Com a jovem ativista Greta Thunberg sob os holofotes, uma multidão se manifestou nesta sexta-feira (06) em Madri para pressionar os líderes da COP25 da ONU a tomar ações urgentes ante a crise climática. "Os líderes mundiais estão nos traindo e não vamos mais permitir isso. (...) Dizemos basta, agora! A mudança está vindo, queiram eles ou não", lançou Thunberg desde um palco para encerrar a marcha que atravessou Madri de sul a norte.
Alvo de grande interesse midiático, a jovem sueca de 16 anos, símbolo da luta ambiental desde 2018 por sua "greve escolar" que catalisou um movimento mundial, acompanhou por pouco tempo a marcha, já que uma barreira de simpatizantes e jornalistas não a deixou avançar, e ela saiu em um veículo elétrico.
A ativista, que chegou nesta sexta-feira a Madri de trem a partir de Lisboa após cruzar o Atlântico em um catamarã por se recusar a viajar de avião devido à pegada de carbono desse meio de transporte, fechou a marcha com um discurso estimulando a mobilização: "Necessitamos manter o ímpeto e levantar nossas vozes. A mudança não virá das pessoas no poder, virá das massas".
Em uma coletiva de imprensa à tarde ela havia dito que esperava que a conferência anual da ONU, a COP25, "alcance coisas concretas".
"As decisões e compromissos que forem tomados nesses dias comprometerão o futuro de todos e também de vossos filhos. (...) Dizemos aos políticos nesta cúpula que não queremos palavras inúteis, exigimos fatos já", lançou o ator espanhol Javier Bardem, conhecido defensor do meio ambiente.
Sob o lema "o mundo despertou ante a emergência climática" e cartazes que diziam "Sem planeta não há futuro" e "Políticos, a Terra morre", ativistas de todo o mundo marcharam pelas principais avenidas da capital espanhola nesta sexta, um feriado. Foram 15.000 segundo a delegação do governo em Madri, 500.000 segundo os organizadores.
A mobilização contou com uma nutrida representação chilena, país que precisou renunciar a abrigar a COP25 pela revolta social que deixou 23 mortos. "O modelo neoliberal nasce e morre no Chile", dizia um grande cartaz. "A mudança climática afeta não só a nós mas as gerações futuras. É preciso criar consciência porque o mundo está se acabando", disse à AFP Paula Sánchez, uma estudante espanhola de 16 anos.
"Todos juntos temos que levantar a voz para que se tomem ações", afirmou Adrián Sánchez, um empresário mexicano de 39 anos, crítico do polêmico projeto do trem que atravessará a zona maia de seu país.
"2019 foi sem dúvida o ano do despertar climático da sociedade civil, dos movimentos sociais, dos jovens, que se levantaram para pedir mais ambição, medidas valentes, para fazer combater a emergência climática", resumiu um porta-voz da mobilização, Pablo Chamorro.
O manifesto da marcha enviou uma mensagem clara aos representantes de quase 200 signatários do Acordo de Paris reunidos até 13 de dezembro em Madri, ante o medo de que decepcionem as esperanças depositadas. "Exigimos aos governos participantes da COP25 que reconheçam que a inação climática atual e insuficiente ambição que refletem os compromissos mais ambiciosos dos países nos levarão a um aquecimento global desastroso para a vida", apontaram.
O dalai lama tuitou em apoio: "Não podemos explorar os recursos da terra (...) sem nos preocuparmos com as gerações futuras".
O protesto busca ser um "grande momento global", disse Estefanía González, porta-voz da Sociedade Civil pela Ação Climática (SCAC), que representa mais de 150 grupos chilenos e internacionais.
A SCAC impulsa uma Cúpula Social pelo Clima, uma conferência paralela à COP25, que terá grande presença de grupos indígenas, "os primeiros afetados pela mudança climática", segundo Juan Antonio Correa, do coletivo Minga Indígena.
"As práticas tradicionais e históricas e a relação que tiveram os povos de origem indígena com a Mãe Terra é uma alternativa e é a forma como toda a sociedade moderna poderia enfrentar essa crise climática", afirmou.