Um dia de caos, violência e incerteza na Venezuela

Oposição tenta apoio de líderes militares leais a Nicolás Maduro, mas, após dia de conflitos com 69 feridos, presidente continua no cargo na Venezuela
Felipe Vieira com agências
Publicado em 30/04/2019 às 22:11
Foto: Foto: Yuri CORTEZ / AFP


A terça-feira (30) não tinha amanhecido quando o líder oposicionista – e autoproclamado presidente – venezuelano Juan Guaidó divulgou, em seu perfil no Twitter, um vídeo de exatos 3 minutos e 22 segundos, com um chamado aos militares do país. "Como legítimo comandante-em-chefe das forças armadas, convoco todos os soldados para a luta não violenta". Batizada de Operação Liberdade, a iniciativa visava conseguir apoio da elite militar ainda fiel ao presidente Nicolás Maduro, e, consequentemente, sua deposição. Milhares de pessoas foram às ruas em apoio a Guaidó, mas, ao final de um dia de violentos confrontos nas ruas da capital Caracas (com um saldo de 69 feridos), a adesão maciça dos comandantes à revolta não aconteceu – e Maduro segue no poder. O alto escalão militar ainda é o principal esteio político do presidente.

A empreitada começou com a libertação, ainda pela manhã, de um dos principais líderes oposicionistas, Leopoldo López, que cumpria prisão domiciliar de 14 anos por "incitação à violência". O fato foi interpretado como um trunfo dos revoltosos – Lopez é uma liderança ainda mais influente que Guaidó no País. Mas, ao final do dia, ele acabou se refugiando, junto com sua família, na embaixada chilena em Caracas, segundo anunciou o governo de Santiago. Juan Guaidó terminou o dia "seguro e viajando", de acordo com relatos de oposicionistas.

Durante o dia, milhares de manifestantes se reuniram nos arredores da base aérea de La Carlota, em Caracas, depois que o opositor, reconhecido como presidente interino por meia centena de países (o Brasil inclusive), advertiu que não voltaria atrás até que o governo caísse. "O momento é agora! (...), rua sem saída", disse Guaidó. A ONG de direitos humanos Provea relatou protestos em 22 dos 24 estados. Segundo serviços de saúde, pelo menos 69 pessoas ficaram feridas, duas delas baleadas, durante as manifestações da oposição.

A imprensa local afirmou que há um terceiro ferido por arma de fogo nos protestos. Já o governo denunciou que um militar leal a Maduro também foi baleado. Uma mulher que não participou das mobilizações foi baleada em Caracas, segundo os manifestantes, enquanto o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, também denunciou que um soldado foi baleado e culpou a oposição por um possível “banho de sangue”.

Um grupo de opositores foi atingido por um veículo militar, segundo imagens de televisão, mas ainda não sabem as consequências. Vinte e cinco militares pediram asilo na embaixada brasileira.

Em sua única referência à crise, Maduro, que não apareceu em público, pediu no Twitter “nervos de aço” e disse que os comandantes regionais garantiram a ele “total lealdade”.

O embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, denunciou que os Estados Unidos e outros países da região sabiam de antemão os planos de rebelião militar contra o governo de Nicolás Maduro e conspiraram para provocar “uma guerra civil” na Venezuela.

Em um vídeo também divulgado pelas redes sociais, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, reiterou seu compromisso com Maduro e denunciou a rebelião como uma tentativa “grosseira e inútil”. “Eles passaram vergonha novamente e isso nos fortalecerá”, disse, cercado de oficiais militares.

Foto: Yuri CORTEZ / AFP
Soldados que apoiam o líder da oposição venezuelana assumem posição em frente à base aérea - Foto: Yuri CORTEZ / AFP
Foto: Yuri CORTEZ / AFP
Manifestante da oposição em confronto com soldados leais ao presidente venezuelano Nicolas Maduro - Foto: Yuri CORTEZ / AFP
Foto: Yuri CORTEZ / AFP
Soldados que apoiam o líder da oposição venezuelana assumem posição em frente à base aérea - Foto: Yuri CORTEZ / AFP
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Soldados que apoiam o líder da oposição venezuelana assumem posição em frente à base aérea - Foto: Yuri CORTEZ / AFP
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Soldados que apoiam o líder da oposição venezuelana assumem posição em frente à base aérea - Foto: Yuri CORTEZ / AFP
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Soldados que apoiam o líder da oposição venezuelana assumem posição em frente à base aérea - Foto: Yuri CORTEZ / AFP
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Soldados que apoiam o líder da oposição venezuelana assumem posição em frente à base aérea - Foto: Yuri CORTEZ / AFP
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Soldados que apoiam o líder da oposição venezuelana assumem posição em frente à base aérea - Foto: Yuri CORTEZ / AFP
Foto: Yuri CORTEZ / AFP
Manifestante da oposição em confronto com soldados leais ao presidente venezuelano Nicolas Maduro - Foto: Yuri CORTEZ / AFP
Foto: Yuri CORTEZ / AFP
Soldados que apoiam o líder da oposição venezuelana assumem posição em frente à base aérea - Foto: Yuri CORTEZ / AFP

Durante todo o dia, o governo venezuelano tirou do ar a emissora de rádio RCR e as redes de televisão CNN Internacional e BBC Mundo, de acordo com esses veículos e com sindicatos. Enquanto isso, uma multidão de chavistas cercava o palácio presidencial de Miraflores, no centro, a pedido de seus líderes.  O número dois de Chávez, Diosdado Cabello, disse que a situação estava sob controle e que a insurreição era trabalho de uma “pequena fração das Forças Armadas e do Sebin (serviço de inteligência)”.

REAÇÕES DIVIDIDAS

Cuba, Bolívia e Turquia, aliados de Maduro, condenaram a “tentativa de golpe de Estado”, enquanto a Colômbia, que junto com Washington liderou a pressão contra o líder socialista, apoiou a rebelião. Rússia e México pediram negociações. O presidente Jair Bolsonaro manifestou o apoio do Brasil “ao processo de transição democrática” no país vizinho.

No que parecia uma aposta em rachas internos no Chavismo, o conselheiro de segurança da Casa Branca, John Bolton, telefonou para Padrino, para o presidente da Suprema Corte, Maikel Moreno, e para o comandante da Guarda Presidencial, Iván Hernández Dala, na tentativa de que abandonassem Maduro.

Segundo o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, Maduro estava pronto para deixar a Venezuela e seguir para Cuba, mas foi dissuadido pela Rússia. “Ele tinha um avião na pista, estava pronto para ir embora esta manhã, pelo que sabemos, e os russos disseram a ele que deveria ficar”, disse Pompeo, em entrevista à CNN. O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para que se evite a violência e se restaure a calma. O Grupo de Lima se reunirá na sexta-feira na capital peruana para avaliar com urgência a crise na Venezuela após a rebelião em apoio ao presidente interino Juan Guaidó, informou nesta terça-feira o governo do Peru.

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