O Facebook apresentou, nesta terça-feira (20), uma nova ferramenta para que seus usuários possam controlar seus dados obtidos pelo grupo fora da rede social, em uma tentativa de se mostrar mais pró-ativo na proteção de informações pessoais.
A menos de uma semana, foram reveladas novas práticas cometidas pelo Facebook, que reconheceu ter transcrito escutas de trechos sonoros de conversas de alguns usuários, algo que a primeira rede social do mundo havia negado por muito tempo.
Com a nova ferramenta apresentada nesta terça, o grupo explicou que deseja ''devolver o controle'' de seus dados aos usuários da rede.
Na prática, os usuários poderão decidir, a partir de agora, se os dados que o Facebook obtém por meio de aplicativos ou de sites de terceiros que consultam (como serviços de vendas on-line) podem ou não ser vinculados às suas contas na rede social.
''Em geral, usamos esses dados para propor publicidade relacionada aos dispositivos, ou às informações que foram pesquisadas na Internet. Mas sabemos que é importante fornecer mais transparência e controle aos nossos usuários sobre esse tipo de dado'', explicou Stephanie Max, responsável pelos produtos do Facebook, em uma coletiva de imprensa on-line.
As novas funções de confidencialidade foram lançadas nesta terça em formato de teste na Irlanda, Espanha e Coreia do Sul, antes de serem disseminadas mundialmente ''nos próximos meses''. Permitirão que os usuários decidam se o total, ou parte, dos dados que o Facebook obtém em outros portais podem ser associados à sua conta pessoal.
O grupo americano obtém esses dados em vários lados, como sites de comércio eletrônico, aplicativos, ou mesmo jornais on-line, por meio de ferramentas que o Facebook oferece a outras empresas para publicidade, contagem de tráfego, ou pesquisa de produtos.
Os dados também incluem o tipo de dispositivo usado para se conectar, sua marca, ou localização geográfica, com a qual o Facebook pode propor publicidade ultra personalizada. Essas informações são vendidas para empresas, representando uma vultosa fonte de renda para a rede social.
O Facebook não considera dispensar completamente esses dados preciosos.
Se o usuário decidir, ''vamos desvincular os dados, mas continuaremos a recebê-los, embora de forma anônima. Isso nos permite compilar estatísticas sobre interações publicitárias, embora sem saber'' a identidade daqueles que visitam esses sites, insistiu Stephanie Max.
''Tivemos que mudar parte de nossa arquitetura para poder criar essa ferramenta, construir uma nova infraestrutura para poder desvincular os dados da conta'', disse Max.
O responsável ressaltou que tal medida é ''a primeira na indústria'' e espera que isso sirva para ''promover uma reflexão no setor como um todo sobre transparência e controle''.
Dessa forma, o Facebook tenta responder às críticas sobre o manuseio de dados pessoais no aplicativo, após o escândalo do caso Cambridge Analytica, que estourou em março de 2018. O episódio colocou o grupo californiano no centro das atenções dos governos, tanto dos Estados Unidos quanto da Europa.
No final de julho, a rede social foi condenada a pagar uma multa recorde de 5 bilhões de dólares pela Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês), que garante a proteção dos consumidores, por não ter protegido os dados pessoais de seus usuários.
Embora tenha se oposto por muito tempo à regulamentação da Internet, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, mudou de ideia no final de março. Pediu aos Estados que implementem uma regulamentação real e deu como exemplo o Regulamento Europeu Geral de Proteção de Dados (GDPR), que entrou em vigor em março de 2018.