A ajuda doada pelos Estados Unidos e seus aliados está a caminho da Venezuela, anunciou neste sábado (23) o líder da oposição Juan Guaidó, dando início a uma complexa operação para levar assistência em caminhões a partir da fronteira com a Colômbia, em desafio ao bloqueio do governo chavista.
"A ajuda humanitária está definitivamente indo para a Venezuela pacificamente para salvar vidas", declarou Guaidó, reconhecido por cinquenta países como presidente interino, na companhia dos líderes da Colômbia, Chile e Paraguai, além do secretário-geral da OEA.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, afirmou neste sábado (23) que a expectativa é de que a fronteira venezuelana, fechada desde quinta-feira (21), permita que os dois caminhões com suprimentos doados passem como parte da operação de entrega humanitária.
"A expectativa é que quando o primeiro caminhão chegar, uma luz acenda e a fronteira se abra", declarou o chanceler em uma coletiva de imprensa na sede da Polícia Federal em Pacaraima, cidade brasileira na fronteira com a Venezuela.
A fronteira foi fechada pela Venezuela indefinidamente desde quinta, sob as ordens do presidente Nicolás Maduro, que denuncia a operação de ajuda como uma tentativa de interferência estrangeira.
O primeiro caminhão com remédios e alimentos, doado pelo Brasil e Estados Unidos, chegou à pequena cidade brasileira no meio da manhã, procedentes de Boa Vista, a capital de Roraima.
O carregamento faz parte da operação internacional de ajuda humanitária da Colômbia, Brasil e Caribe, impulsionada por Guaidó, reconhecido como presidente encarregado da Venezuela por cinquenta países, inclusive o Brasil.
"Vai passar, é claro que vai passar", afirmou aos jornalistas María Teresa Belandria, uma advogada venezuelana nomeada por Guaidó como embaixadora no Brasil.
No total, dois caminhões saíram durante a manhã deste sábado carregando oito toneladas de suprimentos. Um deles se atrasou por uma avaria na na estrada, enquanto o outro estava estacionado a poucos metros da linha que divide os dois países, à espera de instruções.
A fronteira foi fechada na Venezuela indefinidamente por ordem do presidente Nicolás Maduro na quinta-feira.
"Vamos de ré para ver que se trata de ajuda humanitária e que estamos indo em paz para dialogar com a Guarda Nacional Bolivariana e o Exército. Estamos esperando pelo segundo caminhão", disse à AFP Yuris Cabrera, que trabalha como assessor do prefeito de Santa Elena de Uairén.
Seu caminhão, um Ford 350, carrega cerca de quatro toneladas de medicamentos, disse Cabrera, que também disse que chegou ao Brasil cruzando rotas alternativas.
A presidência brasileira, que quer evitar as tensões com a Venezuela, disse que, se os caminhões não conseguirem cruzar a linha, eles retornarão a Boa Vista e continuarão tentando a entrega nos próximos dias.
Não há previsão para completar a entrega de cerca de 200 toneladas de alimentos e remédios, armazenados em uma base aérea em Boa Vista, capital do estado de Roraima, segundo a presidência.
O Brasil também condicionou a entrega da ajuda a ser realizada em caminhões com placa venezuelana, conduzidos por cidadãos daquele país.
Não se sabe até quando os caminhões permanecerão estacionados na fronteira, mas vários venezuelanos se aglomeraram nas proximidades, dizendo que estão dispostos a escoltar a pé os veículos até o território de seu país.
Belandria disse que não entrará na Venezuela. "Eu corro um risco muito grande", disse à AFP. No entanto, convidou os venezuelanos a escoltar a carga.
Pacaraima amanheceu em calma, com os venezuelanos ainda atravessando para o Brasil através de rotas alternativas.
Alguns deles disseram à AFP que a Guarda Nacional Venezuelana, que reforça o controle em vários pontos da linha divisória, não os impediu de deixar o país.
Araújo ressaltou que o Brasil descarta a possibilidade de conflito na região e que, por enquanto, não está previsto permitir a distribuição de doações individualmente em território brasileiro.
William Popp, encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, também participou da reunião com a imprensa e disse que a participação de Washington é de cunho estritamente humanitário.