Editorial: Muito mais que lixo

Pernambuco ainda está longe de dar uma destinação correta aos resíduos sólidos
JC Online
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Publicado em 21/05/2019 às 8:21
Pernambuco ainda está longe de dar uma destinação correta aos resíduos sólidos Foto: Foto: Martine Perret/ONU Meio Ambiente


Pernambuco teve no passado, tem hoje e não há sinal de que deverá deixar de ter em futuro próximo um problema grave que não faz parte das preocupações prioritárias dos governantes nem da população: o lixo. Avaliado pela repercussão na vida das pessoas e no equilíbrio do meio ambiente, é um problema gigantesco visível por todo lado mas as pessoas costumam passar ao largo, como se não lhes dissesse respeito. Domingo passado o JC iniciou a série Cidades de Pernambuco para tratar dos desafios municipais e começou exatamente por esse problema que tem impacto proporcional com o grau de civilidade, educação, economia e, também, criatividade de governantes e populações.

Já na abertura a repórter Ângela Belfort fez uma síntese que diz quase tudo: Pernambuco ainda está longe de dar uma destinação correta aos resíduos sólidos. Só não está aí o atestado completo e acabado de uma unidade da Federação em estado terminal porque o processo de globalização e a rapidez com que o conhecimento chega a pessoas e instituições permite admitir que nem tudo está perdido para 103 das 184 cidades pernambucanas que depositam seus resíduos em lixões e 79 cidades que têm aterros sanitários, mas ainda estão longe de entenderem o significado desse equipamento urbano. Fez parte dessa abordagem inicial um exemplo surpreendente: a pequena Sairé, no Agreste.

Sairé faz, em pequena e quase anônima escala, o que organizações internacionais apregoam como fundamental na perspectiva de sociedades utópicas ou distópicas, as que expõem o melhor para a sobrevivência em moldes racionais ou as que se confundem com o lixo que produzem e entram em processo de degradação. É por isso que se agiganta nos países mais preocupados com a sobrevivência organizações como a Miniwiz, uma empresa de capital internacional que atua na área privada e se dedica à reciclagem de lixo, com o reconhecimento de instituições como o Fórum Econômico Mundial. O que faz essa empresa: transforma detritos em habitações, móveis e objetos inimagináveis saídos do lixo.

Miniwiz como ideia, conceito, cultura de sobrevivência, tem a ver com nossa realidade. Sua inspiração seria capaz de fazer de Sairé um ponto de partida, mas diz respeito aos moradores das proximidades dos canais do Recife, das comunidades próximas dos lixões e até das que ficam distantes, porque se trata de uma cultura transformadora para a sobrevivência, uma economia criativa que pode ser instalada em qualquer espaço, com o ensino de trabalhos manuais nas escolas dentro de um projeto de sobrevivência civilizada em torno de modelos que já existem e se destinam a salvar o meio ambiente e criar estruturas produtivas a partir da reciclagem. Isso está cada vez mais possível em países desenvolvidos e nada impede que se torne também entre nós.

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