Organizadores de protestos contra o governo Dilma Rousseff prometem levar milhares às ruas neste domingo (15).
Dentre os que organizam as manifestações contra o governo há jovens adeptos da cartilha liberal, empresários que pregam enxugamento radical do Estado e até defensores da intervenção militar. Eles esperam levar 100 mil às ruas.
Entidades próximas ao PT, como CUT, MST e UNE convocam outra manifestação, para a sexta (13). A convocatória do evento dá mais ênfase aos pontos contra o governo do que a favor.
Apesar de ensaiar -apenas no fim- que uma defesa de Dilma, ao dizer que "democracia pressupõe [...] respeito às decisões do povo, em especial as dos resultados eleitorais", o documento diz logo no início que é para "lutar contra medidas do ajuste fiscal que prejudicam a classe trabalhadora".
Especificamente contra as iniciativas que "restringem o acesso ao seguro desemprego, ao abono salarial, pensões por morte e auxílio doença", referindo-se às medidas provisórias que viraram projeto de lei.
A segunda parte do manifesto fala em defender a Petrobras, discurso que coincide com o do governo.
"Não tem nada de contraponto [às manifestações do dia 15]. Nem pensamos nisso", diz Vagner Freitas, presidente da CUT, lembrando que articula o protesto desde janeiro.
Dilma leva puxões de orelha no manifesto: "Se o governo quer combater fraudes, deve aprimorar a fiscalização; se quer combater a [...] rotatividade [do emprego], que taxe as empresas onde os índices de demissão são mais altos." Por discordar da crítica, Lula avisou que não vai.
AGENDA POLÍTICA
Petistas ouvidos pela reportagem atribuem o desgaste de Dilma ao abandono da agenda política pelo governo. Na avaliação destes interlocutores, o Planalto apresentou uma agenda em junho e prosseguiu com as políticas públicas, mas perdeu a comunicação com a população.
No governo, um ministro diz que a tensão nas ruas se deve ao fato de que "ainda não saímos de outubro", referindo-se ao período eleitoral. Dilma ganhou a eleição presidencial por uma margem apertada contra o tucano Aécio Neves (MG).
O maior protesto está previsto para a avenida Paulista, em São Paulo (região central da capital), em frente ao Masp. O mesmo local foi palco de manifestações em junho de 2013. Dirigentes petistas temem que o ato repita as manifestações daquele mês.
A principal preocupação é com São Paulo, onde se concentraram os protestos e reações ao PT e à presidente. Nas palavras de um aliado de Dilma, desta vez, em vez de "20 centavos", o sentimento de mudança está agora centrado no poder central.
O temor ocorre agora, após o panelaço do último domingo (8). Durante pronunciamento de Dilma em rede nacional de TV, houve buzinaço, panelaço e vaias em ao menos 12 capitais: São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitória, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia, Belém, Recife, Maceió e Fortaleza. Nas janelas dos prédios, moradores batiam panelas, xingavam a presidente, enquanto piscavam as luzes dos apartamentos.
Alguns petistas tentaram minimizar o panelaço e defendem nas redes que os protestos se concentraram em áreas nobres, onde estão localizados eleitores da oposição. No entanto, integrantes do governo e membros da cúpula petista avaliam a estratégia como "fraca e defensiva", ignorando o significado político da reação.