas o pessoal diplomático venezuelano, e reiterou o prazo de 72 horas dado na quarta-feira aos Estados Unidos para tirar seu corpo de funcionários da Venezuela.

Veja os apoiadores de Maduro e Guaidó

O autoproclamado presidente interino da Venezuela, o chefe parlamentar opositor Juan Guaidó, iniciou uma queda de braço pelo poder com o governante socialista Nicolás Maduro. 

Veja a seguir os principais apoios de cada um:

Maduro

Militares

São considerados o pilar do governo e, nesta quinta-feira (24), reafirmaram o seu apoio a Maduro, denunciando um "golpe de Estado" em curso. 

Dos 32 ministros, nove são militares e comandam pastas como Defesa, Interior, Agricultura e Alimentação, além da petroleira Pdvsa - que fornece 96% das rendas do país - e o serviço de Inteligência. Também controlam uma emissora, um banco e uma montadora de veículos, entre outras empresas.

Credores e aliados internacionais

A China, principal credor da Venezuela, com cerca de 20 bilhões de dólares pendentes de pagamento, se opôs nesta quinta-feira à "ingerência externa", após o apoio dos Estados Unidos e de outros países a Guaidó.

A Rússia é o segundo credor de Caracas e também o respalda militarmente: em dezembro, Moscou enviou dois bombardeiros e 100 oficiais a Caracas para exercícios conjuntos. O presidente russo, Vladimir Putin, ligou para Maduro nesta quinta para expressar o seu "apoio". 

Países como Turquia, Cuba, Bolívia, Uruguai e México continuam reconhecendo Maduro, de 56 anos, que também tem entre seus aliados Irã e Coreia do Norte.

Justiça

O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), o mais alto tribunal, é de linha governista. Os seus membros foram nomeados pela antiga maioria parlamentar chavista, em dezembro de 2015, dias antes de a oposição assumir o controle do Parlamento.

Desde 2016, declarou em desacato o Legislativo opositor e anula todas as suas decisões. Deu seu apoio a Maduro nesta quinta-feira.

Também o procurador-geral, Tarek William Saab, respaldou o governante socialista.

Assembleia Nacional Constituinte

Foi convocada por Maduro após quatro meses de protestos da oposição que deixaram ao menos 125 mortos em 2017 e é composta apenas por governistas. Assumiu as funções do Parlamento na prática. A oposição recusou-se a participar deste organismo por considerar a sua convocação "ilegal".

Poder eleitoral

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) é presidido por Tibisay Lucena, abertamente chavista e durante cuja gestão vários partidos opositores foram inabilitados.

Decisões do CNE e da Justiça impediram um referendo para revogar Maduro em 2016. 

Alegando falta de garantias e imparcialidade, os principais partidos da oposição mantiveram-se à margem das últimas eleições, incluindo as presidenciais de 20 de maio de 2018, nas quais Maduro foi reeleito e que denunciaram como "fraude".

Guaidó

Estados Unidos

Os Estados Unidos, vários países da América Latina e a União Europeia não reconheceram a reeleição de Maduro.

Assim que Guaidó foi empossado como presidente interino na quarta-feira, Donald Trump o reconheceu. Também uma dúzia de outros países americanos, como Brasil, Colômbia e Argentina. O mesmo foi feito pela Grã-Bretanha. 

A União Europeia, contudo, pediu que ouvissem o "chamado maciço à democracia" do povo venezuelano e solicitou o início de "um processo político que conduza a eleições livres e confiáveis". 

O secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, também reconhece Guaidó como presidente interino.

Parlamento

De maioria opositora, o atual Parlamento foi eleito em 2015, quando a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) desferiu ao chavismo a maior derrota eleitoral de sua história.

Depois de assumir em 5 de janeiro a presidência do Legislativo, Guaidó, de 35 anos, começou a pressionar por um "governo de transição" e novas eleições, convocando os militares a romper com o governo em troca de anistias.

O Parlamento então declarou Maduro "usurpador" e Guaidó disse na quarta-feira que assumia as competências do líder socialista. 

Os deputados, no entanto, estão de mãos atadas pelas decisões do TSJ.

Justiça no exílio

Um tribunal supremo de justiça paralelo, nomeado pela maioria parlamentar da oposição e que está no exílio, saudou na quarta-feira a "vontade" de Guaidó de assumir como presidente encarregado. 

A procuradora-geral destituída Luisa Ortega, que fugiu da Venezuela em agosto de 2017 após ser removida do cargo pela Constituinte, deu seu "apoio e reconhecimento" ao "novo presidente" Guaidó. "Conte com o Ministério Público legítimo para restaurar a democracia", disse.

 

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