Pesquisa Uninassau aponta que 83% dos recifenses não se interessam por política

Apesar do desinteresse, levantamento mostra que 61% dos eleitores pretendem votar na próxima eleição
Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 29/07/2018 às 10:22
Apesar do desinteresse, levantamento mostra que 61% dos eleitores pretendem votar na próxima eleição Foto: Foto: Divulgação


Não ter interesse por política é a realidade de 83% dos recifenses e 76% deles preferem viver numa democracia, como mostra a Pesquisa Sentimentos do Eleitor e Eleições 2018 realizada pelo Instituto de Pesquisas Uninassau e divulgada pelo Jornal do Commercio e portal Leia Já. “Esse desinteresse é alto em pessoas de todos os extratos de renda, mas diminui um pouco nas pessoas que ganham acima de cinco salários mínimos, as classes média e alta”, explica o cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e um dos coordenadores do levantamento, Adriano Oliveira.

Entres os que ganham acima de cinco salários mínimos, 66% não têm interesse em política e 34% gostam do assunto. Esse último percentual é um dos mais altos. Além da renda, a escolaridade influi nessa preferência. Dentre os que têm curso superior, 39% se interessam pelo tema. É o maior percentual entre todos os subgrupos, que agregam as pessoas por sexo, grau de instrução, idade e renda familiar.

“É fácil explicar esse desinteresse porque a pesquisa mostra que 93% dos eleitores não admiram a classe política, que é rejeitada”, conta Adriano. O estudo aponta que 61% dos eleitores pretendem votar na próxima eleição e 30% não desejam ir às urnas. “Isso significa que a taxa de abstenção vai ficar em torno de 25% a 30% no Recife e também pode se falar nesse mesmo percentual no Brasil”, conta. E mesmo entre os 61% que vão comparecer às urnas, 37% desejam anular a votação. “Conquistar o voto é uma tarefa árdua nesta eleição, principalmente entre os eleitores com mais de 60 anos, porque 53% deles não têm intenção de votar”, revela Adriano.

A falta de interesse pela política anda paralelamente a um desconhecimento sobre o Legislativo, responsável pela elaboração das leis que regem a vida de todos os brasileiros. Entre os entrevistados, 36% informaram não saber o que é um Senador da República. E ao serem questionados sobre o que faz um político que ocupa esse cargo, as respostas foram: não sabem ou não responderam por 55,1%; faz as leis do País (18,1%); aprova as leis da Câmara (4,7%); roubar (4,7%); nada (5,4%), entre outras.

O Legislativo também não inspira confiança para 70% dos recifenses. “Isso reforça como será difícil pedir o voto particularmente para deputados”, argumenta. A pesquisa mostra que 20% dos eleitores concordam em fechar as casas do Parlamento (Senado, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas estaduais), caso os militares tomem o poder. “Isso reflete o descrédito da população com o Legislativo, que tem que mudar o seu comportamento. Também é relevante o fato que 62% dos eleitores não desejam que os militares voltem ao poder no Brasil”, argumenta.

E ao serem questionados se preferem viver num sistema ditatorial ou democrático, 76% dos recifenses optaram pela democracia. A pesquisa foi realizada no Recife com 480 entrevistas feitas no último dia 23 com pessoas acima de 16 anos. O nível estimado de confiança é de 95% e a margem de erro estimada em 4,5 pontos percentuais. A mesma foi registrada na Justiça Eleitoral com o número PE-00515/2018 no dia 20 de julho deste ano.

FELICIDADE

Mesmo ainda sentindo os efeitos da recessão, 69% dos entrevistados se consideram felizes e 19% muito felizes. “O eleitor se acostumou com a crise e não entende que o seu bem-estar depende apenas do aspecto econômico”, diz Adriano. Na pesquisa, 75% dos cidadãos acreditam que a sua vida vai melhorar, embora 49% admitam que a renda familiar continuou a mesma nos últimos anos e os ganhos diminuíram para 16% deles.

Ainda revelando os sentimentos do eleitor, 50% disseram estar felizes de morar no Brasil, enquanto 14% se consideraram infelizes por isso. No entanto, se tivessem uma oportunidade, 42% dos entrevistados sairiam do Brasil, contra os 48% que continuariam aqui. “Há uma desesperança da juventude com 62% dos jovens (entre 16 e 24 anos) querendo ir embora. Na medida em que a idade aumenta, diminui o interesse em morar no exterior”, revela.

E, somente para concluir, como já dizia o filósofo Platão: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.

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