Os municípios pernambucanos estão perante um desafio assombroso: reverter a alta do desemprego. Poderia ser uma tarefa razoável se Pernambuco fosse uma ilha sujeita a tempestade econômica passageira, mas não é. O contexto é nacional e aponta até para dias piores, culminando com o Relatório Luz da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, criada pela ONU. Nossa participação é preocupante e nos leva a constatar que não é possível pensar o enfrentamento dos problemas municipais sem associá-los a números que mostram um País com 15 milhões de pessoas em extrema pobreza, 55 milhões de pobres, 34 milhões sem acesso à água tratada, mais de 100 milhões sem serviço de coleta de esgotos e quase 600 mil domicílios sem energia elétrica.
Mesmo quando cuidamos de dar atenção apenas ao que informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o cenário é mais do que sombrio: 13,4 milhões de desempregados no primeiro trimestre de 2019, 5,2 milhões procurando emprego há mais de um ano, 3,3 milhões desocupados há dois anos ou mais. Como dar luz e cores a esse quadro? Com os recursos municipais minguados, quase sempre suficientes apenas para pagar ao funcionalismo e os gastos correntes com limpeza e iluminação públicas? Deve fazer parte do desafio municipal admitir os sinais do Relatório Luz da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável.
Um desafio gigantesco como o que está posto em nosso País e abrange todos os municípios, de todos os Estados, talvez exija dos nossos prefeitos bem mais que a tentativa de explicações locais em um quadro econômico marcado pelas baixas taxas de crescimento, queda de consumo, níveis de desemprego que não devem baixar em 2019 e 2020, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Números desoladores quando considerados desempregados, subempregados e os que desistiram de procurar trabalho, algo em torno de 28 milhões de brasileiros.
Chega a ser comovente a preocupação dos prefeitos em se agarrarem à ideia do empreendedorismo como possível motor de uma economia em estado de coma e incapaz de gerar empregos com carteira assinada. Mas não se debruçam em deformações como a alta taxa de juros praticada pelos bancos e que dificulta o acesso ao financiamento, sobretudo o microcrédito, para a abertura de micro e pequenas empresas, potencializando a cobrança de tributos sobre produção e trabalho, como faz ver o Relatório Luz. O esgarçamento social causado pelo desemprego exige muito mais que remendos pontuais. Assim como fazem os governadores nordestinos, recorrendo a mecanismos de pouco ou nenhum uso, mas legais – como a formação de consórcios para o enfrentamento de problemas comuns a todos os Estados –, parece ser esse o único caminho possível também para os prefeitos, ou ficarem condenados a conviver com o desalento que qualquer viajante pode ver em qualquer hora do dia, em cidades sem atividade econômica e sem consumidores.