Maçons e ativistas na 'guerrilha' Bolsonaro

Núcleos de motociclistas, atiradores, maçons, PMs e grupos de direita que ajudaram a organizar atos pelo impeachment formam a base operacional do PSL
Estadão Conteúdo
Publicado em 05/06/2018 às 17:45
Núcleos de motociclistas, atiradores, maçons, PMs e grupos de direita que ajudaram a organizar atos pelo impeachment formam a base operacional do PSL Foto: Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil


Instalado em um conjunto apertado de três salas conjugadas na zona norte da capital, o diretório paulista do PSL conta com uma verba de R$ 15 mil mensais do Fundo Partidário para pagar a manutenção da sigla.

Sem presença política no maior colégio eleitoral brasileiro e quase nenhum dinheiro em caixa, a pequena legenda do deputado e pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (RJ) encontrou em um mosaico de grupos de direita a rede de apoio para tentar estruturar o partido nas 645 cidades paulistas.

São núcleos de motociclistas, atiradores, maçons, policiais militares e grupos de direita que ajudaram a organizar as manifestações pelo impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, como o "Avança Brasil" e "Nas Ruas", que formam a base operacional do PSL.

Os números das últimas pesquisas de intenção de voto, que mostram Bolsonaro empatado com o ex-governador tucano Geraldo Alckmin na primeira colocação em São Paulo (com 14% no cenário sem Luiz Inácio Lula da Silva), facilitam a missão.

Essas correntes têm em comum forte atuação nas redes sociais, mas segundo o presidente do PSL paulista, deputado Major Olímpio, não tem sido fácil administrar as pretensões e bandeiras dos "bolsonaristas".

"Quando assumi a presidência do PSL em São Paulo, em abril, peguei terra arrasada. Para organizar o partido, tenho de administrar muita encrenca com ativistas de toda ordem, que nem sempre estão irmanados entre si. Sou o algodão entre cristais", disse o dirigente.

O embate interno mais acalorado entre os influenciadores digitais e políticos começou no último dia 7 de maio após um jantar promovido pela jornalista Joice Hasselmann, pré-candidata do PSL ao Senado, em um restaurante em São Paulo.

Reunido no mesmo local com aliados, o ex-prefeito João Doria, pré-candidato a governador pelo PSDB, fez uma saudação à jornalista, que o elogiou publicamente e disse que o apoiaria. Os núcleos político e policial do PSL paulista consideraram a manifestação de Joice imprópria. Abriu-se um debate que por pouco não terminou em racha.

Debate

A pedido do jornal O Estado de S. Paulo, algumas das principais lideranças do PSL paulista se reuniram na sede do partido para debater quais devem ser as principais bandeiras do partido na campanha eleitoral.

Um dos temas abordados foi a questão da intervenção militar. Durante a greve dos caminhoneiros, o nome do pré-candidato surgiu em grupos de WhatsApp de grevistas com mensagens de apoio à volta dos militares ao poder. No final da Marcha para Jesus, na quinta-feira, o próprio Bolsonaro fez questão de marcar distância do grupo ao dizer que nunca encampou essa proposta.

"A gente tem claramente a percepção de que a esquerda está começando a fazer um movimento de ativistas virtuais para fazer desvirtuar essa questão", disse Carla Zambelli, líder do movimento NasRuas. "O Jair nunca defendeu a intervenção. O que ele defende é o regime militar e seus valores", interrompeu o influenciador digital Gil Diniz, que se apresenta nas redes como Carteiro Reaça.

Ninguém no grupo acredita que o regime militar brasileiro tenha recorrido a torturas. "Tortura? Qual tortura?", perguntou o coronel da PM Reinaldo Vieira. "Se houve toda essa tortura e repressão durante o governo militar, como o Aloysio Nunes e a Dilma Rousseff chegaram ao poder?", disse a empresária Letícia Catel.

Foi ela quem abordou outro tema sensível ao pré-candidato do PSL: a relação com o movimento feminista. Em uma palestra em 2017, Bolsonaro afirmou que teve cinco filhos, sendo quatro homens. "Na quinta dei uma fraquejada e veio uma mulher." O deputado também foi denunciado no Supremo Tribunal Federal pelo crime de racismo contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs.

"Não foi exatamente isso que ele quis dizer. Tiram as frases dele do contexto para chamá-lo de misógino. É a esquerda que vitimiza as mulheres", disse Letícia. O youtuber Clovis Jr, conhecido nas redes como Smith Hays, se antecipou ao próximo tópico. "Sou gay e posso falar sobre essa questão LGBT." Ele culpa a mídia e acredita que as falas de Bolsonaro são constantemente editadas para prejudicá-lo.

Os ativistas falaram sobre o "preconceito" que sentem por defender Bolsonaro. A dona de casa Clau de Luca disse ter ouvido relatos de eleitores de Bolsonaro que não assumem publicamente o seu voto porque a mídia "demoniza" o presidenciável do PSL.

"Vejam o que aconteceu com (Donald) Trump (presidente dos EUA). Aqui vai ser a mesma coisa", afirmou Clovis Jr. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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