Executivos da Galvão Engenharia se contradizem em depoimentos

A empreiteira é investigada por suspeita de envolvimento no esquema de desvio de recursos em contratos da Petrobras
Da Folhapress
Publicado em 07/05/2015 às 9:30


Três executivos e um ex-presidente da Galvão Engenharia, empreiteira investigada por suspeita de participar de desvios de recursos em contratos da Petrobras, se contradisseram em depoimentos prestados à Justiça Federal, nesta quarta-feira (6).

Enquanto Dario de Queiroz Galvão Filho, que preside a holding Galvão Participações - à qual a Galvão Engenharia é subordinada -, Eduardo de Queiroz Galvão, membro do conselho de administração da holding, e Jean Alberto Luscher Castro, ex-presidente da Galvão Engenharia, disseram não ter conhecimento dos pagamentos de propinas a partidos políticos, o presidente da divisão de óleo de gás da Galvão Engenharia, Erton Medeiros Fonseca, afirmou que Dario e Jean tinham conhecimento do fato e argumentou que foram vítimas de extorsão.

No depoimento, Fonseca disse que não teria autonomia para tomar a decisão de pagar a propina sem a autorização de Dario. Declarou também que o assunto foi discutido numa reunião com o presidente da holding e com o presidente da empreiteira.

Dario, por sua vez, disse que a decisão de pagar a propina foi de Fonseca. "Eu não sabia. Se eu soubesse, não permitiria, de maneira alguma", afirmou Dario. "Veja a situação em que nós estamos hoje. A empresa acabou em recuperação judicial."

Segundo o executivo, Fonseca falou das propinas apenas em conversas posteriores ao início da Operação Lava Jato, e tratou do tema como se fosse "uma regra geral". Os pagamentos, segundo ele, foram pontuais, e não vinculados a contratos específicos.

Jean também negou a existência da reunião. "Desconheço isso, excelência, até porque ele [Erton] tinha autonomia total para contratar e pagar", afirmou ao juiz federal Sergio Moro.

Eduardo de Queiroz Galvão, por sua vez, negou que qualquer funcionário da Galvão Engenharia tenha tratado sobre pagamento de propinas com ele. "Nunca participei de reunião, não conheço o senhor Alberto Youssef e muito menos o deputado José Janene [PP-PR, morto em 2010]. Não faço nem ideia de quem seja", afirmou.

Dario, presidente da holding, ainda comentou que não quis demitir o executivo imediatamente, após saber dos fatos, porque Fonseca argumentou que pagou "por exigência dos partidos políticos".

"Isso não é obrigatoriamente, na minha avaliação, algo errado da parte dele. Ele disse que, se não pagasse, não recebia as faturas da empresa, os aditivos... Isso a gente precisa apurar", declarou.

Dario ficou sabendo, ao final do interrogatório, que havia sido autorizado a cumprir prisão domiciliar por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Chorou e disse que tudo aquilo "o constrangia demais".

"Eu nunca me envolvi com nenhum ato ilícito. Essa situação toda me choca muito", disse a Moro, após saber da decisão. Ele estava preso preventivamente havia quase 40 dias, e deixou a cadeia ainda na noite de quarta (6).

PRESSÃO

Fonseca também relatou no depoimento que, em 2011, o doleiro Alberto Youssef fez pressão para que a empresa não participasse de duas licitações do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) "para não atrapalhar" a construtora Odebrecht.

Segundo o executivo, Youssef dizia agir em nome do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Fonseca afirmou que chegou a questionar o ex-diretor sobre esse assunto, mas Costa negou estar envolvido no episódio.

Segundo o depoente, mesmo com a pressão, a Galvão Engenharia participou das licitações e perdeu as duas. Uma delas foi vencida pela Odebrecht, de acordo com Fonseca.

O executivo da Galvão Engenharia também disse que, em uma reunião, o deputado federal José Janene afirmou que Costa era um "serviçal" dele na Petrobras.

TAGS
lava jato Operação lava Jato Galvão Engenharia depoimento
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory